A gigante global de defensivos e sementes Bayer anunciou mais um passo no programa que pretende ajudar na “descarbonização” na agricultura brasileira.
Depois de apresentar em maio a primeira versão da calculadora tropical, resultado de uma parceria da empresa alemã com a Embrapa para a produção de soja de baixo carbono, chegou a vez da segunda maior cultura do Brasil – o milho.
A calculadora serve para mensurar a quantidade de carbono ao longo de toda a cadeia produtiva.
Na safra 2023/2024, a empresa vai medir, com alguns produtores, o quanto de carbono é emitido para a atmosfera durante a colheita de milho. A mensuração acontece desde antes do plantio, já na escolha dos fertilizantes, passando pelo tipo do manejo, e vai até a chegada dos grãos na trading.
A objetivo é saber o quanto de carbono é emitido em cada fase e, a partir disso, orientar como o produtor pode mudar algumas práticas, para gerar menos emissões.
“A expectativa é ser cada vez mais assertivo no cálculo de carbono para representar a realidade do produtor. Estamos rodando a campo a nova versão da calculadora e já começamos a coletar os dados novamente”, explicou Renata Ferreira, líder de viabilizadores de negócios de carbono & certificações para a América Latina na Bayer.
Com a calculadora e com as ações criadas a partir disso, segundo a empresa, a soja passou de uma emissão média de duas toneladas de carbono emitida para uma tonelada colhida para algo em torno de 900 kg por tonelada. Nos casos mais significativos, a emissão caiu para quase 500 kg.
Com as melhorias na calculadora, a expectativa da Bayer é reduzir essa média de 900 kg para 650 kg. “Ainda precisamos entender o quanto de fato vamos conseguir implementar em termos de mudanças no campo para verificar o resultado das intervenções”, complementa Ferreira.
Nos resultados da colheita de soja que utilizou a primeira versão da calculadora, que foi apresentada a jornalistas em Matupá-MT este ano, a parceria envolveu, além da Bayer e da Embrapa, propriedades do Grupo Bom Futuro e a trading ADM.
A nova versão, chamada de Footprint PRO Carbono 2.0, além de conseguir medir a emissão na cadeia do milho, também trouxe melhorias para a soja.
Renata Ferreira explicou que, depois da primeira versão pronta, a equipe de cientistas da Bayer passou por uma espécie de crivo com alguns especialistas da Europa e da América Latina no assunto, que sugeriram mudanças para melhorar a tecnologia.
Dentre as novidades, a Bayer passou a olhar para aspectos do plantio que também emitem CO2 como irrigação e eletricidade. “Fazemos análise de sensibilidade daquilo dentro da pegada total”.
Além disso, a calculadora agora consegue mensurar a emissão de fertilizantes orgânicos, algo que a empresa percebeu que uma quantidade relevante de agricultores usava.
Outro aspecto que foi melhorado é a mudança do uso da terra. Até então, a calculadora utilizava as métricas do BRLUC 2.0, da Embrapa, e considerava dados do município sobre essa mudança da terra.
“Agora usamos imagens de satélite para calcular o dado específico de cada agricultor. Conseguimos avaliar tudo que aconteceu naquele local específico nos últimos 20 anos”, completa Ferreira.
A expectativa com isso é ter mais clareza da real pegada. A calculadora 2.0. também considera a umidade na emissão, já que a pegada é calculada por tonelada de soja, e a quantidade de água existente impacta no peso da colheita, o que pode alterar o resultado final. Agora a calculadora consegue olhar para a matéria seca, informou a executiva.
O resultado final da primeira calculadora considerava as emissões a campo, da mudança do uso da terra e a pegada de carbono dos insumos e dos transportes. Agora, o resultado total está dividido em biogênicas e não biogênicas, além de trazer a pegada da secagem.
“Deixamos mais discriminada a emissão a campo para o agricultor entender as variáveis que impactam mais o uso da pegada e o que ele pode corrigir. No campo, muitas vezes tínhamos emissões que o agricultor não entendia onde mudar”, completou a executiva.
De acordo com Fábio Passos, diretor do Negócio de Carbono da Bayer para a América Latina, os avanços fazem parte do compromisso da empresa com o enfrentamento dos desafios de mudanças climáticas e de segurança alimentar, além de refletir a importância do trabalho em conjunto com parceiros na construção de uma agricultura regenerativa.
“Entendemos que é necessária uma transformação dos sistemas agrícolas atuais, abrindo caminho para uma maior adoção de práticas de agricultura regenerativa, que permitam produzir mais, com menos recursos e regenerando mais os ecossistemas”, afirma Passos.
Para a próxima safra, a expectativa é trazer versões da calculadora para o algodão e para a cana. Nesse caso, os desafios são um pouco maiores, já que a soja e o milho são plantas com características próximas.
No algodão, por exemplo, existe o processo de beneficiamento, onde o produto vira fibra ou caroço. Na cana-de-açúcar, a cultura é diferente, pois não é anual como a soja e o milho.
“Passamos pela validação da primeira calculadora, e na nova versão também vamos passar pelo mesmo painel que nos avaliou. Vamos entender se as melhorias foram feitas da melhor forma e se existe outro elemento a mudar. A ideia é sempre estar no processo de evolução contínua”, finalizou Renata Ferreira.