Os preços baixos de adubos no mercado externo afastaram a multinacional americana Itafos do Brasil durante um período, mas no final de 2022, com a crise no abastecimento devido à guerra na Ucrânia, a empresa voltou com tudo ao mercado nacional.
Foi nesse momento de aceleração que a empresa engatou um pacote de investimentos de R$ 100 milhões no Brasil, com previsão de aumentar esse aporte em mais R$ 40 milhões até o final deste ano.
A aposta tem trazido frutos, e só de janeiro a junho deste ano, a companhia soma US$ 17,5 milhões em receitas com a operação de Arraias (TO), um número 109% maior do que o visto nos seis primeiros meses do ano anterior. Em reais, o faturamento já ronda os R$ 100 milhões. Em volume, também foi registrado crescimento, de 97% em um ano.
Em entrevista ao AgFeed, Felipe Coutas, presidente da operação da Itafos no Brasil, disse que a perspectiva é de um terceiro trimestre, período que foi do primeiro dia de julho até o último dia de setembro, ainda melhor do que o apresentado até agora.
“É no terceiro trimestre que o grosso das entregas acontecem na nossa região, o Arco Norte. É entre junho e outubro o pico de entregas de fertilizantes. Estamos nos preparando para números robustos, e o nosso faturamento sempre dispara nesse período”, disse.
No primeiro semestre, a operação nacional somou um Ebitda (lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação) de US$ 5,4 milhões (cerca de R$ 28 milhões). O Ebitda do semestre já é 20% maior do que o resultado do ano completo de 2024.
A operação global da Itafos teve receita de US$ 262,5 milhões e um Ebitda de US$ 71 milhões no semestre.
Coutas explica que, no Brasil, dois aspectos impulsionaram o resultado. O primeiro foi o preço de fosfatados, que teve um pico no início do ano, além de uma demanda aquecida no mercado de ácido sulfúrico, que ajudou a empresa a capturar boas margens.
No semestre, as vendas de ácido sulfúrico somaram US$ 14,4 mi, enquanto que a de fertilizantes secos trouxe a arrecadação de US$ 3,2 milhões. “Foram 70 mil toneladas de ácido sulfúrico e cerca de 40 mil toneladas de fertilizantes nossos que chegaram ao mercado”, diz o presidente.
Com isso, as vendas acumuladas da operação brasileira em 2025 já superam a meta estabelecida para o ano. Em 2024, a empresa registrou uma receita de R$ 120 milhões.
A partir do ano que vem, a companhia deve ampliar a capacidade produtiva e reiniciar sua planta de superfosfato simples (SSP). A unidade de Arraias dispõe de capacidade anual para produzir 500 mil toneladas de fertilizantes fosfatados e 220 mil toneladas de ácido sulfúrico.
A empresa atua no chamado Arco Norte, com seus principais mercados no próprio Tocantins, Goiás e Bahia. A companhia ainda atende Minas Gerais, Mato Grosso e algumas regiões do Piauí.
O crescimento projetado para o terceiro trimestre deste ano vem ancorado na própria dinâmica regional, que diferentemente do Mato Grosso, tem sua época de plantio de soja começando em outubro.
“Mato Grosso é o primeiro, começando em setembro, com as entregas entre junho e julho”, citou.
A projeção de um segundo semestre até melhor que o primeiro inverte a lógica prevista pela Anda (Associação Nacional de Difusão de Adubos), que depois de um primeiro semestre com alta nas entregas, prevê um segundo semestre mais fraco, fazendo com que o ano da indústria fique estável frente a 2024.
A associação informou que, de janeiro a junho, as entregas de adubos alcançaram 20,14 milhões de toneladas no Brasil, uma alta de 10,5% em um ano.
Mas segundo Eduardo Monteiro, presidente da Anda e Country Manager da Mosaic, as vendas devem encerrar o ano próximas das 46 milhões de toneladas, número equivalente ao de 2024, mas abaixo da projeção inicial da entidade, que previa algo entre 47 milhões e 48 milhões de toneladas.
Outro aspecto que tem impulsionado os resultados da Itafos é a dinâmica de novos mercados sendo criados no Arco Norte. “A Bahia não tinha muito cultivo de milho, mas agora a Inpasa chegou na região. Devemos ver um aumento dessa área, inclusive irrigada, para sorgo e milho, e o mercado da safrinha ganhando mais corpo”, disse.
O próximo ciclo de investimentos
De 2022 até 2027, a empresa trabalhará para colocar a planta de Arraias em sua capacidade máxima.
Ao longo desse ciclo, a companhia olhou para três pilares com atenção. O primeiro foi “estancar a sangria” e voltar a operar no Brasil. O segundo foi o investimento, feito segundo ele, somente com caixa da própria empresa, para trazer essa estabilidade no fornecimento de fertilizantes.
O terceiro ponto, que deve começar em 2027, envolve uma nova pernada de crescimento em outro estado. No Pará, especificamente em São Félix do Xingu, a Itafos é dona de uma mina que, segundo o executivo, tem capacidade de produção de mais de 70 milhões de toneladas de fosfato de alto teor.
Batizado de Projeto Santana, deve englobar investimentos de US$ 400 milhões, ou R$ 2,1 bilhões, pela cotação atual, ao longo dos anos. “Com Arraias operando de forma plena, num voo de brigadeiro, faremos o investimento pesado em Santana não só para a produção de fertilizantes, mas também para atuar no mercado de nutrição animal”, projeta o presidente.
Segundo ele, esse é um dos projetos estratégicos dentro do Confert (Conselho Nacional de Fertilizantes e Nutrição de Plantas) na missão de reduzir a dependência externa brasileira de adubos.
A empresa ainda está revisando o Capex, mas segundo o presidente, o montante deve contar com captações externas, diferente da estratégia vista até agora em Arraias.
O executivo relembra que o projeto de lei que instituiu o Profert (Programa de Desenvolvimento da Indústria de Fertilizantes), o PL 669/2023, e outras entidades federais ainda não possuem linhas de financiamento específicas para esses investimentos, algo que ele acredita que pode ser destravado nos próximos anos.
A ideia, segundo Coutas, é continuar atuando na região atual, que segundo ele, “cresce muito e ainda tem potencial de desenvolvimento”.
“Não quer dizer que a Itafos será sempre uma empresa focada no Arco Norte, mas ainda há como crescer”, acrescentou.
Resumo
- Itafos faturou R$ 100 milhões no primeiro semestre no mercado brasileiro e espera 3º trimestre mais forte no Arco Norte.
- Para 2027, a empresa prepara o Projeto Santana em São Félix do Xingu (PA), com US$ 400 milhões em investimentos previstos.
- A partir do ano que vem, a empresa deve ampliar a capacidade produtiva e reiniciar sua planta de superfosfato simples (SSP).