Às vezes, para olhar o que vem pela frente, é preciso dar um passo para trás. É o que está fazendo Antonio Borges, fundador e CEO da startup PlantVerd.
Fundada há 10 anos, a empresa vinha crescendo com sua atuação em serviços de recuperação de parques e outras grandes áreas verdes. A expertise adquirida fez com que ele e os três sócios decidissem, no entanto, que era hora de voltar os olhos para os novos mercados, com potencial ainda maior. Mesmo que isso significasse conviver com uma queda no faturamento para fazer a transição.
Nos últimos três anos, segundo Borges, a empresa saltou de uma receita de R$ 7 milhões para os R$ 32 milhões registrados em 2022. “Este ano, devemos fechar com receitas entre R$ 20 milhões e R$ 23 milhões, com essa mudança de rota”.
O novo caminho segue em direção ao emergente mercado de créditos de carbono, que surge como uma solução financeira para minimizar os problemas ambientais globais. A PlantVerd espera participar ativamente dele colocando em prática a atuação em um projeto para transformar áreas rurais degradadas em florestas, chamado de Ativo Verde.
“Só no estado de São Paulo, são 800 mil hectares, pertencentes a empresas ou produtores agrícolas, que podem ser transformados em florestas e gerar receita para o agronegócio”, conta Borges. Os dados são da Secretaria de Agricultura do estado de São Paulo, e se referem a Áreas de Proteção Permanente (APPs) e a Reservas Legais.
Atualmente, a PlantVerd contabiliza cerca de 3 mil hectares de florestas recuperadas, com 3 milhões de mudas plantadas. “O potencial ainda é muito grande. E por enquanto, estamos olhando só para São Paulo”, diz Borges.
Na prática, o projeto consiste em a PlantVerd se tornar a responsável pela área a ser reflorestada, e a partir daí, passar a gerar créditos ambientais que serão convertidos em dinheiro para os donos destas terras.
Borges trabalha também na criação e regulamentação de um novo tipo de instrumento de compensação ambiental, o crédito de biodiversidade.
A certificação de projetos que promovem a biodiversidade em uma área existe desde 2013. Mas a ideia da PlantVerd e outros agentes de mercado é que o crédito para este fim funcione de forma parecida com o de carbono, já disseminado.
“Acredito que tenhamos isso regulamentado e disponível em um ou dois anos. Não será tão grande como o crédito de carbono, porque há uma emergência em se tratar das mudanças climáticas. Mas acredito que também será importante, principalmente porque cuida também da fauna daquela área”, diz o CEO da PlantVerd.
Ele afirma que o projeto Ativo Verde quer trazer ao produtor rural uma compensação prática por cuidar de uma área que está dentro da sua propriedade.
“Hoje, o produtor enxerga isso como um custo. E também há uma resistência em tratar a preservação ou recuperação de uma área florestal como negócio. Estamos tentando quebrar esses conceitos”, diz Borges.
Essa quebra passa também pela visão de investidores. O executivo conta que a PlantVerd está em conversas para receber um aporte. “Estamos conversando para levantar um valor entre R$ 5 milhões e R$ 10 milhões, com um sócio do mercado financeiro”.
Visão social
Ao defender uma visão de preservação ambiental como negócio, Borges afirma que era importante dar atenção especial às políticas voltadas para as pessoas.
Atualmente, a PlantVerd tem 140 funcionários, dos quais 35 são ex-presidiários com sentença cumprida ou que respondem a processos criminais.
“Essa é uma parte muito importante do negócio, porque tem um impacto direto na sociedade. Estamos empregando pessoas que provavelmente voltariam ao crime, e com salário digno, para que elas tenham condições financeiras de não retornar à marginalidade”, diz.
Ele conta um caso em que a esposa de um colaborador se envolveu em um confronto com uma supervisora da empresa e a ameaçou de morte.
“Eu disse que ele seria demitido e que, se ela cumprisse a ameaça, teria que demitir todos os egressos. O casal mudou de postura na hora, contando que outras pessoas ainda presas falavam em trabalhar conosco quando saírem”, conta Borges.
A PlantVerd tem mais dois projetos que envolvem as famílias destes egressos. A empresa escolherá cinco funcionários para terem suas casas totalmente reformadas, numa primeira etapa.
O outro projeto envolve uma bolsa para estimular os filhos dos colaboradores a continuarem os estudos, com monitoramento de presença.