O agronegócio no Brasil passa por um momento de transição, quando o assunto é crédito. Com histórico fortemente ligado a recursos subsidiados, cada vez mais o setor privado tem participado do financiamento da atividade que responde por cerca de um quarto da atividade econômica do país.

A Inter Asset entrou nesse processo há um ano, quando montou o seu Fiagro. O retorno, somando a valorização da cota e os dividendos pagos aos investidores, é de quase 27% neste período.

Segundo Marianne Moraes, gestora de crédito privado da Inter Asset, o caminho escolhido foi seguir e respeitar uma estratégia que, nos primeiros meses, foi até difícil de sustentar junto aos investidores.

“Nós saímos com uma oferta de R$ 100 milhões, e acabamos captando R$ 53 milhões. Começamos com 2 mil investidores da nossa própria base de clientes. Levamos entre seis e sete meses para concluir a alocação dos recursos captados”, conta Moraes.

Esse tempo para direcionar o dinheiro levantado tem a ver com os critérios mais rígidos para a aprovação do crédito das empresas que fazem parte do portfólio do fundo.

A Inter Asset fez uma parceria com a gestora norte-americana Amerra, uma das maiores do mundo, que tem forte atuação no agronegócio brasileiro. São US$ 2 bilhões em operações no País, exclusivamente em dólar.

“Nós firmamos uma parceria em que a Amerra é a nossa consultoria, tanto em análise de crédito quanto na relação com os produtores rurais. Eles participam dos comitês de crédito, e a decisão final é da Inter Asset”, explica a gestora.

Com todo este trabalho de análise, o Fiagro da Inter Asset tem conseguido ir na contramão da média do mercado, que tem apresentado retornos negativos em um período de desafios, especialmente para os produtores de grãos.

“Nós analisamos cerca de 60 emissores para montar o fundo, e ficamos apenas com 14, que é o que temos hoje. Temos produtores, comercializadoras, usinas. Mas o processo de escolha é bem criterioso”, disse Marianne.

Ela afirma que o principal aspecto está nas garantias. “É um Fiagro de crédito, que aceita recebíveis com históricos sólidos como garantia. Não fazemos alienação de terras, porque tem a questão do enquadramento em ativo essencial para continuidade da produção, em caso de recuperação judicial”, explica.

Moraes conta que existem exceções, como no caso de empresas produtoras que têm áreas muito extensas, e que podem colocar uma parte destas terras para compor as garantias. “Uma empresa que tem 10 mil hectares de área, e coloca mil hectares na garantia, com a possibilidade de desmembrar a matrícula, é viável”.

Outro aspecto importante no IAAG11, código do fundo Inter-Amerra Fiagro, é a diluição dos riscos. Segundo Moraes, nenhuma empresa tem mais de 8% dos recursos alocados. “Nós também evitamos ser o único devedor dessa empresa”.

Na prática, essa diluição vai aumentar. Isso porque o fundo acabou de zerar sua posição em um Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA) da Minerva.

Com os recursos que entraram no caixa após a venda dos títulos, a ideia da gestora da Inter Asset é incluir mais duas ou três empresas no portfólio do Fiagro. “Mas sempre mantendo o padrão de qualidade. E com o retorno que temos conseguido para os investidores, não precisamos ter pressa”.

Planos para o futuro

A questão da qualidade do portfólio também é levantada por Moraes quando o assunto é o futuro do Fiagro da Inter Asset.

“Nós começamos com 2 mil cotistas, mas hoje já temos 7 mil. Há sim provocações sobre o futuro do nosso Fiagro, que é muito jovem. Mas não vamos abrir mão da qualidade do nosso produto”.

Ela afirma que é necessário inclusive fazer um trabalho de educação para o investidor, por conta das particularidades do agronegócio.

“O mercado ainda precisa de muita informação sobre o ciclo do agro, esses altos e baixos, os diversos segmentos. Mas é um setor que responde por quase um quarto da atividade econômica brasileira, e por isso, traz muitas oportunidades”, destacou.

A gestora da Inter Asset acredita que o mercado de crédito privado para o agronegócio vai seguir crescendo, mas passa por um ciclo de amadurecimento, algo que ocorreu também em outros setores da economia que começaram a acessar o mercado de capitais para se financiar.

“Além disso, estamos assistindo uma evolução no próprio agronegócio, com maior automação dos processos, adesão a novas tecnologias. Isso já tem ajudado inclusive a minimizar as perdas com intempéries climáticas”, complementa.