Não é de hoje que a Bosch, uma das maiores empresas do mundo na fabricação de peças, tecnologias e serviços, atua no agro.

A multinacional alemã, que somou 91 bilhões de euros em receita total em 2023, já tem presença (embora muitas vezes discreta) no setor há muitos anos, com produtos que envolvem plantio em taxa variável e até mesmo com uma joint venture em parceria com a Basf, que atua com pulverização inteligente.

Agora, essa história ganhou um novo capítulo, mais tropical e com muitos recursos. A empresa anunciou recentemente a captação de R$ 521 milhões com o Finep e o BNDES para reforçar linhas de pesquisa e desenvolvimento no Brasil, com foco no agro.

São R$ 470 milhões da instituição de fomento e R$ 51 milhões do banco de desenvolvimento estatal. Os recursos serão aportados em pesquisa e desenvolvimento (P&D) nas áreas de mobilidade sustentável, indústria 4.0, sistemas inteligentes para o agronegócio e remanufatura de componentes automotivos. A ideia é que o investimento seja feito até 2027.

Essas captações fazem parte do programa Mais Inovação, lançado em 2023 pelo Governo Federal, e que faz parte de um programa mais amplo chamado Plano Nova Indústria Brasil (NIB).

A empresa ainda investirá “do próprio bolso” mais R$ 200 milhões na vertical, que engloba a operação nacional e argentina da divisão agrícola da Bosch.

Conforme afirmou Mathias Schelp, vice-presidente para Agricultura Inteligente da Bosch, a empresa irá estruturar um Centro de Competência global da empresa para o setor do agronegócio aqui no Brasil.

A unidade ficará em Campinas, no interior de São Paulo, e será a primeira vez que um centro do tipo será gerido a partir do País.

“Já temos atividades na cidade, mas reforçamos a atuação trazendo a liderança global da Bosch em agricultura de precisão para o Brasil”, afirmou Schelp ao AgFeed.

“É uma grande mudança e por isso aumentamos o nível de investimento. Toda nossa estratégia de agricultura inteligente global será comandada daqui”.

A escolha do Brasil se deu, de acordo com o executivo, pelas condições favoráveis do agro brasileiro e argentino, como clima majoritariamente tropical que possibilita duas safras, boa disponibilidade do agro e estabilidade geopolítica.

“Consideramos inteligente fazer essas atividades na região que tem um papel central dentro do agro global”, disse.

“Intensificamos essa atuação alinhada com temas relacionados à segurança alimentar. O lema da Bosch é ‘tecnologia para a vida’, e atuar no setor agro está vinculado com essa visão”.

Especificamente no agro, as pesquisas se darão em tecnologias que auxiliem no processo de plantio, pulverização e conectividade no campo. Em resumo, Schelp afirma que a Bosch quer ajudar os produtores a otimizarem seus recursos e melhorar a produtividade.

“O foco de toda nossa atividade de pesquisa será focado no consumidor final, nos produtores”.

Olhando para a agricultura de precisão, um dos principais mercados de interesse da companhia alemã está na aplicação de insumos em taxa seletiva. A companhia já oferece essa tecnologia ao mercado por meio do One Smart Spray, uma joint-venture que possui com a Basf.

Utilizando o xarvio, plataforma de agricultura digital da empresa de insumos, o produtor consegue identificar as áreas com mais predominância de ervas daninhas e aplicar produtos de forma mais otimizada.

Agora, além de avançar nas tecnologias já existentes, a empresa quer reforçar a atuação na chamada “agricultura inteligente”.

Schelp disse que a Bosch está desenvolvendo uma plataforma digital para o agro, que já está num estágio próximo ao lançamento. Com os novos recursos, segundo ele, a plataforma deve ganhar novas funções.

Ele afirmou que a empresa quer atuar, nessa vertente, com processamento digital de imagens, equipes dedicadas em inteligência artificial e eletrônica embarcada em implementos agrícolas.

“Estamos formando uma liderança global nessas tecnologias. Já atuamos no plantio e com pulverização e vamos fazer avanços na conectividade e digitalização”.

Considerando todos os investimentos, a estimativa é de gerar cerca de mil novos empregos nas operações brasileiras até 2027. Atualmente a companhia emprega em torno de 10 mil pessoas no Brasil.

Até lá, a ideia é desenvolver e transformar essas inovações em produtos para o mercado. Como a “cabeça” da operação de smart farming estará no Brasil, a Bosch também exportará essas inovações para outros países.

“Não é uma iniciativa que ficará somente no mercado nacional ou da América Latina”, afirmou Schelp.

Do recurso captado com o Finep, a Bosch ainda usará R$ 10,4 milhões para desenvolver uma plataforma digital inovadora para monitoramento e controle de emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) para o agro.

O projeto também faz parte do NIB e o sistema a ser desenvolvido coletará e analisará dados em tempo real das emissões. Tudo faz parte da estratégia de desenvolvimento de tecnologias que otimizem o uso de insumos agrícolas.

Fora do agro, outros R$ 9,2 milhões irão para o desenvolvimento de motores que utilizam diesel e etanol, voltado a caminhões de mineração. A ideia é também reduzir as emissões de gases poluentes.