Anunciada em junho do ano passado e prevista para ser concluída até o final de 2024, o fechamento da aquisição da Viterra pela Bunge, que forma uma supertrading, pode ficar para o ano que vem.
Em uma teleconferência para apresentar os resultados da companhia no terceiro trimestre deste ano, o CEO da Bunge, Greg Heckman, disse que tem conversado com autoridades relevantes e trabalhando para obter as poucas aprovações regulatórias que faltam.
Com sinal verde no Brasil e na União Europeia, a companhia ainda aguarda os órgãos antitruste da China e do Canadá.
Ainda assim, Heckman disse que não espera “nenhum problema que possa impactar material e puramente a economia do acordo”.
O grande problema está no Canadá, terra local da Viterra. Lá, além da forte presença da comprada, a Bunge também possui uma participação na G3 Global Holdings, joint venture com uma empresa saudita.
O acordo avaliado em US$ 18 bilhões (sendo US$ 8 bilhões em compra de ações e o restante assumindo dívidas) cria uma gigante com um valor de mercado estimado em US$ 25 bilhões, e coloca a Bunge como um peso pesado na briga contra Cargill e ADM.
Mesmo sem o fechamento do negócio em alguns países, a Bunge já começa dar as primeiras cartadas na nova estrutura.
Numa demonstração de confiança com o andamento dos processos regulatórios, a Bunge comunicou em setembro que, como previa a transação de aquisição da empresa suíça, que vai começar a assumir dívidas emitidas pela Glenncore, antiga controladora da Viterra.
No comunicado ao mercado, o grupo americano oferece a substituição, por papéis emitidos por sua subsidiária financeira Bunge Limited Finance Corp (BLFC), de cinco séries de títulos de dívida (bonds) da Viterra, com vencimentos entre 2026 e 2032, que somam US$ 1,95 bilhão.
Lucro em queda, mas melhor do que o esperado
Além da declaração sobre a fusão, o CEO comentou sobre os resultados do terceiro trimestre da Bunge durante a teleconferência realizada mais cedo.
De julho a setembro, a Bunge registrou um lucro líquido de US$ 221, uma queda de 40,7% na comparação com o mesmo período de 2023. A receita líquida recuou 9,3% nessa comparação, e atingiu US$ 12,9 bilhões no período.
No acumulado do ano até agora, a empresa lucrou US$ 535 milhões, praticamente um terço do anotado de janeiro a setembro de 2023. A receita acumulada em 2024 é de US$ 39,6 bilhões, 11,3% menor que no intervalo equivalente do ano anterior.
No balanço, a empresa pontuou que fez movimentos importantes no período, como a venda de sua parte da BP Bunge Bioenergia para a BP, e segundo Greg Heckman, a Bunge conseguiu “provar o valor de sua pegada global, modelo operacional e abordagem”.
“Isso ressalta o benefício de maior diversificação entre geografias e culturas que nossa combinação com a Viterra trará”, acrescentou.
As vendas do segmento “agronegócio”, maior da Bunge, recuaram 8% em um ano, mesmo com um volume 5% maior. Já as vendas líquidas do segmento de “óleos refinados e especiais” caíram cerca de 15% em meio a um aumento de 2,4% nos volumes.
Apesar dos bons resultados na América do Sul, a empresa citou uma “fraca margem de processamento de oleaginosas na América do Sul e na Ásia”.
Mesmo com a queda nas receitas e lucros, Greg Heckman disse que os resultados superaram as expectativas. "Observamos mudanças nos ambientes de margem em todo o mundo, com margens melhores em algumas regiões compensando condições mais moderadas em outras", afirmou.