“A resolução de problemas importantes pode resultar em retornos importantes”, diz José Augusto Teixeira, sócio do Patria Investimentos. Essa premissa está na base de grande parte das teses em que a gestora atua. E, de certa forma, define a mais nova frente em que ela decidiu apostar.

Até o final deste ano, Teixeira espera ter concretizado o primeiro “closing” relacionado ao fundo de US$ 100 milhões recém-lançado para investimentos em projetos de reflorestamento na Mata Atlântica.

A captação mal começou e deve se estender ainda por vários meses, mas o compromisso de aportes já alinhados com alguns sócios e investidores mais próximos já garante, segundo ele, recursos para avançar com pelo menos esta e mais duas outras propostas que já estão sobre a mesa dos gestores, segundo adiantou Teixeira ao AgFeed.

“Os sócios do Pátria têm um comprometimento relevante”, afirma. “E tem já alguns empreendedores que estão investindo junto e que estão ancorando o fundo. Imagino que a gente tenha, entre um tipo e outro, uns 20% do fundo para ser comprometido”.

Até que as transações sejam efetivamente concluídas, pouco se sabe sobre os possíveis alvos dos investimentos. Teixeira dá apenas pistas.

Os três primeiros aportes serão feitos em diferentes estados – São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia – e em projetos já estruturados de diferentes naturezas: um focado no mercado de carbono, outro no manejo para a comercialização de madeira e outro para a produção de café e cacau no sistema agroflorestal.

O que têm em comum é se adequarem à estratégia que o Patria pretende colocar em prática para atuar em um segmento que vem recebendo cada vez mais atenção de investidores, mas com propostas que não se alinham ao pensamento da gestora.

“O Patria, há muito tempo, estuda a maneira de se envolver adequadamente com o setor de florestas”, diz Teixeira. “E sempre houve o debate sobre se devíamos fazer isso organicamente ou inorganicamente”.

A questão era saber como encaixar a tese dentro do escopo das áreas preferenciais de atuação da empresa, private equity, venture capital e growth. Em todas elas, outros investimentos traziam, de certa forma, o tema da economia verde, segundo Teixeira.

“A nossa crença é que o Brasil tem tantos problemas socioeconômicos e que envolvam também a questão das florestas, a questão do meio ambiente, que o investidor que colocar dinheiro para resolver esses problemas, como os problemas são muito grandes, pode ter retornos grandes”, diz.

“E tem uma questão cultural aqui do Patria. Queremos investir de tal maneira que, além do retorno financeiro, fique um legado positivo para a sociedade”.

O caminho escolhido pela gestora, que se posiciona como líder em ativos alternativos, foi desenhar um modelo de investimento que se diferenciasse de outros já existentes com foco em reflorestamento.

Segundo Teixeira, os produtos financeiros relacionados a florestas no Brasil têm predominantemente foco em projetos comerciais de plantio de pinus e de eucalipto para a indústria de papel e celulose.

No caso do Patria, a opção foi investir em reflorestamento com espécies nativas, como ipê e jacarandá, e também com algumas espécies exóticas, não convencionais, de alto valor, que podem ser inseridas em consórcio com as nativas, como, por exemplo, o mogno africano.

Teixeira lembra que existem outros fundos com o mesmo foco, “menores, emergentes”, mas com olhar voltado para a restauração ecológica na Amazônia.

“Não há problema nenhum nisso, está perfeito. Mas a gente entendeu que tem uma oportunidade aqui um pouquinho diferente, que pode ter um foco mais de reflorestamento do que comercial e na Mata Atlântica, ao invés da Amazônia”.

Na visão do Patria, a região escolhida, hoje menos visada nos grandes projetos, possui oportunidades semelhantes às da Amazônia em impactos ambientais e para o mercado de carbono, por exemplo. Mas oferece vantagens geográficas de proximidade com centros maiores e melhor logística.

“Ali, temos a capacidade de fazer um fundo que não é comercial e sim de reflorestamento, e que tem uma diversificação muito grande de projetos. E porque você tem a diversificação de projetos, também tem uma diversificação de receitas, com os próprios créditos de carbono, a madeira de reflorestamento, as culturas adicionais, café e cacau”, diz.

Retornos e impactos

Teixeira acredita que o fundo de florestas pode, assim, produzir retornos líquidos para o investidor na casa de 12% em dólar. “Com isso, ele quintuplica o capital no período do fundo, que são 15 anos”, calcula. “Isso combina um retorno diferenciado com um impacto muito interessante dos nossos projetos nas regiões foco”.

Além de diversificar os tipos de projetos e as fontes de receita, o Patria vê na Mata Atlântica caminhos para mitigar riscos através de investimentos em diferentes microrregiões e com múltiplos operadores.

No fundo de florestas, a proposta é ter parcerias com operadores locais, que conhecem as particularidades de solo, hidrologia, clima e até mesmo sociais de cada microrregião. Teixeira diz que cerca de 20 projetos foram avaliados até agora e estão no pipeline do Patria, inclusive alguns já com uma década de andamento.

Eles foram selecionados a partir de uma parceria com a Pachama, empresa de tecnologia baseada no Vale do Silício e que atuará juntamente com o Patria, funcionando como uma consultora na gestão do fundo.

“Ela tem capacidade de monitoramento via satélite, análise com inteligência artificial e de marketplace também, para os créditos de carbono”, diz Teixeira. “É uma empresa que tem muita credibilidade e é conectada a várias grandes corporações americanas”.

Segundo Teixeira, a Pachama tem colaborado na avaliação do pipeline de projetos e deve monitorar aqueles que forem sendo executados, além de credenciar as projeções de carbono e, eventualmente, atuar para a venda dos créditos em seu marketplace.

Ao se aproximar de grandes companhias de tecnologia americanas, o fundo pode atrair, ao mesmo tempo, investidores e compradores desses créditos – hoje, as big techs são as grandes investidoras nesse tipo de ativo, já que necessitam compensar grandes volumes de emissão de gases de efeito estufa de suas operações.

Um fundo de US$ 100 milhões pode ser considerado pequeno para os padrões do Patria, mas na visão de Teixeira trata-se de uma soma compatível com o atual estágio do setor em que ele está inserido.

Cada um dos projetos selecionados deve receber entre US$ 10 milhões e US$ 20 milhões, valores que podem gerar grande diferença para que ganhem escala e transformem sias regiões.

Os três projetos que estão na dianteira da fila para receberem os recursos já passaram por diligências e, segundo Teixeira, já estão em execução. “Têm nome, sobrenome, área, extensão, operador e não dependem de o fundo investir para continuarem”.

Mas podem ser ampliados significativamente no momento em que os aportes chegarem. E, assim, verem seus impactos multiplicados.

“Parte da sustentabilidade está justamente em criar um contexto microeconômico que torne as florestas economicamente razoáveis”, afirma Teixeira. “Projetos de agrofloresta ou de reflorestamento com agroflorestas geram empregos”.

E, por conta disso, prossegue, os projetos têm capacidade de educar as populações das comunidades florestais. “Eles são autossustentáveis, porque vão fazer sentido econômico para os fazendeiros das florestas, os operadores da floresta, os trabalhadores da floresta”.