Maior exportadora de frutas do Brasil, a Agrícola Famosa comercializa melões, melancias e bananas em países na América do Norte, do Sul e Europa.

Conhecido pelos clientes por entregar seus produtos em linha com os mais exigentes padrões, nos últimos anos o grupo, que em 2024 faturou R$ 1,5 bilhão, enfrentou problemas em um ponto delicado do processo: os embarques nos portos.

O cenário de atrasos nos embarques não é exclusividade de um único setor. Nos últimos anos, o aumento do fluxo nos portos, somado à falta de investimentos na modernização dos terminais, sobrecarregou os navios disponíveis e causou dores de cabeças ao agronegócio brasileiro.

Cansado de perder o sono e colocar em risco a qualidade de suas frutas, Carlo Porro, um dos fundadores da Famosa, decidiu agir. Assim, há cerca de três anos, ele “voltou às origens” e contratou um serviço de break bulk, que consiste na locação de navios com porões refrigerados para fazer as rotas de exportação de acordo com as necessidades do cliente.

“Era assim que fazíamos no início da empresa, mas com a chegada dos contêineres, com custo menor, passamos a exportar nesse formato, até começarmos a ter problemas com os atrasos”, revela Porro.

Com o “novo velho modelo”, Porro conta que o custo é um pouco mais elevado, mas existe a garantia de que os produtos chegarão ao destino dentro do prazo, sem atrasos e o mais importante: com a qualidade requerida pelos clientes.

“Funciona como um reloginho. E com isso, é possível também expandir o market share nos países que já atuamos, porque conseguimos garantir prazo e qualidade”, avalia.

No fim das contas, ao colocar na balança o valor do frete, o prazo de entrega e a satisfação do cliente, o custo acaba sendo menor. “É a diferença entre andar de transporte público ou andar de Uber black”, explica.

A experiência com o break bulk foi tão positiva que, no ano passado, das 200 mil toneladas de frutas exportadas pela Famosa, 60% saíram do país por esse sistema, percentual que deve crescer ainda mais nos próximos anos.

Atenta à oportunidade, no ano passado a Agrícola Famosa decidiu transformar o seu modelo em um novo negócio do grupo. Assim, em 2024 nasceu a TopLink, empresa focada na logística de exportação de frutas.

E cliente é o que não falta para ela. Já no primeiro ano de operações, a nova companhia contou com uma carteira recheada com alguns dos principais nomes do mercado de frutas.

É o caso da Agropecuária Roriz Dantas (AgroDan), maior exportadora de mangas do Brasil. Paulo Dantas, fundador do grupo que cultiva 1.125 hectares de manga em Pernambuco e Bahia, conta que a primeira experiência com o sistema de embarque foi bastante positiva.

Das 26,7 mil toneladas de mangas exportadas pela Agrodan em 2024, cerca de 3,7 mil toneladas foram embarcadas pela TopLink.

“Esse ano esperamos que a nossa produção cresça entre 10% e 15% e queremos que os embarques com a TopLink sigam esse mesmo ritmo”, afirma Dantas.

No caso das mangas, o “prazo de validade” gira em torno dos 30 dias. “Os armadores se comprometiam em levar a carga, mas por conta dos navios cheios, deixavam para trás 5, 6 contêineres até a próxima semana. Quando aparecia o próximo navio, a qualidade das mangas já estava comprometida”.

Menor qualidade significa menos dinheiro no bolso, já que os clientes, ao receberem as frutas, fazem uma avaliação da carga e descontam do pagamento o valor referente às frutas fora dos padrões estabelecidos.

“Esse sistema foi fundamental para escoar toda a nossa produção no ano passado. Sem eles, teríamos ficado em maus lençóis”, pondera Dantas.

A depender do período do ano, entre 4 e 5 navios com capacidade para transportar 5,5 mil toneladas de frutas se revezam semanalmente no porto de Natal para carregamento da TopLink. De lá, eles vão até a Espanha, seguindo para Roterdã até chegar ao porto de Dover, na Inglaterra.

Nos porões refrigerados são enviados principalmente os melões da Agrícola Famosa. Já na parte externa dos navios, há capacidade para 50 contêineres para atender aos clientes. Nesse sistema, o contratante da rota é o responsável por fazer o transporte e também dispor da estrutura de carregamento.

A Famosa investiu também na construção de dois terminais cross dock, um no porto de Natal e outro em Fortaleza, para fazer o embarque das cargas. Porro conta que o grupo também fez o arrendamento de uma área no porto de Natal para construir a estrutura necessária para todas as operações.

Ainda em 2024, foram adquiridos 72 caminhões para o transporte das cargas. “Investimos alguns milhões nessa operação”, explica, sem revelar o montante.

Por enquanto, ele considera que o arrendamento dos navios está atendendo com excelência às demandas da TopLink. Mas não descarta investir em navios próprios no futuro, caso a demanda aumente. “O futuro a Deus pertence”.

Por enquanto, a Top Link opera apenas com navios de 5,5 mil toneladas, mas Porro planeja arrendar navios maiores para ampliar a capacidade de embarques. “Temos sido procurados por outros produtores, interessados em contratar o serviço”, revela.

Ele explica ainda que o modelo abre a possibilidade de expandir as vendas de melões da Famosa para outros mercados, como o asiático. “Ainda não chegamos lá porque o tempo de transporte das rotas convencionais ultrapassa o prazo de durabilidade dos nossos produtos”.

Uma vez carregados, os navios saem do porto de Natal (RN) e demoram em média dez dias para chegar na Espanha. Porro explica que com o modelo, conseguem economizar no mínimo uma semana no processo, o que, em se tratando de frutas, faz toda a diferença.

Essa economia de tempo tem sido crucial também para os embarques de uvas da Cooperativa Agrícola Nova Aliança (Coana), de Petrolina.

O presidente da entidade, Edis Ken Matsumoto, conta que depois de enfrentar inúmeros problemas com atrasos nos portos e receber reclamações de clientes sobre a qualidade das frutas, eles encontraram na TopLink o caminho para sanar o problema.

“Fizemos o primeiro envio de uvas em 2024 e a experiência foi fantástica. O custo é um pouco mais alto, mas temos a garantia da qualidade e do prazo e nossos clientes ficaram muito satisfeitos”, avalia Matsumoto.

Ele relata ainda que foi até o porto de Roterdã, na Holanda, para acompanhar o desembarque das uvas e ficou impressionado com a rapidez com que o trabalho é feito. Com os bons resultados, a ideia é repetir a experiência neste ano. “Queremos ampliar essa parceria nesse ano”, revela.