Depois de um primeiro semestre com um bom desempenho em seus negócios de bovinos e suínos, e mesmo desafiada pela gripe aviária no meio do caminho, a Elanco, uma das maiores empresas de saúde animal do mundo, olha com otimismo para a metade final do ano.
“2025 tem sido um ano bom, ainda que com desafios, com certeza, principalmente quando falamos do mercado de avicultura", diz Fernanda Hoe, CEO da Elanco no Brasil, que conversou com a reportagem do AgFeed no estande da empresa na Expointer, feira agropecuária realizada no Rio Grande do Sul no início de setembro.
“A tendência é de que o mercado, tanto em bovinos quanto em suínos, siga aquecido e acreditamos que vamos ter um bom segundo semestre”, complementa Hoe.
Questionada sobre o quanto a Elanco pretende crescer neste ano, Hoe evita cravar um número exato, mas diz que a tendência é de que a empresa cresça “em linha com o mercado” ou “até acima em segmentos-chave”.
“A gente vem conseguindo fazer isso nos últimos anos e esse é o objetivo para esse ano e para os próximos também”, diz a executiva.
Considerando os dados do ano passado, divulgados pelo Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan), o setor de saúde animal cresceu 10,1% no período, fechando o ano de 2024 com um faturamento total de R$ 11,9 bilhões – portanto, a Elanco teria crescido pelo menos esse percentual no ano passado, seguindo a linha de raciocínio da CEO da empresa.
No caso dos bovinos, especificamente, iniciativas ligadas à sustentabilidade na pecuária estão trazendo resultados à companhia neste ano.
Um exemplo tem sido, segundo Hoe, o aumento de procura pelo Zimprova, um aditivo alimentar à base de narasina utilizado na pecuária de corte, com foco na eficiência alimentar dos animais.
O produto já vinha sendo comercializado pela empresa desde 2015, mas a demanda aumentou recentemente após a Elanco ter conseguido, no fim do ano passado, uma aprovação junto ao Ministério da Agricultura e Pecuária para que o produto recebesse, em sua bula, a indicação de que tem o potencial de reduzir a emissão de metano dos animais de 11% a 34%, a depender da dosagem administrada.
O metano é um calcanhar de Aquiles para a pecuária brasileira, pelo fato de os animais emitirem esse gás no processo de fermentação entérica, que é responsável por 92% de todas as emissões de metano registradas pelo setor agropecuário em 2023 (15,37 milhões de toneladas de metano de um total de 15,7 milhões), segundo dados do levantamento mais recente da rede Observatório do Clima.
Cada vez mais cobrados dentro do país e também no exterior pelos compradores da carne brasileira, pecuaristas e frigoríficos estariam mais interessados em diminuir a pegada de carbono em seus rebanhos – uma demanda que pode ser absorvida pelo produto da Elanco.
Desde que o produto recebeu a indicação na bula, a empresa registrou maior procura, relata Hoe. “Começamos a receber bastante demonstrações de interesse por parte dos nossos parceiros e dos pecuaristas para entender e saber mais sobre o Zimprova. Tem sido um bom ano para esse produto [em termos de comercialização]", afirma a CEO da empresa.
Além do Zimprova, a Elanco também tem um outro aditivo em seu portfólio, o Rumensin, que está completando 50 anos de mercado, e acaba de receber pela auditoria FairFood o selo de produto redutor da pegada de carbono.
De olho em acelerar o desenvolvimento da pecuária sustentável – e colher novas receitas a partir disso – a companhia também aproveitou a realização da Expointer para lançar o Eficiência Produtiva+, com o objetivo de levar informações para os pecuaristas sobre pecuária sustentável.
"Queremos levar formas que o produtor pode adotar para aumentar sua produtividade, melhorar sua eficiência e, ao mesmo tempo, contribuir com impacto positivo para o ambiente, otimizando o uso de recursos naturais e melhorando a sua própria eficiência produtiva", explica Hoe.
A ideia é aproximar os pecuaristas da temática da sustentabilidade, mostrando como as práticas sustentáveis já estão presentes no cotidiano de sua produção.
