A União Europeia segue firme na sua marcha pela insensatez. A decisão recente do Parlamento Europeu em aprovar lei que exige comprovação de não desmatamento a partir de 2021 para vários países é mais uma demonstração da arrogância e desconexão com o mundo real de sua burocracia centralizada em Bruxelas.
A medida está vinculada a agenda verde, o Green Deal, a grande estratégia de inserção do continente europeu no mundo, que passou a nortear todas as políticas públicas de seus 27 membros.
Não sabem bem de onde virão os recursos bilionários para promover políticas energéticas que não podem cumprir, principalmente depois do início do conflito de Ucrânia e Rússia que rompeu o fornecimento de gás russo a metade do continente.
Ou como irão convencer holandeses de pagar pela desapropriação e fechamento de propriedades centenárias de produtores de leite, suínos e aves em função do acúmulo de oxido nitroso na água.
E continuam promovendo o uso e banimento de vários produtos químicos para defesa vegetal das lavouras com impactos radicais na produtividade para justificar um alimento “saudável” que só faz aumentar o preço dos alimentos.
São muitas as medidas que vêm sendo tomadas pelas autoridades europeias e que nos levam a conclusão simples: a Europa terá que amargar uma crise severa de aumento de custo de vida, inflação e redução do poder de compra das famílias para despertar para a realidade.
O sonho da agenda verde já apresenta os primeiros impactos nocivos para o cidadão comum europeu. Vai ter que piorar para, quem sabe, voltar à racionalidade.
A família média europeia gasta 14% de sua renda em alimentos. Depois da pandemia e da necessidade de rearranjo das cadeias de distribuição mundiais observa-se um nível inflacionário nunca visto na Europa desde o início dos anos 80.
O aumento do endividamento público dos países europeus é explicito, com destaque para a França, segunda maior economia do bloco.
Essas condições já fazem com que o gasto médio em alimentos da família média possa chegar 20% em 2023. Ainda pode parecer pouco se comparado ao Brasil ou a outros países em desenvolvimento, em que as famílias medias gastam entre 50% e 70% de suas rendas em alimentos.
A burocracia europeia prefere seguir no sonho verde. Alega que o cidadão europeu exige. Que a opinião pública europeia está convencida de que esse é o caminho a ser seguido e esta é agenda que deve ser “exportada” para o mundo.
Não creio que os 450 milhões de europeus estão cientes do risco em que se meteram. Quando perceberem a combinação explosiva que pode ser o aumento de preços dos alimentos, a queda de produtividade do trabalhador europeu, o envelhecimento da população, a queda do poder de compra das famílias e o endividamento bruto das economias, talvez não dê mais tempo de dar marcha ré.
A nova lei aprovada pelo Parlamento Europeu afeta principalmente o Brasil e suas cadeias de produção e exportação de carne bovina, couro, cacau, café, óleo de palma, madeira e soja.
Não creio que os 450 milhões de europeus estão cientes do risco em que se meteram. Quando perceberem, talvez não dê mais tempo de dar marcha ré
Desmatamento ilegal já tem punição dura pela legislação ambiental brasileira. E o uso da terra já está bem estabelecido pela Lei Ambiental, o Código Florestal.
Mas os europeus parecem não estar satisfeitos. Não querem saber se o desmatamento é legal ou ilegal. Também parecem não estar preocupados em romper mais uma vez com regras de comercio estabelecidas pela combalida Organização Mundial do Comércio.
As principais punições aos países do bloco que importarem produtos de áreas desmatadas serão a suspensão do comercio, a destruição dos produtos, e multas ao importador. Pergunta-se: como será a alardeada verificação rigorosa para comprovação de que os produtos não vêm de áreas desmatadas. Baseadas exatamente em quê?
O Brasil seguirá seu caminho na produção e exportação sustentável de alimentos, fibras e energia como tem feito nos últimos 40 anos. E tem a obrigação de combater a criminalidade e a contravenção, o desmatamento ilegal, o garimpo ilegal e a exploração de madeira ilegal. Aplicando as leis que já possui e no interesse da sociedade brasileira.
Se a União Europeia deseja contribuir com esse processo é muito bem-vinda. No entanto, se deseja impor uma agenda sustentável insensata que ela mesmo não consegue cumprir em seu território e que pode sim ser interpretada como protecionista, só nos resta lamentar e continuar trabalhando para que outros mercados continuem a comprar os produtos brasileiros sem hipocrisia.
Christian Lohbauer é cientista político e já foi diretor-executivo de diversas entidades representativas do agro como no setor de exportação de frango (Abef), suco de laranja (CitrusBR) e CropLife Brasil