Quem olha o balanço do final de 2023 da BRF e o documento equivalente em 2024 vê uma verdadeira virada de chave nos negócios. A empresa deixou para trás um prejuízo líquido de R$ 1,8 bilhão e encerrou o ano passado com um lucro líquido de R$ 3,7 bilhões.

A dona da Sadia e da Perdigão fechou 2024 com uma receita líquida de R$ 61,4 bilhões, 14% acima de 2024 e um recorde histórico. O lucro operacional medido pelo Ebitda (lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação), também foi recorde, alcançando R$ 10,5 bilhões.

A companhia vendeu mais em volume tanto no Brasil quanto no exterior. O CEO da empresa, Miguel Gularte, vê um “equilíbrio perfeito na oferta e na demanda no cenário internacional”. “O mercado interno vai ‘muito bem, obrigado’, com a fortaleza das nossas marcas fazendo sentido”, afirmou.

No Brasil, o Ebitda atingiu R$ 4,5 bilhões, uma alta de 45,5%. A margem avançou 4,1 pontos percentuais frente ao ano de 2023 e está agora em 15,5%. A receita registrada foi de R$ 28,8 bilhões

O destaque da operação brasileira foi nos alimentos processados, onde a BRF afirma ter atingido um share de 48%, ganhando mercado em todas as categorias do segmento. A empresa encerrou 2024 com 327 mil clientes. Ao final de 2023, eram 280 mil pontos de venda.

No mercado internacional, o Ebitda atingiu R$ 5,7 bilhões, um número cinco vezes maior que em 2023, com uma margem de 20%. Fábio Mariano, vice-presidente de finanças e RI da empresa, atribuiu os bons números a uma recuperação de preços de exportação em diversos destinos, com destaque para o Oriente Médio.

Mariano ainda ressaltou que a empresa se beneficiou de novas habilitações de exportação. Foram 84 ao longo do ano passado, acumulando 175 novos destinos desde 2022.

A receita registrada lá fora foi de R$ 28,2 bilhões, aumento de 15,6% em comparação a 2023. “Destacamos a região do GCC (Estados Árabes do Golfo) e Turquia, onde mantivemos a liderança do mercado com 37,5% e 26% de market share respectivamente”, diz a BRF em comunicado.

Leonardo Dall’Orto, vice-presidente para o Mercado Internacional e Planejamento da BRF, disse que houve um “crescimento equilibrado em diversas regiões”, sem uma grande contribuição individual para o avanço.

“Posso destacar o sudoeste asiático e o México, que se abriu para o Brasil com tarifa zerada. Notamos crescimento em todas as regiões, o que nos ajuda a diversificar e correr menos riscos se um determinado mercado não performar bem”, afirmou.

A BRF também registrou uma geração de caixa livre, e encerrou o ano com R$ 6,5 bilhões, a maior desde a criação da empresa. O endividamento atingiu R$ 8,3 bilhões e a alavancagem encerrou 2024 em 0,79 vezes. Há um ano, o indicador estava em 2 vezes.

A posição confortável e os resultados subsequentes de lucro ao longo do ano permitiram que a empresa voltasse a fazer aquisições ao longo de 2024.

Nos últimos meses do ano, a BRF adquiriu participação na Addoha Poultry Company, uma das principais produtoras de frango da Arábia Saudita e anunciou o investimento em sua primeira fábrica de processados na China. Assinou ainda um termo de acordo para aquisição de 50% da Gelprime, empresa especializada na produção, comercialização e distribuição de gelatina e colágeno.

Gularte acredita que essas aquisições aconteceram em mercados relevantes para a empresa e que os resultados já deverão ser vistos nos primeiros balanços de 2025. “Temos um plano para performar bem nesses mercados que já se mostram promissores nos primeiros meses do ano”.

Para 2025, há espaço para mais. Sem muitos detalhes, Fábio Mariano não descartou novas aquisições e investimentos fora do País, e citou que a empresa atua com disciplina financeira para escolher “novos projetos vencedores”.

“Terminamos um 2024 com uma posição financeira sólida, o que nos traz perspectivas excelentes para 2025. O negócio se encontra num excelente momento e a empresa se preparou para desfrutar e aproveitar novas oportunidades”, finalizou o CEO, Miguel Gularte.

Nem mesmo a alta do custo do milho parece preocupar a BRF. Dall’Orto cita que o equilíbrio forte entre oferta e demanda e um arrefecimento no preço do farelo e da soja no mercado compensam as altas do cereal. “Conseguimos dar estabilidade nos custos da empresa”.

Mesmo com uma leve alta nos custos no fim do ano, 2025 deve continuar a ser marcado por esse equilíbrio.

O custo dos produtos vendidos pela empresa encerrou 2024 com uma alta de apenas 1,7% frente a 2023, em R$ 45 milhões. No quarto trimestre houve uma alta de 16% quando comparado ao mesmo período do ano anterior, refletindo justamente a alta recente do milho.