Filha e neta de produtores rurais do interior de São Paulo, a atual diretora de Relações Institucionais da Bayer, Francila Calica, é o exemplo do foco e da versatilidade das mulheres na área profissional, especialmente no agro.
"Antigamente nem se cogitava uma sucessão familiar que passasse o comando das fazendas para uma mulher”, ela conta. “Foi assim com as minhas tias, por exemplo. Nos mudamos para Goiás quando eu ainda era criança porque o meu pai era o único que podia assumir os negócios que meu avô havia iniciado por lá”, disse a executiva ao AgFeed.
Neste cenário, Francila acabou decidindo também não fazer a sucessão e se formou em jornalismo. Chegou a trabalhar na profissão, mas com o perfil rural do estado de Goiás o destino aos poucos trouxe o agronegócio de volta ao seu dia a dia.
Assumiu a área de comunicação da Faeg, Federação de Agricultura e Pecuária de Goiás, onde estabeleceu uma relação cada vez mais próxima dos produtores rurais – um caminho sem volta.
"Foram quase 10 anos na Faeg, onde trabalhei até 2014, e mesmo nessa época eram poucas mulheres. Os líderes de sindicatos rurais eram homens e ainda se via aquela mesma história de que mulher não era para estar nestes cargos de tomada decisão”, conta.
Na opinião de Francila Calica, o jogo realmente começou a mudar, ou seja, o movimento de valorização das mulheres do agro foi iniciado para valer há cerca de 6 anos.
"A evolução veio com a nova geração, a millenium , que significou mais mulheres tendo espaço nas propriedades. Coincidiu também com o surgimento dos movimentos organizados, de cinco anos pra cá, em vários estados, com comissões femininas ligadas às entidades ou mesmo independentes" ressaltou Calica.
Francila Calica ingressou no mundo corporativo e virou executiva do agronegócio há 6 anos, depois de passar por empresas de comunicação do setor e ser até “deputy media manager” local nas Olimpíadas do Rio de Janeiro em 2016.
Ela começou pela Monsanto, que depois foi adquirida pela Bayer. Na empresa acompanhou não apenas as estratégias internas com foco na diversidade e questão de gênero, mas também na abordagem que estava sendo feita junto aos clientes.
"O relato mais comum que a gente ouvia era de mulheres que assumiram porque o pai faleceu, por exemplo, tiveram que se virar, não havia uma sucessão estruturada”, diz.
A diretora da Bayer conta que a empresa fez pesquisas justo a este público e percebeu que, enquanto empresa líder de mercado, precisava contribuir de alguma forma.
Foi criado um projeto chamado de “Conexão Mulheres”, que reuniu algumas das ações que Bayer e Monsanto já tinham previamente e definiu quatro linhas de trabalho. Uma delas tinha foco em dar mais voz a este público e outra com objetivo em fornecer mais ferramentas para que elas alcançassem melhores resultados, com base na pesquisa e inovação.
O terceiro pilar foi fortalecer o prêmio Mulheres do Agro, iniciativa que já existia desde 2018, para seguir dando reconhecimento a este público.
A última missão do projeto é conectar o agro com a cidade. As pesquisas mostraram que as mulheres tinham maior habilidade em construir pontes de diálogo com a sociedade como um todo e, ter mais presença delas em evento externos, por exemplo, poderia ser benéfico para todos os elos da cadeia.
Francila Calica é a prova de que este diagnóstico de que as mulheres estabelecem melhor o diálogo também está sendo colocado em prática na própria Bayer.
No período de Monsanto, ela foi gestora de crises e cuidou do relacionamento com a imprensa. Depois disso assumiu a comunicação corporativa e, mais recentemente, foi promovida ao cargo de diretora de Relações Institucionais.
A tarefa do do cargo é justamente dialogar com as principais associações de produtores rurais, e outras esferas políticas e da cadeia do agro que precisam atuar em conjunto com a empresa.
Dentro da Bayer também tem crescido a participação de mulheres. A atual CEO, Malu Nachreiner, assumiu o cargo em 2021. No segmento agro a participação de mulheres está em 35%, mas o objetivo é chegar a 50% dos cargos de gestão da companhia até 2030.
Prêmio Mulheres do Agro
A sexta edição do Prêmio Mulheres do Agro, realizado pela Bayer em conjunto com a Associação Brasileira do Agronegócio (Bayer) está ganhando uma nova categoria, chamada “Ciência e Pesquisa".
Francila Calica explica que a empresa vinha sendo cobrada para incluir o reconhecimento a outras categorias profissionais que também são fundamentais para o sucesso do agro.
"Sabemos que há consultoras, comunicadoras... As mulheres estão presentes em diversas atividades, mas como a Bayer tem foco em pesquisa e inovação, investe 2,8 bilhões de euros por ano nisso, resolvemos começar a expansão com esta categoria de pesquisadora”, explicou Francila.
As entidades parceiras da Bayer e as instituições de pesquisa fizeram uma primeira avaliação e identificaram 19 pesquisadoras que teriam potencial para serem indicadas ao prêmio. "Mas era preciso fazer um short list, até que, verificando diversos critérios de sustentabilidade e impacto das linhas de pesquisa, chegamos a quatro nomes".
As quatro pesquisadoras indicadas pela comissão foram: Thaís Vieira (Esalq/USP), Débora Marcondes (Embrapa Instrumentação), Patrícia Monqueiro (UFSCAR) e Mariangela Hungria (Embrapa Soja).
A escolha será feita por voto popular no site da premiação, que estará disponível a partir desta terça (19/9) até o dia 5 de outubro. A instituição à qual a vencedora estiver vinculada receberá um incentivo de R$ 15 mil.
As vencedoras, tanto na categoria de pesquisa quanto de produtoras rurais, serão conhecidas no dia 25 de outubro durante o Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio.
Segundo a Bayer, a comissão de associações e instituições parceiras que definiu os nomes das quatro pesquisadoras indicadas levou em conta critérios como currículo lattes, relevância dos projetos para a sustentabilidade e desenvolvimento do agronegócio, impactos científico, social e ambiental, além da relação com inovação e tecnologia.
Desde que foi criado, em 2018, o prêmio já teve mais de 1.100 produtoras rurais inscritas e 45 foram contempladas. Elas são divididas nas categorias "pequena, média e grande propriedade".
Até agora, entre as produtoras rurais, o maior foco eram as práticas agrícolas adotadas, com ênfase em inovação. Este ano, sendo a empresa, se enquadram na premiação "gestoras e donas de propriedades que possuírem práticas ancoradas nos pilares ESG".
"O prêmio Mulheres do Agro é o pilar deste reconhecimento que queremos fortalecer, que estas mulheres merecem pelo trabalho que realizam”, disse Francila Calica.
Ela destaca que as pesquisas feitas pela Bayer mostram que as mulheres no campo tem uma média de 45 anos e alto nível de educação formal. Porém, há uma queixa comum de ainda não ser respeitada por funcionários, não ser a primeira opção na sucessão familiar, entre outras.
"Por isso ouvir histórias semelhantes ao que se vive, buscar esta representatividade, pode ajudar muito", acrescentou. Calica lembra que a gestão das propriedades rurais por mulheres tem se mostrado muito bem sucedida especialmente pela visão 360 e compromissos com questões ESG.