Alimentos “plant-based”, projetos de reflorestamento e redução do desperdício são algumas das tendências para as agtechs nos próximos anos, de acordo com um estudo feito pela rede global de empreendedores, Endeavor.

A principal conclusão é que a maior parte do que vem por aí estará extremamente alinhado com a tão conhecida sigla ESG, que envolve o compromisso social, ambiental e de governança no ambiente de negócios.

A rede também mapeou que a criação de alternativas financeiras para o agronegócio, como o uso de blockchain para reduzir custos de transação, reduzir o tempo de pagamento e eliminar riscos nas transações, pode ser um pilar importante para o futuro.

Em entrevista ao AgFeed, Guilherme Camargo, head de busca e atração de negócios da Endeavor Brasil, disse que a sensação é de que as startups de tecnologia no agro representam um setor que está “em constante momento de ebulição”.

“Parece que a qualquer momento esse setor vai explodir. Mas se olharmos para os investimentos, mais da metade do funding ainda está muito concentrado em séries seed. Entendemos que o ponto de inflexão das agtechs ainda não aconteceu, mas o cenário está se formando para isso”, afirmou.

De acordo com o estudo, conectar as etapas da cadeia produtiva a fim de reduzir ineficiências e desperdícios dialoga com o ESG, e deve estar no radar das agtechs para o futuro. Por isso, a otimização da produção estará em foco.

Nesse cenário, a automatização de processos com uso de Business Intelligence (BI) e Machine Learning, podem melhorar a eficiência, consistência e sustentabilidade de toda cadeia.

Esse processo pode ser feito por imagens de satélite, análise de dados (big data), plataformas de gestão e métodos tecnológicos para reduzir riscos de sustentabilidade.

O estudo alerta, no entanto, sobre uma série de dificuldades, que fogem das mãos dos empreendedores das agtechs. O mercado de carbono, por exemplo, ainda não é tão desenvolvido no país como é lá fora.

“O mercado de carbono ainda é um mercado em potencial. Temos soluções que demandam ainda muito investimento, e mesmo que tenhamos capital de risco, o contexto envolve a ‘economia real’, reflorestamento e questões governamentais que ainda não estão resolvidas”, pondera Guilherme Camargo.

Outra tendência vista pela Endeavor é a substituição de alimentos de alta emissão e um combate ao desperdício. “A comida será reinventada para ser mais sustentável”, aponta o estudo.

Na prática, a instituição acredita que o mercado dos alimentos plant based e das carnes cultivadas em laboratórios, ou seja, aquelas sem insumos de origem animal, podem se tornar mais comuns ao longo dos anos.

De acordo com um estudo da Mckinsey, citado pela Endeavor, o mercado de proteínas alternativas deve movimentar de US$ 45 bilhões a US$ 125 bilhões mundialmente nos próximos 20 anos.

Adicionalmente, se esses números se mostrarem verdadeiros, 30% do consumo de carne poderia migrar para este segmento.

Por fim, outra tendência apontada pela Endeavor é a proliferação das agroflorestas e dos sistemas de reflorestamento.

O estudo sinaliza que a necessidade de sistemas agrícolas que coexistem com árvores e o reflorestamento intencional de áreas desmatadas está impulsionando novos modelos de negócios no setor.

“Isso traz uma atenção às soluções com integração tecnológica na cadeia de valor do agro, especialmente na parte de geração, que estão tornando os sistemas de monitoramento da colheita e do plantio mais baratos e eficientes”, diz a Endeavor.

O relatório menciona a estimativa de que haja mais de 1,7 mil agtechs e agfintechs no País, sendo 61% na região Sudeste e 26% na região Sul, segundo dados da pesquisa de 2022 do Radar Agtech Brasil.

O levantamento das agtechs faz parte de um estudo amplo feito pela Endeavor com mais seis setores. A ideia, segundo explicou Camargo, é monitorar tendências e guiar a instituição nos meses seguintes.

O estudo, chamado de Scale-up Trends, levou cerca de cinco meses para ficar pronto, e agrupou uma série de estudos sobre os temas, além de ouvir parte da sua rede de mentores de 400 pessoas.

Segundo Guilherme Camargo, o estudo é feito todos os anos, mas as agtechs passaram a ter mais relevância no cenário desde o ano passado.