Depois de duas semanas com recordes de posts e notícias sobre a COP28 e com a mesma dificuldade de ser fechado um acordo entre os países participantes ou partes no jargão “copístico”, me veio à cabeça a COP 27.

Como um deja vu, me teletransportei para um ano atrás e fui verificar que algo similar também passou no Egito, que sediou o encontro anterior.

Assim como agora, a COP 27 também teve prorrogação e definição nos pênaltis. Quase não se chegou a um acordo.

Relendo notícias das últimas COPs, vejo que sempre há centenas de notas reportando que foi encerrada com maior ou menor sucesso a conferência de cada ano.

Nesse ponto – e principalmente depois de todo o alarde dessa última –, parei para pensar o que significa uma COP de sucesso ou que atinja os seus objetivos. Que objetivos? Os do papel ou da realidade?

Sem querer ser pessimista com o resultado dessa, cujo encerramento acabamos de presenciar, pergunto quem lembra do que foi definido na COP 27.

Para quem, como eu, não lembrava , segue aqui um link muito interessante com os principais acordos gerados lá .

“Muy bien” como diria um amigo argentino . Aqui mora o perigo. Veja se está de acordo comigo.

O sucesso de uma COP não está no acordo firmado ao término do encontro entre as partes. Está na sua execução em tempo e forma.

Se estamos de acordo com essa singela premissa, me fiz outras perguntas que não querem calar na minha consciência.

Quem monitora a execução dos acordos firmados ao nível governamental e ao nível das corporações presentes ao encontro?

Quem monitorou e prestou contas dos acordos firmados na época? No início da COP28 foi verificado o que foi realizado na última? Qual foi o percentual de atingimento dos objetivos traçados? Quem cuida da governança? A resposta deveria ser óbvia: a ONU claro.

Seguramente a ONU deveria ou deve ter feito. Minha pergunta seguinte é quem dos demais mortais do planeta seguiu acompanhando ou conhece os resultados? Que chance temos de não seguir assando em fogo brando? Que papel nos cabe nessa equação?

A resposta está em possivelmente algumas centenas de abnegados, que carregam o bastão de salvar o planeta de virar um grande forno de cocção para 8 bilhões de seres humanos que não foram projetados para viver sob tornados, inundações, temperaturas acima de 40 graus, ondas invadindo suas casas, chuvas torrenciais que fazem despencar tudo a sua volta etc..

Você conhece algum deles ?

Portanto, sem querer me atrever a julgar se a COP 28 foi um sucesso ou não no papel tarefa que deixo com todo prazer para os especialistas responderem, minha pergunta vai para quem vai fazer sistematicamente o follow-up do que foi acordado no papel e levantar a mão alertando se está ou não sendo cumprido.

Ah, então agora ficou fácil. Basta ler o que foi acordado, identificar os responsáveis e fazer o follow-up?

Estimado leitor, infelizmente tenho que decepcioná-lo, dizendo que o primeiro passo já é dos mais difíceis. Como encontrar, na forma que um ser humano de razoável saber entenda, o que foi acordado no emaranhado de documentos “copísticos” que são gerados?

Fico com a amarga sensação de que aproximadamente 8 bilhões de seres humanos como nós, eu que escrevo e você que lê, estamos nas mãos de gênios do saber que usam propositalmente linguagem “onística “, ou seja, que vem da ONU, para definir o nosso destino.

Um cipoal de documentos que claramente não foram concebidos para seres humanos comuns. Que requer rodadas e rodadas de discussão para escolher uma palavra que agrade a todos.

Portanto, mais uma vez, quem vai poder segui-los e reportar sistematicamente os avanços? Necessitamos de tradutores e vemos que muitos o fazem, felizmente. Mas novamente, tudo está no papel.

Objetivos que não se medem e não se reportam, não servem para nada.

É hora de usarmos algo simples e poderoso: seguir e cobrar o que foi acordado

É mais do que hora de darmos um grande BASTA e exigir que os acordos, além de serem cumpridos, sejam informados do seu andamento. Em linguagem para seres humanos ditos comuns e que seguem assando ou sofrendo os efeitos das mudanças climáticas em suas diferentes facetas.

Mas, observem, não falo de sair fazendo protestos ou levantando bandeiras. Falo de um sistemático e profissional follow-up do que foi acordado. Factual e com dados concretos e públicos.

É hora de usarmos algo simples e poderoso: seguir e cobrar o que foi acordado, considerando que foi o de melhor conseguido para o momento.

Assim como na Apolo 13, que ao detectar um vazamento na cabine em pleno voo para pousar na Lua, chamou os cientistas em Cabo Canaveral e disse “Houston, nós temos um problema”, me dirijo a você leitor e falo: “ Nós temos um problema e uma oportunidade “

Podemos aceitar que o destino nos levará a cozinhar pelos próximos anos ou acordar de nosso sono de inconsciência e passar a cobrar que no mínimo tenhamos claridade dos acordos e do que será feito.

Mas a quem cobrar? Estou fazendo e sugiro que cobrem de quem foi à COP. Colegas de profissão, instituições, empresas, etc.. Se foram lá, é porque acreditam que valeu usar tempo, esforço e dinheiro para contribuir para um mundo melhor. Nada mais justo que os ajudar com o nosso apoio e que sintam que valeu a pena brigar por todos nós.

Finalizando, já ouviram falar do termo “copwashing”?

É o que vai acontecer mais uma vez, se não fizermos diferente das COPs anteriores.

O papel aceita tudo e o filme já conhecemos, dessa vez com cenários diferentes, mais atores, mais discussões, mais marketing, mais glamour, mais petróleo.

Minha inquietude e provocação é sobre quem ou que instituições, sejam públicas ou privadas, vão dar conta de monitorar, avaliar e tornar público tudo o que foi acordado na COP28.

A meu ver, acordos sem seguimento ou cobrança farão que tenhamos uma Copwashing.

Leonardo Lima é fundador e CEO da Dreams & Purpose e conselheiro de empresas. Engenheiro químico de formação, foi diretor corporativo de Sustentabilidade da Arcos Dorados, empresa responsável pela operação da rede McDonald's na América Latina.