Não é só a sede fiscal da Suzano que fica em Salvador. A gigante do papel e celulose também tem na Bahia uma de suas principais executivas, defensora dos pilares ESG, principalmente quando o assunto é igualdade de gênero.
Mariana Lisbôa, diretora global de relações corporativas e licenciamento ambiental da empresa, também é presidente da Abaf (Associação Baiana das Empresas de Base Florestal). E uma entusiasta do setor florestal e de como temas como sustentabilidade e igualdade de gênero têm provocado impacto na indústria de papel e celulose.
“O que eu procuro fazer é mostrar para as pessoas, principalmente as pessoas leigas, o que o setor de base florestal deixa de legado para a sociedade. É algo que transcende, obviamente, a simples operação, é muito maior do que o nosso negócio”, afirma, em entrevista ao AgFeed.
A executiva se refere, principalmente, ao efeito social positivo que projetos do setor florestal têm trazido para pequenas cidades do interior, como ocorreu nos estados do Maranhão, da Bahia e, mais recentemente, de Mato Grosso do Sul, onde a Suzano já iniciou as operações do Projeto Cerrado, com uma fábrica considerada a maior do mundo e que vai processar 2,5 milhões de toneladas de celulose por ano, erguida a partir de um investimento estimado em R$ 22,2 bilhões.
“A transformação social que essas empresas causam no momento da sua implantação é um negócio impressionante. Costumo dizer sempre que nenhum projeto social que a gente seja capaz de fomentar, deixa tanto legado quanto a nossa própria atividade”, defende.
Outra “bandeira” de Mariana Lisbôa é a questão da diversidade e o combate à desigualdade de gênero. Segundo ela, as empresas ligadas à Abaf já possuem metas publicadas ligadas aos objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU.
“Há muitas questões ligadas ao aumento de número de mulheres e pessoas pretas em posições de liderança, ligadas à captura de carbono, à ampliação da preservação de áreas com valor ambiental. E muito além do que a legislação exige”, afirma.
O tema da presença feminina, segundo Mariana Lisbôa, deve ser uma prioridade, algo que “incomoda”.
“Ainda é um setor muito masculino. No setor florestal, só 20% dos colaboradores são mulheres e, destas, apenas 12% ocupam posições de liderança”, revela Mariana, reforçando que “por isso que eu bato bastante nessa tecla, porque as empresas precisam, de fato, ter ações afirmativas que permitam a aceleração da carreira das mulheres”.
Na Suzano, onde está diretamente ligada à implementação destas políticas, junto com outras áreas, Lisbôa comemora alguns avanços.
A meta da empresa é aumentar em 30% o número de mulheres em posições de liderança até 2030. “Se isso não acontecer, há um aumento dos juros da nossa dívida”, alertou.
Mariana se refere a financiamentos obtidos pela Suzano conectados com indicadores de sustentabilidade e que incluem o tema da presença feminina.
São dois tipos de títulos - os green bonds e os sustainability-linked bonds. O primeiro grupo está atrelado a um compromisso quanto ao uso dos recursos (ou seja, todo o dinheiro levantado vai ser gasto em projetos sustentáveis específicos). O segundo são financiamentos que tem KPIs (indicadores de performance) de sustentabilidade atrelados ao custo.
Caso eles não sejam atingidos, o custo da dívida aumenta. O critério de mulheres em cargos de liderança está no segundo grupo, através de um KPI. Foram feitas duas operações com esse KPI - uma em junho de 2021, no valor de US$ 1 bilhão, e outra em setembro de 2021, de US$ 500 milhões.
“Conseguiu captar recursos com juros menores atrelados à questão da diversidade. Foi a primeira empresa da América Latina a ter um título de crédito atrelado à meta de inclusão feminina. Isso é maravilhoso”, destacou a executiva.
A diretora da Suzano diz que as metas foram iniciadas em 2019 e que o percentual de mulheres já está próximo de 26%. Portanto, o objetivo tende a ser alcançado.
“Estamos no caminho e com certeza tende a alcançar, porque senão há um impacto direto financeiro para a companhia e também na nossa remuneração variável. A remuneração variável dos diretores está sempre ligada às metas que transcendem a nossa operação, ligadas à ESG de forma geral”, explicou.
