Parece algo simples, mas a espécie de “mochilinha” que está acoplada nos bovinos Angus da foto acima tem uma importância mundial para os esforços de combate às mudanças climáticas.

O Brasil se comprometeu em reduzir em 30% as emissões de gases causadores do efeito estufa e, segundo a Embrapa, 76% do metano emitido no País vem da agropecuária, sendo 90% oriundo da fermentação entérica dos bovinos.

Neste cenário, a pecuária moderna, cada vez mais produtiva e sustentável, tem como um dos seus desafios reduzir essas emissões. E uma das raças mais conhecidas no País quando o assunto é carne de qualidade é o exemplo disso.

Desde 2022, a Associação Brasileira de Angus, que representa os criadores de bovinos da raça, vem participando de uma pesquisa para mensurar as emissões de metano dos animais.

O projeto é feito em parceria com a Embrapa Pecuária Sul, que já fazia os testes de eficiência alimentar da raça há alguns anos, e depois acrescentou esta nova modalidade, a chamada PEG – Prova de Emissão de Gases – na avaliação de touros Angus.

No primeiro ano foram avaliados 21 animais. Em 2023 os testes totalizaram 25 exemplares e, este ano, a expectativa é medir os gases de 27 bovinos.

“Nosso objetivo é buscar cada vez mais dados para tirar conclusões mais assertivas, sabemos que há uma grande diferença entre os animais, e precisamos identificar aqueles que tem a melhor eficiência alimentar e a correlação com a baixa emissão de gases”, explicou Mateus Pivato, gerente de fomento da Angus, em entrevista ao AgFeed.

A responsável pelo trabalho na Embrapa Pecuária Sul, Cristina Moraes Genro, diz que a prova ajudará, ao longo do tempo, a identificar a importância da genética na busca desta característica de menor emissão de metano.

“Como já imaginávamos, constatamos que existe forte relação entre eficiência alimentar e emissão de metano. Quanto mais eficiente for o animal em produzir ganho de peso, menor é o custo ambiental, e menor é o gasto de metano pra produzir esse ganho de peso”, explicou a pesquisadora.

Nos resultados de 2023, por exemplo, constatou-se que o animal de melhor desempenho emitiu cerca de 100g de metano por kg de peso vivo produzido. Já o pior chegou a 700 g de emissão, mas a grande maioria oscilou em torno de 300g de metano.

Não há um índice bom ou ruim já que a Embrapa não faz comparação entre raças. A importância do trabalho é que, quando centenas de animais já tiverem sido testados, será possível criar o que na pecuária se chama de DEP – Diferença Esperada da Progênie – específico para o tema metado.

Dessa forma, o trabalho de melhoramento genético, que hoje já ocorre ao se buscar melhores reprodutores, animais que produzem carne de melhor qualidade, precocidade, entre outras características, também poderá ser estendido a esse tema relacionado a questão ambiental.

Mateus Pivato lembrou que um trabalho semelhante foi concluído no ano passado quando a Angus lançou o DEP relacionado a eficiência alimentar. “Foram mais de 500 exemplares avaliados para chegar a estes indicadores, que definem a eficiência no aproveitamento dos nutrientes dos alimentos”.

A prova sobre as emissões de metano é feita na sequencia da prova de eficiência alimentar, que segue sendo realizada pela Angus, com a Embrapa.

Neste terceiro ano, a Prova de Eficiência Alimentar (PEA) da Associação Brasileira de Angus começa no dia 23 de abril e vai avaliar 27 touros, de 15 propriedades rurais, dos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.

Pivato explica que durante 45 dias é medido quanto cada animal consumiu de alimento e quanto ganhou de peso. Somente depois vem a etapa da PEG, com foco no metano.

Os touros que participam da PEA são equipados com arreios (as “mochilinhas”) contendo dispositivos para coleta de metano. Durante cinco dias, eles coletam amostras de ar ruminal, que depois são enviadas para análise em laboratório, onde o metano que foi liberado pelo reprodutor é quantificado.

Segundo a pesquisadora da Embrapa, todos os animais são submetidos ao mesmo tipo de ambiente, tem a mesma genética e recebem a mesma alimentação. “Com o banco de dados que estamos formando chegaremos aos índices para fazer o melhoramento genético”.

Em artigo recente, a Embrapa destacou que estudos já realizados concluíram que a adoção de estratégias como o manejo adequado do pasto é capaz de mitigar entre 22% e 35% a emissão de metano. Já manipulação da fermentação ruminal com o uso de maior nível de proteína e concentrados e o melhoramento da dieta animal poderiam mitigar entre 10% e 20%.

O maior potencial, no entanto, estaria justamente no melhoramento genético animal, que pode reduzir em até 38% as emissões de gases dos bovinos.

Os touros que participaram da PEA são equipados com arreios contendo dispositivos para coleta de metano. Durante cinco dias, esses equipamentos permanecem nos animais, permitindo a coleta de amostras de ar ruminal. Posteriormente, essas amostras são enviadas para análise em laboratório, onde o metano que foi liberado pelo reprodutor é quantificado.

"Ao unir inovação e pesquisa, estamos desenvolvendo soluções que não só contribuem para um mundo melhor, mas também impulsionam o da pecuária de forma responsável. Este projeto representa um passo significativo na busca por práticas agrícolas mais sustentáveis e eficientes", destacou Mariana Tellechea, presidente da Associação Brasileira de Angus, que já havia mencionado a iniciativa em entrevista exclusiva ao AgFeed, no ano passado.