De olho nas oportunidades da transição energética e das políticas de descarbonização nos Estados Unidos, a Eco-Energy, braço norte-americano da Copersucar, a maior comercializadora de álcool e açúcar do Brasil, está ampliando seu programa voluntário de emissão de créditos de carbono, o Transport Emission Reduction Certificate (TERC).
A iniciativa, que antes abarcava apenas a produção de etanol, agora passou a incluir certificados relacionados à produção de biodiesel e diesel renovável.
O projeto da companhia norte-americana lembra o programa brasileiro RenovaBio, no qual a Copersucar é uma das principais participantes.
O objetivo, assim como no Brasil, é incentivar a produção de combustíveis renováveis nos Estados Unidos, o maior produtor de etanol do mundo, segundo a Renewable Fuels Association.
A iniciativa almeja também reduzir as emissões de gases de efeito estufa do setor de transportes, responsável por 28% do total emitido no país.
Nesse contexto, o etanol de milho americano, cujas emissões chegam a ser 52% menores do que as da gasolina, de acordo com o Departamento de Energia dos Estados Unidos, desempenha um papel fundamental.
“Essa nova opção foi uma resposta à necessidade dos nossos compradores por estratégias de redução de carbono focadas no transporte rodoviário, além da solução de etanol do TERC”, afirmou Brian Simpson, diretor de marketing da Eco-Energy, em nota.
A diferença entre o programa brasileiro e a iniciativa norte-americana está no fato de que, no RenovaBio, os distribuidores são obrigados a comprar uma quantidade mínima de créditos de descarbonização, os CBIOs, gerados pelas empresas de biocombustíveis.
Já o programa da Eco-Energy opera no mercado voluntário de carbono, sem obrigatoriedade legal de aquisição dos títulos.
Nos Estados Unidos, o programa Low Carbon Fuel Standard (LCFS), vigente na Califórnia, inspirou o RenovaBio e visa reduzir em cerca de 20% a intensidade de carbono dos combustíveis consumidos no estado até 2030.
A proposta da Eco-Energy é que seus certificados interajam com o LCFS, mas possam ser utilizados em outras regiões do país, já que cada estado norte-americano adota sua própria legislação.
O sistema inclusive segue a lógica já conhecida dos créditos de carbono: cada TERC representa 1 tonelada de CO2 equivalente, considerando todo o chamado "ciclo de vida" do combustível, do poço à roda.
Os certificados, gerados pelos produtores de biocombustíveis, são vendidos a empresas com alta pegada de carbono no transporte e que buscam reduzir suas emissões.
Os títulos são negociados na plataforma de créditos de carbono Xpansiv, onde são individualizados e serializados para evitar duplicidades.
Empresas interessadas adquirem os certificados sem a necessidade de compra física do combustível, podendo reivindicar o ganho ambiental, o que contribui especialmente para mitigar emissões do escopo 3, que inclui fontes indiretas, como cadeias de suprimentos e consumidores finais.
Mas, ao contrário do que pode parecer, não se trata de uma compensação de carbono, que geralmente envolve projetos específicos de conservação e restauração florestal e são financiados através da compra de créditos.
No momento, duas usinas de etanol nos Estados Unidos já emitem os certificados, segundo a Copersucar, e outras três unidades estão em processo de validação e cadastro.
Segundo dados da plataforma Xpansiv, já foram emitidos 106,9 mil TERCs a partir da produção de etanol de milho das usinas das empresas Heron Lake BioEnergy e Granite Falls Energy, ambas do Minnesota.
Os certificados para diesel renovável estão em desenvolvimento e devem chegar ao mercado no primeiro trimestre de 2025, segundo a Copersucar.
A companhia, no entanto, não divulgou à reportagem os valores envolvidos, o preço dos créditos ou a receita estimada com o projeto.
“Esta iniciativa da Eco-Energy com os TERCs, além de inovadora, representa um importante passo da companhia para viabilizar soluções efetivas ao mercado, alinhadas ao compromisso da Copersucar de contribuir com soluções em escala para a transição energética e a segurança alimentar no mundo”, afirmou Tomas Manzano, presidente da Copersucar e também do conselho de administração da Eco-Energy.
A Eco-Energy, adquirida pela Copersucar em 2012, possui cerca de 10% do mercado americano de etanol e atua na comercialização de etanol de milho, gás natural e projetos de energia solar.