Os dados apresentados recentemente pelo Censo Demográfico brasileiro de 2022 apresentam o que talvez seja o maior desafio para o futuro do Brasil e de boa parte da humanidade: o envelhecimento agudo da população ocidental com uma redução drástica nas taxas de natalidade.

Os dados do censo brasileiro apresentaram pela primeira vez uma taxa de crescimento vegetativo de 0,57%, abaixo de 1%. Entre 1990 e 2020 a população brasileira até 15 anos caiu de 35% para 20%. E a população acima de 65 anos subiu de 4% para 10%.

Estimava-se que seriamos 212 milhões de brasileiros em 2023, mas somos hoje “apenas” 203 milhões. Em 2040 estima-se que chegaremos ao pico de crescimento populacional com cerca de 230 milhões de brasileiros, mais de 40 milhões destes acima de 65 anos (21% da população), incluindo esse que vos lhe escreve.

Nos Estados Unidos também não tem sido diferente. Em 2040 estima-se que o número de pessoas acima de 65 anos irá superar o número de norte-americanos entre 15 e 24 anos.

Não é nas Américas e tampouco na Europa que se dará a renovação das populações mundiais. É na África, Asia Oriental e Oriente Médio, nessa ordem, que teremos gente jovem chegando.

A questão, então, é que em pouco mais de 15 anos a estrutura populacional brasileira estará radicalmente transformada. O que significa dizer que toda a produção e a vida em sociedade já deveriam estar sendo repensados.

O que garantirá a produção agrícola e industrial sem novas gerações de trabalhadores?

Novas tecnologias e aumento de produtividade média (algo que o Brasil não tem sido muito competente em alcançar, com algumas raras exceções) não serão capazes de superar as demandas de consumo e aposentadoria de milhões de brasileiros acima de 65 anos.

A imigração parece ser uma parte da solução. No entanto, ao contrário do que aconteceu na segunda metade do século XIX e primeira do século XX, não estarão disponíveis populações italianas, alemãs, espanholas ou japonesas para injetar trabalho e empreendedorismo na economia brasileira.

Teremos que administrar populações imigrantes da China, Índia, Filipinas, Nigéria e Angola, e até Venezuela e Haiti, como já se comprova hoje em dia. Como absorver e integrar eventuais imigrantes de países com culturas e crenças tão diferentes?

A solução pela imigração pode gerar outros problemas que devem ser bem estudados e planejados para evitar a criação de guetos, conflitos religiosos e instabilidades sociais resultantes da dificuldade de integração.

A outra parte da solução é fazer com que as populações acima de 65 anos continuem trabalhando. Longe de ser uma ideia que se adapte fácil a cultura brasileira, essa pode e deve ser parte da solução mais viável e menos impactante ao futuro do Brasil.

A presença de trabalhadores acima de 65 em todas as funções possíveis que demandem menos esforço físico, mas capacidade mínima de gerenciamento e inteligência pode contribuir para estabilizar a força de trabalho total e viabilizar uma transição menos traumática.

Não está claro se teremos uma oferta de população acima de 65 anos com tais características. Mas é no que os formuladores de políticas públicas deveriam estar focados hoje.

As pessoas não costumam agir até que percebam que estão diante de uma ameaça real. A realidade apresentada pelos números do Censo de 2022 não deixa dúvidas: o Brasil envelheceu antes de ficar rico.

Apesar de ainda estar entre as maiores economias do mundo sua participação no PIB mundial deverá cair para cerca de 2% em 2030. Já esteve perto de 4% em 1980.

Resta ao Brasil seguir o caminho da produtividade máxima na produção de alimentos

Outras regiões do mundo cresceram mais, se educaram mais, aumentaram sua produtividade e investiram em tecnologias de forma horizontal. O Brasil não seguiu o mesmo caminho.

Restou-lhe seguir o caminho da produtividade máxima na produção de alimentos, com muita tecnologia para garantir riqueza que possa manter uma renda per capita em torno de US$ 15 mil.

A vocação brasileira de produzir alimentos deverá ser a locomotiva para produtos e serviços vinculados ao setor que garantirá parte da sobrevivência das populações urbanas, 86% dos brasileiros.

Uma visão otimista do Brasil em 2040 é a de um país de 230 milhões de pessoas, com índices de imigração crescentes de jovens africanos, caribenhos e asiáticos, dirigidas para o trabalho urbano.

Uma economia comandada por brasileiros grisalhos que foram capazes de treinar seus filhos e netos para tocar um agronegócio altamente tecnificado e de alta tecnologia em todas as propriedades.

Uma indústria manufatureira acoplada ao agronegócio e um setor de serviços que absorverá centenas de milhares de asiáticos e africanos para viabilizar um futuro estável para as gerações de brasileiros que estarão nas últimas fases de suas vidas.

Christian Lohbauer é cientista político e já foi diretor-executivo de diversas entidades representativas do agro como no setor de exportação de frango (Abef), suco de laranja (CitrusBR) e CropLife Brasil