Os balanços das empresas brasileiras já começaram a trazer os primeiros reflexos da tarifa de 50% imposta pelo governo dos Estados Unidos sobre produtos importados do Brasil.
Embora a lista de exceções tenha sido extensa, diminuindo boa parte dos efeitos para a economia nacional como um todo, produtos do agro brasileiro como açúcar, café e carne bovina continuaram sendo taxados.
Assim, ao apresentar os números do primeiro trimestre do ano-safra 2025/2026 na quarta-feira, dia 13 de agosto, a companhia sucroalcooleira Jalles Machado aproveitou para apresentar também o impacto negativo da tarifa americana em sua produção de açúcar orgânico, no qual a companhia se destaca como uma das maiores produtoras e exportadoras do Brasil.
A Jalles estima que a tarifa deve gerar perda financeira de R$ 20 milhões a R$ 25 milhões, em razão da reclassificação de 15 mil a 20 mil toneladas originalmente destinadas à exportação, que passaram a ser rotuladas como açúcar cristal para comercialização no mercado interno, com menor valor agregado.
Até a adoção da medida, a Jalles diz que a perspectiva era positiva para o produto, com preços e volumes de comercialização em alta.
O volume de açúcar orgânico comercializado cresceu 92,8% no primeiro trimestre do ano-safra, com as vendas chegando a 26,4 mil toneladas, ante 13,7 mil toneladas há um ano.
Dos R$ 574,5 milhões de receita operacional bruta registrados pela Jalles no período, R$ 96,7 milhões corresponderam a vendas de açúcar orgânico para o mercado externo. As vendas para o mercado interno, por sua vez, foram bem menor, de apenas R$ 12 milhões no período.
Agora, sob um novo contexto, a companhia disse que "acompanha com atenção" e que "manifesta sua preocupação com os potenciais impactos que tal medida pode gerar ao setor e ao comércio bilateral."
A companhia informou também que "já avalia alternativas estratégicas e comerciais" para para "mitigar os efeitos da medida tarifária sobre suas operações, ao mesmo tempo em que mantém o foco na excelência operacional e na disciplina de execução, mesmo diante de um ambiente geopolítico mais desafiador”, sem detalhar, no entanto, quais exatamente são essas alternativas.
Prejuízos no trimestre
Como já havia antecipado em guidance divulgado em junho passado, a companhia teve seus resultados impactados negativamente pelo clima no começo da safra da cana-de-açúcar.
A Jalles teve um prejuízo líquido de R$ 14 milhões no primeiro trimestre do ano-safra, período que vai de maio a julho, ante um resultado já negativo de R$ 2,4 milhões no mesmo período do ano-safra anterior.
A receita líquida da companhia, em contrapartida, até cresceu 25,9%, passando de R$ 401,3 milhões para R$ 505,1 milhões, sob efeito da melhoras dos preços do etanol no período, que passou de uma média de R$ 2,80 por litro no começo do ano-safra passado para R$ 3,25 por litro agora.
Mesmo assim, esse número não foi suficiente para a queda de volumes colhidos e também de produtividade.
A Jalles moeu 2,8 milhões de toneladas de cana no primeiro trimestre, 10% a menos do que no mesmo período do ano passado, quando havia processado 3,1 milhões de toneladas. A produtividade média da cana (TCH) também foi mais baixa, chegando a 83,4%, 8,4% a menos do que há um ano.
"Essa retração decorre da combinação de fatores como temperaturas mais elevadas, menor volume de chuvas em março e herança da estiagem da safra passada", disse a Jales em seu release de resultados.
A companhia espera agora que, nos próximos meses, haja uma recuperação de sua produção, com a entrada progressiva das áreas irrigadas e efeito positivo das chuvas que ocorreram no fim da entressafra.
A produção de etanol no primeiro trimestre foi de 103 milhões de litros, queda de 28,7% em relação ao número do mesmo período do ano passado. Já a de açúcar foi de 152 mil toneladas, avanço de 12,5%.
Dessa forma, o mix de produção ficou mais equilibrado, com 52,3% correspondente a etanol e 47,7% ao açúcar - ante 63,3% de etanol e 36,7% de açúcar no mesmo período do ano-safra passado.
Apesar da queda de produção, a Jalles comercializou mais etanol no período: foram 76,9 milhões de litros, alta de 12,3% frente aos 68,5 milhões de litros vendidos no primeiro trimestre do ano-safra anterior.
A comercialização de açúcar também cresceu, passando de 76,3 mil toneladas para 91,1 mil toneladas, avanço de 19,4%.
A dívida líquida da companhia cresceu 9,9%, passando de R$ 1,68 bilhão há um ano para R$ 1,85 bilhão agora.
Resumo
- A cobrança de 50% de tarifa dos EUA sobre açúcar orgânico deve gerar perda de R$ 20 milhões a R$ 25 milhões para a Jalles Machado
- Companhia precisou redirecionar parte da produção ao mercado interno a preços menores
- No primeiro trimestre do ano safra 2025/2026, Jalles registrou prejuízo líquido de R$ 14 milhões, apesar da receita líquida 25,9% maior puxada pela alta dos preços do etanol