Não é difícil imaginar o potencial do mercado de créditos de carbono para empresas e produtores rurais brasileiros. Com 20% da biodiversidade mundial, cerca de dois terços do território coberto por vegetação nativa e um número crescente de propriedades rurais praticando a chamada agropecuária de baixo carbono, o País tem tudo para se tornar um protagonista nas transações relacionadas a ativos ambientais.
“O Brasil pode e deve se posicionar como potência nesse mercado”, afirma Luiza de Vasconcellos, head de Negócios ESG do Itaú BBA. “Enquanto isso, há muito trabalho a ser feito para se construir as condições para que esse mercado seja de fácil acessível a todos”.
Com mais interrogações do que negócios na mesa, o debate em torno dos negócios em torno da descarbonização é urgente. Nesta quinta, 25 de maio, o Itaú BBA promoveu evento em São Paulo, em parceria com a gestora Good Karma, especializada em investimentos de impacto, para discutir desafios e oportunidades que estão (ou podem vir a estar) na mesa.
“Ainda estamos muito atrás de outros países no que diz respeito ao estabelecimento de um mercado regulado. Ainda temos de criar as condições viabilizadoras pré-mercado”, afirmou, em um dos painéis, Annelise Vendramini, professora especialista em Desenvolvimento Sustentável da FGV-SP. “Nossas leis são bem avaliadas internacionalmente, mas precisam ser implementadas em sua totalidade e isso vai demorar se não houver mobilização da sociedade”, disse.
No Itaú BBA, a orientação é estar ativo desde já, trabalhando nas oportunidades já oferecidas com a descarbonização dos negócios e se posicionando para estar na ponta quando o mercado de créditos de carbono estiver devidamente regulamentado.
“Estamos olhando de forma integrada para as oportunidades”, afirma Luíza. “Essa é uma pauta transversal no banco, não apenas de um setor. Queremos ser o one stop shop na jornada de descarbonização dos nossos clientes”.
Nesse sentido, nos últimos anos, o Itaú BBA tem feito investimentos em iniciativas em diferentes frentes, seja da originação à comercialização de créditos de carbono, muitas vezes em parceria com empresas ou até mesmo outros bancos.
É a única instituição brasileira, por exemplo, a integrar o Carbonplace, espécie de consórcio que une nove bancos globais. Criado em março passado, com US$ 45 milhões, tem o objetivo de funcionar como uma bolsa para comercialização de créditos de carbono.
“Aqui, poderemos ter a visão ampla do mercado, saber quem está vendendo e comprando, além de criar um abiente que elimine intermediários, fazendo os recursos chegarem diretamente ao produtor rural que gerou esses créditos”, afirma.
Em outra iniciativa, a Biomas, os parceiros são de outros segmentos, mas igualmente poderosos. Vale, Marfrig, Suzano, Rabobank e Santander investiram na empresa, cujo foco é atuar na restauração e reflorestamento de áreas degradadas, gerando créditos aos seus proprietários.
“Vamos sempre estimular parcerias com empresas de vários segmentos em busca de soluções”, diz Luíza. “Queremos poder ajudar nosso cliente a entender onde está e o que precisa fazer para reduzir suas emissões e sua pegada de carbono, além de tirar proveito dessas oportunidades que começam a se apresentar”.
Um dos pontos de atenção no banco atualmente é buscar metodologias que possam contribuir com a mensuração de emissões e sequestro de carbono em propriedades rurais.
Nos últimos meses, a equipe de negócios ESG mapeou empresas em todo o mundo que desenvolvem projetos com tecnologias nessa área. Duas delas – uma brasileira e outra europeia – foram selecionadas para uma fase de testes, realizados em propriedades de clientes da área de agronegócio do banco.
Em um primeiro momento, de acordo com Luíza, a ideia é verificar a aderência das metodologias e seus resultados. Uma segunda etapa dos pilotos vai entender se elas são escaláveis, podendo ser aplicadas para a geração de negócios.
Se projetos como esse ainda devem demorar para se transformarem em serviços oferecidos aos clientes, na prateleira do Itaú BBA produtos que financiam a transição dos produtores rurais para uma agropecuária de baixo carbono já são realidade.
Luíza destaca, por exemplo, o Reserva Legal+, que oferece condições especiais para financiar a recomposição de reservas nas propriedades rurais. Lançado em 2021, foi o primeiro fruto da plataforma de produtos verdes do Itaú BBA.
Mais recentemente, o banco lançou também uma linha de crédito específica para a aquisição de bioinsumos, outra tendência que deve se acelerar no campo.