O Charging Bull, famosa escultura em formato de touro localizada em Wall Street, nos EUA, deve ganhar um novo parceiro também ruminante no mercado de ações americanas em breve, com a chegada de um boi bem brasileiro.

A JBS acabou de informar ao mercado que a J&F, holding dos irmãos Batista que controla a empresa, firmou um acordo com o BNDESPar, braço de participações societárias do BNDES, que ajuda a companhia a finalmente fazer sua dupla listagem, negociando seus papeis também na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE).

Pelos termos do acordo, o BNDESPar se abstém de votar na assembleia que tratará sobre o tema, cuja data ainda não está marcada, deixando a decisão de listar ou não ativos lá fora com os demais acionistas minoritários. Como contrapartida, a instituição topou receber até R$ 500 milhões caso haja uma valorização das ações do frigorífico até um patamar estabelecido pelas partes.

A J&F possui hoje 48% da companhia e, por conta disso, não pode votar na assembleia. Sem os votos do BNDES, que hoje possui 20,8% do capital da JBS, restará aos acionistas restantes a definição.

A expectativa da JBS é atrair uma base mais ampla de investidores ao listar seus papéis na NYSE, ao mesmo tempo em que atrai dólares para o negócio.

O processo de imigração para os EUA se iniciou em 2023, quando a JBS anunciou a intenção de negociar ações lá fora e vender BDRs (recibos das ações), na B3.

O mercado gostou do anúncio desde o princípio, principalmente pela possibilidade de o frigorífico ganhar novos investidores. A tarefa para ganhar o "green card" financeiro, porém, não tem sido fácil.

Nos meses seguintes, senadores dos Estados Unidos enviaram à Securities and Exchange Comission (SEC, a CVM americana) uma carta sustentando que a listagem da JBS traria riscos aos investidores do país.

Os parlamentares alegam que a empresa tem um histórico de "corrupção, abusos dos direitos humanos, monopolização do mercado frigorífico e riscos ambientais". Além disso, eles citam que a JBS prejudicaria a competitividade de suas concorrentes americanas.

Por lá, a operação conhecida como "Ban the Batistas", em referência aos irmãos Wesley e Joesley, donos do grupo J&F, chegou a contar com 15 senadores que contestavam a entrada da JBS na Bolsa de Nova Iorque.

Desde então, a JBS vem testando o apetite do investidor americano com uma série de emissões de bonds (títulos de dívida) em dólar.

Em setembro de 2023, a empresa captou US$ 2,5 bilhões no exterior. Segundo fontes do mercado financeiro ouvidas na época pelo AgFeed, a demanda dos investidores pelos títulos da JBS ficou próxima dos US$ 8 bilhões - ou seja, a empresa poderia ter captado ainda mais recursos, se quisesse. Já no início de 2025, captou quase US$ 2 bilhões para pagar dívidas de curto prazo.

A JBS tem pressa no processo, e deve convocar essa assembleia ainda no primeiro semestre, a fim de concluir o processo de dupla listagem até o final do ano.