O Brasil é o quarto maior produtor e o segundo principal exportador mundial de algodão, cultura que rendeu US$ 2,7 bilhões em divisas ao País entre agosto de 2022 e junho de 2023. Tem conseguido conquistar mercados graças, sobretudo, a investimentos dos produtores, que entenderam que o segredo de vender mais no exterior ia além da qualidade.
Há pelo menos 11 anos a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) vem aplicando uma das mais rigorosas metodologias de certificação socioambiental da produção agrícola do mundo, o selo ABR (Algodão Brasileiro Responsável).
O que valia só para dentro da porteira foi ampliado, em 2021, às unidades de beneficiamento, com o ABR-UBA. E agora chegou até os portos por onde as fibras brasileiras são exportadas.
Em parceria com a Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea), a Abrapa começou este mês a emitir os primeiros selos ABR-LOG, uma certificação socioambiental para os terminais retroportuários, responsáveis pelo recebimento dos fardos, armazenagem, estufagem do contêiner e embarque.
Com isso, a cadeia do algodão praticamente cobre todo o ciclo, da lavoura ao navio, e atende a uma antiga demanda dos compradores sobre as condições de envio do nosso algodão.
“Nas visitas às indústrias, não raramente, temos encontrado fardos de algodão de origem brasileira sujos e com as capas rasgadas”, afirma o presidente da Abrapa, Alexandre Schenkel. “Além do comprometimento do aspecto, os danos na capa de proteção favorecem a contaminação do produto”.
Esse foi um dos problemas identificados pela associação durante as missões internacionais que são realizadas todos os anos, principalmente em países da Ásia, para discutir as impressões do mercado acerca do algodão brasileiro.
Apesar de gerar reclamações e prejudicar a imagem do Brasil, a situação não chegou a causar grandes prejuízos. “Não chega ao nível de cancelamento de compras. Mas entregar um fardo íntegro é do interesse dos produtores e exportadores, para manter a reputação de qualidade do algodão brasileiro”, explicou Schenkel.
A iniciativa de criar o ABR-LOG faz parte do programa Cotton Brazil, de promoção da fibra brasileira no mercado internacional, fruto da parceria entre Abrapa, Anea e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil).
Quatro empresas que aderiram ao programa já foram auditadas e aprovadas. São elas: a S. Magalhães & Essemaga – que teve seus terminais de Alemoa e Guarujá chancelados pelo programa –, a Hipercon Terminais de Carga, de Santos, e a Louis Dreyfus Company (LDC), com terminal em Cubatão (SP).
A Brado Logística, terminal de Rondonópolis (MT), e o Tecon Salvador (BA) aderiram e passaram por auditoria e em breve deverão ser certificados também.
“Convidamos mais cinco terminais de Santos, Guarujá e Cubatão, e estamos em discussão para que eles possam fazer parte do ABR-LOG, ainda no período comercial 2023/2024”, adianta o presidente da Abrapa.
Os terminais de Santos são prioridade, pois é de lá que saem 97% das exportações brasileiras de algodão. “A gente espera abranger 30% das exportações, na safra 2022/2023, e ter até o fim do ano perto de 100% dos terminais que trabalham com o algodão certificados”, destaca o presidente da Anea, Miguel Faus.
As etapas para a certificação são relativamente simples. Os terminais que têm interesse assinam voluntariamente um termo de adesão ao ABR-LOG. A etapa seguinte é o agendamento da auditoria presencial, realizada por certificadoras de terceira parte, de renome internacional.
No período comercial 2023/2024, a empresa Control Union foi credenciada como a responsável pelas auditorias do programa.
Nesta etapa, são verificadas a regularidade das relações trabalhistas, a proibição da utilização de mão de obra estrangeira irregular, a segurança do trabalho, dentre outros critérios, sendo que a verificação do emprego de crianças e a prática de trabalho forçado ou análogo à escravidão desabilitam imediatamente o terminal à certificação.
O programa prevê um processo de melhoria contínua. São necessários 80% de conformidade na lista de certificação, no primeiro ano. A partir da segunda safra, o terminal deverá possuir nível de conformidade igual a 82%, e, nas safras seguintes, deverá elevar o nível de conformidade em 2% a cada ano.
“Os resultados esperados são que o comprador receba os fardos de algodão íntegros após o transporte, padronização e melhoria das operações de estufagem nos terminais brasileiros e o fortalecimento de quesitos sociais e ambientais em mais um elo da cadeia produtiva”, conclui Alexandre Schenkel.