A gestora Patria Investimentos já tem uma longa lista de investimentos em diferentes teses associadas ao agronegócio. Ainda não havia, entretanto, colocado os pés na cada vez mais concorrida área do reflorestamento.
A estreia no segmento foi anunciada nesta terça-feira, 17 de setembro, com o lançamento do seu primeiro fundo voltado para investimentos no plantio de florestas em áreas degradadas.
O Patria almeja levantar US$ 100 milhões, prometendo retorno aos investidores em 15 anos, com rendimentos (em dólar) de até 12% ao ano.
Mas, diferentemente de outros investimentos do tipo, que costumam concentrar seus recursos em projetos em biomas com hisórico mais recente de desmatamento, como a Amazônia, a opção do Patria é focar na Mata Atlântica.
“Nosso fundo se diferencia de alguns outros porque não se concentrará na compra de terras em áreas remotas, como na região amazônica, e também não plantará florestas comerciais de eucalipto ou pinheiros”, disse José Augusto Teixeira, presidente do Patria no Brasil, à Bloomberg.
Mais próximo dos grandes centros urbanos e do litoral brasileiro, o bioma tem um histórico secular de degradação e hoje mantém apenas 29% de sua cobertura original de 1,3 milhões de quilômetros quadrados preservada.
O fundo mira a Mata Atlântica justamente por entender que esse é o bioma mais degradado do Brasil, mas também com melhor infraestrutura e mais perto das grandes cidades do País, além de ser o único protegido pela legislação nacional.
A captação envolve aportes feitos por investidores no Brasil. Sócios da gestora e investidores pessoa física de alto poder aquisitivo já aportaram no fundo e bancos de desenvolvimento e organismos multilaterais também devem entrar no veículo, que tem Beatriz Lutz como gestora.
A ideia do fundo é adquirir terras em paisagens degradadas, que sofreram reduções significativas em sua biodiversidade, restaurando florestas naturais, com o plantio de espécies nativas como ipê e jacarandá, e exóticas, como o mogno.
O Patria também pretende desenvolver "ecossistemas agrícolas simbióticos" como cacau e café, segundo Teixeira.
O retorno aos investidores deve vir com a comercialização de créditos de carbono, produtos agrícolas e madeira exótica.
Na empreitada, o Patria terá o apoio da startup Pachama, com sede nos Estados Unidos, e que usa tecnologia de inteligência artificial para estimar a quantidade de carbono armazenada nas árvores.
A Pachama vai contribuir com o Patria para o monitoramento, proteção e avaliação das áreas a serem compradas.
Criada há apenas seis anos, em 2018, a startup já recebeu investimento do fundo Breakthrough Energy Ventures, liderado pelo fundador da Microsoft, Bill Gates, e do Climate Pledge Fund, corporate venture capital da Amazon.
A Pachama nasceu como um marketplace de créditos de carbono, mas encontrou uma forma de escalar a operação ao criar tecnologias que facilitam a geração de créditos de carbono.
Com algoritmos de inteligência artificial, machine learning e dados de satélite, a startup conseguiu desenvolver uma tecnologia que elimina a necessidade de ter equipes na floresta para avaliar o tamanho, o volume estoque de carbono das árvores – um gargalo na hora de certificar projetos de descarbonização.
Além da tecnologia envolvendo IA, a empresa também possui projetos de reflorestamento em oito países, incluindo o Brasil, com mais de 1 milhão de hectares protegidos. O site da startup lista, no momento, cinco projetos no País, situados na Amazônia e na Mata Atlântica.
Com isso, além de ter investidores de peso por trás, a Pachama também atraiu a atenção de companhias de grande porte.
Desde 2021, por exemplo, a startup é parceira estratégica do Mercado Livre no Regenera America, programa da gigante do e-commerce que investiu pelo menos R$ 40 milhões no projetos, até o momento reflorestou 5.574 hectares e plantou 822.399 árvores.
A startup faz o mapeamento, gestão e monitoramento dos projetos apoiados pela iniciativa do Mercado Livre - exatamente as mesmas funções que deve fazer no fundo do Patria.