Mariana afirma que questões ambientais e relacionadas à diversidade, que antes eram vistas como custos, agora mostram que podem ser lucrativas. “Se a gente consegue juros mais baixos no mercado, atrelados a questões ligadas à diversidade, significa que a gente se torna mais competitivo”.
Lisboa diz que não é só a Suzano, já que outras empresas do setor florestal teriam também metas atreladas à diversidade.
“Os homens precisam entender que eles precisam abrir esse espaço para que mulheres possam ocupar a posição que hoje é deles. Esta questão é inegociável. As empresas precisam criar mecanismos para que as mulheres não tenham, inclusive, suas carreiras atrasadas por conta de licença maternidade”, defende.
Bahia poderá dobrar área de florestas
Na posição de presidente da Associação Baiana das Empresas do Setor florestal, Mariana Lisbôa, tem trabalhado para a expansão da atividade no estado.
Ela contou ao AgFeed que muito em breve o governo baiano deve publicar um decreto criando um grupo de trabalho que vai se dedicar ao que estão chamando de “Plano Bahia Florestal”.
A meta é dobrar os atuais 700 mil hectares hoje cultivados pelas empresas do setor no estado, nos próximos dez anos.
Segundo a Abaf, o setor florestal já o terceiro em importância na economia baiana. “Mas dos 700 mil hectares, 300 mil são áreas de preservação”.
Os estados que lideram a produção de florestas plantadas no Brasil são Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Bahia.
Seriam 40 mil empregos gerados pelo setor na Bahia, sendo 12 mil somente na Suzano, na operação do extremo sul do estado. Também estão presentes na Bahia empresas como Veracel e Bracell.
“É um plano cujo objetivo é fazer um diagnóstico do potencial de plantio do estado da Bahia, em parceria com o governo do Estado, para que a gente possa mapear as áreas em que há potencial de plantio e de implementação de indústria. Não só de celulose, mas, por exemplo, indústria moveleira, que também tem um potencial grande no estado para a geração de emprego, para a geração de impostos”, explicou Mariana Lisbôa.
Ela espera que, após o diagnóstico, o grupo também possa definir incentivos para a chegada de novos investimentos no setor florestal baiano.
“Não apenas incentivos fiscais, mas parcerias público-privadas, um ambiente de negócio seguro, com segurança jurídica”, diz ela, admitindo que no passado questões relacionadas à invasão de terras, por exemplo, foram motivo de preocupação por parte dos investidores.
Entre os possíveis investimentos do setor na Bahia há rumores sobre a intenção a Paper Excelence de instalar uma fábrica, mas sem nenhuma confirmação oficial, admitiu ela.
Perguntada se a Suzano tem intenção de ampliar a presença na Bahia, a executiva respondeu: “A gente está ainda estudando qual será o próximo investimento depois desse investimento no Mato Grosso do Sul. Eu, obviamente, quero puxar para a Bahia”, brincou.
Entre as possibilidades também estariam Maranhão e o próprio Mato Grosso do Sul. Mariana fez elogios ao estado sul-matogrossense em função do incentivo que oferece aos investidores, com a intenção de criar o “vale da celulose”. “É um estado que vai ganhar um protagonismo enorme. E é um ambiente de negócios maravilhoso”, disse.
Também conta a favor da expectativa otimista para os investimentos em papel e celulose, lembrou Mariana, a recente mudança na legislação brasileira, que retirou a silvicultura do grupo de atividades potencialmente poluidoras.
“O que acontece com a aprovação dessa lei é que o licenciamento ambiental é simplificado. Então, em alguns estados onde eram exigidos estudos de impacto ambiental para o licenciamento ambiental, ele deixa de ser exigível pelo fato da silvicultura não ser mais considerada uma atividade potencialmente poluidora”, ressaltou.
Na visão dela, a lei anterior era injusta, porque igualava o plantio de florestas a atividades como posto de gasolina e industrias pesadas, até mesmo a indústria de celulose. “Mas não é justo que a indústria e o plantio estivessem no mesmo pacote”. Segundo Mariana, a segurança ambiental não diminuiu.