"Tem muitos produtores hoje que já tem práticas sustentáveis e que nem sabem. Um grande exemplo disso é o sistema de integração lavoura-pecuária que a gente tem no Brasil e que muitos produtos fazem e não sabem, por não olharem com essa "ótica" da sustentabilidade", diz a CEO da Elanco.
"Eles se atentam mais à ótica da eficiência do negócio, de melhor uso da terra, como mais rentável para o engócio deles e, muitas vezes, acabam não olhando pela ótica da sustentabilidade", emenda a executiva.
A intenção do programa é de promover o diálogo entre diferentes representantes do setor, e também levar dados de pesquisas científicas e informações sobre formas de manejo sustentável da pecuária aos produtores.
"Queremos gerar informação de qualidade para desmistificar algumas coisas e mostrar para o produtor como ele pode ter uma pecuária responsável, sustentável e de alta eficiência, com alto retorno econômico."
Por enquanto, o programa inicia com um podcast chamado Protagonistas do Campo, lançado em agosto, mas outras iniciativas vão ser colocadas em prática nos próximos meses, segundo Hoe.
"Esse programa não é de curto prazo. Na verdade, é a plataforma de trabalho da Elanco na área de animais de produção para hoje, amanhã e para os próximos meses e anos", projeta a executiva.
Avicultura gera expectativa
Enquanto que, nos bovinos, a Elanco está colhendo bons resultados ao longo deste ano, na avicultura, o mercado se mostrou mais desafiador para a empresa ao longo do primeiro semestre.
As dificuldades vieram a partir do caso de gripe aviária confirmado em uma granja comercial no Rio Grande do Sul em maio passado, que fez com que mais de 30 mercados – entre eles, os principais compradores, como China e União Europeia – interrompessem temporariamente as importações do frango brasileiro.
"O setor havia começado o ano de maneira excelente, com um primeiro trimestre marcado por crescimento de exportação e de demanda pelo frango brasileiro. Mas, depois da confirmação do caso de influenza, isso acabou trazendo impacto grande para a avicultura", comenta Hoe.
Como ainda nem todos os mercados voltaram a importar frango do Brasil, Hoe avalia que o momento ainda é de incerteza – inclusive sobre os impactos na própria companhia.
“Estamos na expectativa da abertura do mercado de China e Europa, que são mercados muito importantes para o Brasil. Acho que tudo vai depender da retomada desses mercados”, analisa a executiva.
No Brasil, a maior parte da receita da Elanco – cerca de 70% do total – ainda vem dos produtos destinados à animais de produção (bovinos, aves e suínos). Os 30% restantes correspondem à produtos destinados ao segmento pet.
“O setor pet continua crescendo, mas já num ritmo um pouco mais lento do que anos anteriores. A gente vê que, nesse ano pela situação econômica, há um pouco mais de limitação por parte das famílias em gastar com o seu pet, escolhendo produtos muitas vezes mais baratos e reduzindo um pouco as idas ao veterinário”, diz Hoe.
Com sede nos Estados Unidos e presença no Brasil e em mais de 90 países, a Elanco não divulga resultados da operação nacional. Globalmente, em 2024, a empresa saiu do prejuízo e voltou a registrar lucro líquido, de US$ 339 milhões.
A receita total chegou a US$ 4,4 bilhões, alta de 3% em relação ao ano anterior, já sem considerar variações cambiais nos países em que a empresa atua.
O melhor desempenho veio dos produtos para bovinos, que totalizaram mais de US$ 1 bilhão em faturamento, crescendo 7%.
A expectativa para este ano, segundo o balanço mais recente, referente ao segundo trimestre, é que a receita aumente entre 5% a 6% em relação ao número do ano passado, na faixa dos US$ 4,5 bilhões.
Resumo
- Empresas de saúde animal teve primeiro semestre positivo e vê negócios de bovinos e suínos com bom desempenho também no segundo semestre
- Um dos destaques da empresa no período foi o impulso na demanda por produto que promete reduzir emissões de metano
- Comportamento da avicultura no segundo semestre ainda gera dúvidas para a empresa, após perdas no setor em fuinção da gripe aviária