Foi uma manhã agitada no QG da Basf, na Alemanha, nesta quinta-feira 26 de setembro. Logo cedo, em uma ligação interna com os funcionários, o CEO da empresa, Markus Kamieth, confirmou que o maior grupo químico do mundo passará por uma grande transformação.

E ela incluirá, como indicavam rumores, a venda de ativos e a listagem em separado na bolsa de valores da divisão agrícola da companhia.

Ainda antes da abertura dos pregões da quinta na Europa, Kamieth fez outro anúncio, esse voltado aos investidores. E as notícias também não foram boas: diante do agravamento de uma crise industrial na Alemanha, que vem desde o início do conflito na Ucrânia – que tumultuou mercados e impactou o fornecimento de gás e energia no país –, a companhia decidiu cortar em um terço os dividendos a serem pagos a seus acionistas.

O IPO dos negócios agrícolas, segundo informou o CEO aos seus liderados, deve ser parcial e ainda não tem data definida. A expectativa é de que novos detalhes sobre a operação comecem a ser divulgados ainda nesta quinta-feira.

O segmento é responsável por receitas de 10 bilhões de euros anuais (em torno de R$ 61 bilhões, pelo câmbio atual), cerca de 15% do faturamento total da companhia. Segundo informações da agência Reuters, Kamieth acredita que o mercado de ações hoje subestima as perspectivas de lucro dessa unidade.

A decisão de listá-la em separado poderia, desta forma, dar mais visibilidade a essa área, gerando uma maior valorização para o grupo como um todo.

Outro negócio da Basf cujo destino está em análise é o de revestimentos, que tem entre seus principais clientes as montadoras alemãs Volkswagen e Mercedes-Benz, que também sofrem com a crise no país.

Uma opção considerada, segundo o próprio CEO teria admitido, de acordo com uma gravação da conversa com os funcionários obtida pela Reuters, seria a venda dessa unidade.

No Brasil, especificamente, uma das hipóteses avaliadas é a venda da Suvinil, marca de tintas da companhia no País.

O plano de Kamieth é passar a tesoura nas despesas da companhia, reduzindo em até 2,1 bilhões de euros (mais de R$ 12 bilhões). Para isso, considera inclusive desativar novas linhas na sua maior planta, em Ludwigshafen, que já teve parte de suas operações paralisadas.

Para os acionistas, neste momento, isso significa ver os dividendos reduzidos dos 3,40 euros por ação – valor recebido no ano passado e que a empresa prometia repetir agora –para 2,25 euros.

Além disso, a Basf disse que deve iniciar em 2027 uma operação de recompra de ações, que pode chegar a 4 bilhões de euros (R$ 24 bilhões). Somada aos pagamento de dividendos, a companhia espera destinar aos acionistas um total de 12 bilhões de euros até 2028.

Assim que os pregões começaram a funcionar na Europa, os investidores mostraram seu descontentamento com as novidades. As ações da Basf abriram o dia em queda de quase 3%. Elas já caíram mais de 10% este ano e perderam um terço de seu valor desde o início da guerra da Ucrânia.