Consumidores que circulavam pela loja do Carrefour da região dos Jardins, bairro nobre de São Paulo, se depararam com uma movimentação atípica no final da tarde da última sexta-feira, 19 de abril: executivos do grupo e o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, posavam para fotos em uma gôndola com a placa “Floresta faz bem”.
O novo espaço que está sendo criado em três lojas do Carrefour – duas em São Paulo e uma em Brasília – traz ao todo 25 produtos de 15 fornecedores diferentes, todos produzidos pelo que o grupo chama de “comunidades tradicionais ou povos originários da Amazônia”, o que inclui indígenas e pequenos produtores da região.
“O Carrefour tem na sua estratégia, do próprio modelo de negócio, colaborar para uma alimentação saudável, o que inclui incentivar os próprios processos produtivos, ajudando a mudar a cadeia de alimentos”, afirmou Susy Yoshimura, diretora de sustentabilidade do Grupo Carrefour Brasil, em entrevista ao AgFeed.
A executiva disse que os produtos devem chegar a 50 lojas do Carrefour até 2026. Ela explicou que o projeto tem duas vertentes, sendo uma delas relacionada “ao que não se deve fazer”, como por exemplo, o combate ao desmatamento. Por outro lado, a empresa quer incentivar algumas linhas de produtos.
“Entra nessa agenda o fortalecimento de produtos da sociobiodiversidade, que fortalecem a economia da floresta de pé, que ajudem a compartilhar renda”, diz.
O papel do Carrefour foi viabilizar que estes produtos – são itens como café, castanha, chocolate e até um “super shake da Amazônia – chegassem a prateleira dos grandes centros. Para isso, alguns deles recebem uma espécie de subsídio para que o preço final ao consumidor ainda seja competitivo.
“A nossa margem ficou muito reduzida, praticamente nem paga os custos, fizemos isso para viabilizar e dar competividade”, destacou Yoshimura.
A produção é feita em menor escala, na região Amazônica, o que aumenta o desafio logístico para chegar aos grandes centros, por isso os produtores “não são tratados como qualquer outro”.
Para o CEO do Carrefour Varejo, José Rafael Vasques, os desafios de gerar lucratividade é uma questão de tempo. “Quando começamos a vender os produtos veganos e orgânicos era parecido com isso, porque eram mais caros, demorava para o cliente entender”, lembrou.
Ele diz que alguns dos produtos da Amazônia já estão com uma margem razoável e que, com tempo, os demais itens devem acompanhar. “Se fosse 10 anos atrás, seria mais difícil, mas agora será mais simples pra eles”.
Fundo de R$ 50 milhões
A diretora do Carrefour disse ao AgFeed que em breve deve divulgar como está a aplicação do “fundo de florestas” de R$ 50 milhões anunciado pela empresa em 2022.
Ela admitiu que parte dos recursos está relacionada ao projeto “Floresta faz bem”, já que alguns dos produtos expostos, por exemplo, que apresentam maior potencial de avançar no mercado, poderão receber aportes.
É o caso do Café Apuí, que estava em destaque em uma das prateleiras, da empresa Amazônia Agroflorestal, que fica no estado do Amazonas.
A executiva também contou que em breve vai estabelecer “alianças multissetoriais” com foco em práticas regenerativas na agropecuária.
Na época em que o fundo foi anunciado pelo Carrefour, a empresa informou que pretendia, entre as medidas que seriam adotadas, reduzir os volumes de fornecimento de carne bovina oriunda de “áreas críticas” em 50% até 2026 e 100% até 2030.
Ao AgFeed a diretora informou apenas que pretende aplicar a totalidade dos recursos (R$ 50 milhões) até 2026.
Outra estratégica do Carrefour é estimular os alimentos com apelo ligado à sustentabilidade “da demanda para a oferta”, para que o consumidor se sinta estimulado a adquirir estes produtos.
Apoio do ministro
Na “inauguração” das gôndolas de produtos da Amazônia, o ministro do Desenvolvimento Agrário Paulo Teixeira disse já marcou reuniões com entidades como a Abras – Associação Brasileira de Supermercados – para discutir a ampliação da iniciativa a outras redes de supermercados.
“Eles estão comprando produtos da agricultura familiar, da floresta, e pagando preço a vista, pelo valor de mercado, às vezes até assistindo os agricultores, o que abre uma nova oportunidade de comercialização”, afirmou Teixeira.
Ele lembrou que, apesar de ter uma ampla gama de produtos, uma das maiores dificuldades da agricultura familiar sempre foi o “como e onde vender”.
“Fiz questão de vir aqui para ver como eles implementaram na prática, o Carrefour saiu na frente, mas queremos que eles repliquem em todas as suas redes, não só Brasil, mas na Europa também. E que possam trazer as demais empresas essa mesma proposta”, acrescentou.
O ministro também disse que pretende pedir apoio dos supermercados para colocar o selo da agricultura familiar nos produtos e considera necessário que “o consumidor que está preocupado com a Amazônia ou em ajudar os pequenos, seja estimulado a comprar estes produtos”.
Sobre o Plano Safra da Agricultura Familiar, que deve ser anunciado até junho, ele adiantou ao AgFeed que desta vez vai “embutir assistência técnica e formas de ajudar o pequeno e a cooperativa a acessar o crédito”. Além disso, deve contemplar mecanismos de incentivo a compra de máquinas e equipamentos para a pequena propriedade, “porque a mecanização é muito baixa”, afirmou.
Ele destacou a recente criação de um grupo de trabalho que está alinhando os detalhes do que será chamado de “Desenrola Rural”, um programa de renegociação de dívidas.
“Quando sair o Plano Safra, queremos que todos tomem credito, para isso eles precisam estar com o nome limpo”, evitando dar detalhes sobre o plano.