Dentre as gigantes de fertilizantes globais, a norueguesa Yara busca acelerar com intensidade sua agenda verde. Para atingir sua grande meta de neutralizar as emissões de carbono até 2050, a empresa tem feito uma série de investimentos para ampliar sua oferta de matérias-primas sustentáveis.

Globalmente, a empresa criou plantas de produção de amônia verde. Nos EUA, a unidade recebeu investimentos de US$ 4 bilhões e, por aqui, a empresa iniciará sua produção do insumo na sua planta de Cubatão (SP) nos próximos meses.

Para além de utilizar essa amônia na produção própria de fertilizantes, nesta semana, o primeiro acordo comercial de compra deste produto foi firmado com uma multinacional.

A Ajinomoto, companhia japonesa e referência mundial em aminoácidos, vai comprar 600 toneladas de amônia verde no primeiro ano e deve receber a primeira carga nos últimos meses de 2024.

O produto será utilizado na fábrica da empresa em Limeira (SP). Renata Ferrari, gerente de descarbonização da Yara, considera esse acordo como um piloto, ainda pequeno em quantidade.

“O próprio mercado de biometano está começando a se desenvolver. Nós fomos o primeiro player do segmento de químicos para utilizar essa amônia verde industrialmente e nossa ideia é, futuramente, produzir fertilizantes de baixa pegada de carbono”, afirma.

Ferrari afirma que a amônia verde produzida em Cubatão deve trazer uma pegada de carbono 60% menor que a da amônia tradicional.

A Ajinomoto é uma multinacional com presença em 34 países, 116 fábricas espalhadas e mais de 30 mil funcionários. No Brasil, são 3 mil empregados, com atuação forte no que Janaína Padoveze, gerente de Sustentabilidade da Ajinomoto do Brasil, chama de “aminoscience”.

Além de vender aminoácidos para outras indústrias, a empresa atua forte no B2C, com temperos prontos como o Sazón, e também no mercado de fertilizantes para o agro, que são produzidos através de resíduos dos outros produtos.

No ano passado, a operação global da Ajinomoto faturou US$ 9,9 bilhões. No Brasil, a receita bateu R$ 3,3 bilhões.

Do lado da empresa de origem japonesa, a compra do insumo verde está em linha com as metas de sustentabilidade da empresa, que planeja reduzir em mais de 50% suas emissões e ter uma cadeia de matérias-primas 100% sustentáveis ou de menor impacto ambiental até 2030.

Para além disso, a Ajinomoto tem uma meta de tornar seus produtos finais mais nutritivos, de modo a estender a expectativa de vida saudável da população.

“O projeto piloto com a Yara tem tudo a ver com esse futuro. Olhamos para dentro da operação e vimos uma grande oportunidade para ser pioneiro nesse tipo de parceria”, afirmou Padoveze.

Do lado da Yara, ajuda a começar a destravar um mercado de muito potencial. Segundo Ferrari, a produção da amônia com menor impacto ambiental surgiu a partir de uma oportunidade de comprar biometano, um gás natural de origem renovável, da Raízen, através dos resíduos da produção sucroenergética.

O biometano produzido na usina é transportado com rastreabilidade via dutos até Cubatão, onde a Yara, que é um dos maiores consumidores de gás do estado de São Paulo, produzirá a amônia verde.

O produto final ruma até Limeira e, segundo Janaína Padoveze, as 600 toneladas de amônia serão utilizadas como matéria-prima nos processos fermentativos dentro da Ajinomoto. “A função da amônia é de controlar o pH para produção de aminoácidos”, explica.

Esses aminoácidos são utilizados em diversas linhas de produtos da empresa japonesa, como nos segmentos alimentícios, cosméticos, farmacêuticos e de nutrição animal. Além disso, também vira um fertilizante feito pela própria Ajinomoto.

Janaína Padoveze ressaltou que a ideia da empresa é aumentar o volume de amônia verde comprada nos próximos anos. Tudo depende, contudo, da escalada da produção por parte da Yara.

A gerente de descarbonização da empresa norueguesa afirmou que, hoje, o volume de biometano comprado pela Yara beira as 5 mil toneladas por ano, pouco representativo dentro da demanda de gás que a empresa possui.

“Acreditamos que a parceria pode impulsionar a pauta no país e abrir portas para expandirmos os planos da empresa em Sustentabilidade, inclusive ao escalarmos ano a ano. É uma questão de tempo para o crescimento do uso da amônia renovável em todo mundo, e já saímos na frente em 2024”, reforça Padoveze.