Enquanto as principais empresas de mercado de carbono se renderam ao capital de bancos e fundos de investimento, a Eccon Soluções Ambientais, que já esteve entre as três maiores, segue optando por crescer sem a presença de sócios e aposta no crescimento do mercado brasileiro.

A empresa foi fundada em 2014 pelo advogado Yuri Rugai Marinho, que já atuava em direito ambiental e viu no agronegócio uma oportunidade de ampliar horizontes, dando suporte a quem precisava recompor áreas de vegetação nativa e acessar o mercado de créditos de carbono.

"Mas o boom da Eccon ocorreu mesmo em 2020, quando grandes fundos internacionais anunciaram investimentos no mercado de carbono, os preços subiram e a demanda por projetos explodiu”, conta Marinho, que é o CEO da empresa.

Ele lembra que no período da pandemia, alguns players se retiraram, o que acabou gerando mais oportunidades para a empresa brasileira, que passou a crescer entre 100% e 150% ao ano.

O faturamento do ano passado foi de R$ 5 milhões e agora está projetado para atingir R$ 12 milhões em 2023.

"Nosso plano é atingir R$ 1 bilhão, mas ainda não sabemos em quanto tempo exatamente. Em breve teremos finalizado um projeto de crescimento até 2030”, diz o executivo.

A Eccon desenvolve metodologias para projetos de agricultura sustentável, restauração ambiental, geração de energia renovável e créditos de carbono.

Entre os clientes estão gigantes como Cargill e Votorantim, além de EDP, Casa dos Ventos e Citrosuco.

No caso da Cargill, a empresa está envolvida em projeto divulgado no ano passado pela multinacional para restaurar a vegetação nativa em 100 mil hectares, ao longo de 5 anos. Estima-se que o custo da restauração seja de aproximadamente R$ 12mil por hectare, o que sinaliza um investimento de mais de R$ 1 bilhão.

Atualmente, 40% do faturamento da Eccon vem de projetos diretamente ligados ao agronegócio. Outros 40% se referem a energia renovável e o restante, ao trabalho com auditorias. São 400 projetos, de 113 clientes, em 10 países e 22 estados brasileiros.

Uma das apostas é o uso de tecnologia para monitorar os projetos de restauração de mata nativa. A empresa investiu R$ 1 milhão para montar uma frota de drones, que são utilizados pelas equipes em campo.

"São sensores potentes nos drones que avaliam a temperatura, a diferença de cores, que sinalizam se as mudas estão crescendo e como está a biodiversidade, por exemplo", explica.

O trabalho também usa dados de satélite e cria metodologias próprias para fazer a gestão e o monitoramento dos projetos de agricultura sustentável. A empresa se envolve também nos aspectos jurídicos dos projetos.

Estratégia diferenciada

Yuri Marinho diz que nos últimos anos a Eccon foi bastante procurada por investidores interessados em comprar a empresa ou tornarem-se sócios.

"Podemos dizer que das cinco maiores empresas que estruturam projetos de carbono, quatro já passaram por este processo de aquisição, recebendo investimentos altos”, afirma o CEO. “Apenas a Eccon seguiu com o sócio original".

A estratégia de correr o risco de não crescer tanto quanto os demais, mas seguir independente, se justifica em valores e princípios que a empresa não abre mão e que, segundo ele, os agentes financeiros não estão interessados em dar continuidade.

"O que a gente constrói como empresa vai muito além do lucro. Nós temos uma sede na região da Faria Lima com projeto totalmente sustentável, investimos em projeto de comunicação gratuita, e prezamos pela diversidade no time de funcionários, com pessoas de idades variadas, por exemplo”, explica Marinho.

Ele conta que os concorrentes seguem fazendo propostas financeiras para alguns dos talentos da Eccon, mas que “se desdobrou para criar diferenciais de bem-estar para os funcionários, plano de participação em resultados, criação de proposta de valor, uma série de ações que hoje nos garantem uma maior retenção".

Apesar desta "resistência", Marinho admite que, para o ano que vem, poderá estudar propostas para participações minoritárias, para seguir mantendo a competitividade em relação aos concorrentes. "Mas será em modelo diferente, com um sócio que conheça do setor e concorde em manter e valorizar esta cultura que criamos”.

Mercado de carbono

Os projetos administrados pela Eccon hoje totalizam 2 milhões de toneladas de carbono, pelo modelo conhecido como REDD. A meta é chegar a 10 milhões de toneladas até o final do ano que vem.

A primeira emissão ocorreu no final do ano passado, no valor de R$ 800 mil, quantia que ainda não foi comercializada, por isso não está na conta do faturamento da empresa.

"Mas acreditamos que, no futuro, os projetos de carbono vão responder pela maior parte da nossa receita, o potencial é enorme”, afirma Marinho.

Ele admite, no entanto, que o momento atual, comparado ao ano passado, não está positivo. O preço médio da tonelada chegou a US$ 20 em 2022 e agora está em US$ 8, segundo ele.

"Mas as metas climáticas estão estabelecidas, são claras, os países estão se comprometendo a reduzir emissões e as empresas também. Portanto, a demanda está posta e sou otimista, já que tenho o produto".

Desde a criação da empresa, executivo calcula que já ajudou a restaurar 20 mil hectares de vegetação nativa. Mas se considerados os projetos de carbono, "evitamos o desmatamento em 100 mil hectares".