As queimadas que devastaram o interior de São Paulo nos últimos dias deixam um rastro de destruição econômica sem precedentes na agropecuária do estado.

Segundo um relatório preliminar divulgado pela Secretaria Estadual de Agricultura de São Paulo, os prejuízos na agropecuária chegam a R$ 1 bilhão.

O levantamento indica que pelo menos 3,8 mil propriedades rurais foram atingidas, em 155 municípios paulistas.

Entre os setores mais impactados, segundo o governo paulista, estão pecuária de corte e leite, cana-de-açúcar, fruticultura, borracha e apicultura.

Em entrevista ao AgFeed, o presidente da Federação de Agricultura e Pecuária de São Paulo, Tirso Meirelles, disse que 70% das áreas afetadas pelos incêndios são canaviais.

No início da tarde, o dirigente já calculava R$ 900 milhões em prejuízos, valor próximo ao relatório divulgado no fim do dia pela secretaria.

O cálculo da Faesp leva em conta apenas os custos de recuperação das terras, sem incluir os danos a máquinas, equipamentos e infraestruturas rurais.

“Só para recuperar a terra, podemos considerar entre R$ 15 mil e R$ 20 mil por hectare, o que nos leva a um impacto financeiro muito significativo. E isso sem contar os prejuízos indiretos, como a queda na produção de leite e na pecuária de corte”, explicou.

Segundo boletim do Centro de Tecnologia Canavieira, a produtividade dos canaviais colhidos no mês de julho no Centro-Sul atingiu a média de 86,6 toneladas por hectare, 12,1% inferior à registrada no mesmo mês da safra 2023/2024.

Durante a safra atual (de abril a julho), a produtividade permanece semelhante à do ciclo anterior, apresentando uma redução de cerca de 5,6% — 88,7 toneladas por hectare nesta safra, em comparação com 94 toneladas por hectare no ciclo anterior.

Além dos prejuízos diretos na produção, há uma preocupação crescente com o endividamento no setor, que, além de perderem suas colheitas, enfrentam dívidas de custeio e investimento, segundo o dirigente.

Para mitigar os efeitos, ações para o fortalecimento do seguro agrícola e a disponibilização de linhas de crédito para os produtores estão sendo elaboradas.

"Estamos trabalhando em conjunto com as secretarias de habitação e agricultura para garantir que os pequenos produtores possam se reerguer e continuar suas atividades", afirmou Tirso.

Ações das usinas sobem

Outro impacto dos incêndios nos canaviais em São Paulo foi a alta no preço do açúcar, que acabou beneficiando o desempenho das empresas do setor sucroenergético listadas na B3.

Os contratos futuros de açúcar em Nova York subiram mais de 3% nesta segunda-feira.

Com esse cenário, a produtora de açúcar e etanol São Martinho liderou a alta entre as empresas do setor na B3, com 3,58% de valorização, cotada a R$ 30,40.

A Jalles Machado subiu 2,64% e a Raízen, que chegou a paralisar operações em uma usina de Sertãozinho, na sexta-feira, fechou com leve alta de 0,92%. As operações no Bioparque Santa Elisa, da Raízen, já foram retomadas.

A São Martinho afirma que aproximadamente 20 mil hectares de cana-de-açúcar foram atingidos pelo incêndio.

“A cana-de-açúcar atingida será processada nos próximos dias sem impactos significativos no Açúcar Total Recuperável – ATR em relação ao Guidance de Produção para Safra 2024/20251, mas com redução na eficiência industrial na conversão em açúcar. Com isso, estima-se uma redução de 110 mil tons de açúcar, compensada por um aumento proporcional na produção de etanol”, diz o comunicado da empresa.

O texto também anuncia investimentos de R$ 70 milhões para preservar a produtividade nas safras seguintes.

Fogo no berço genético da raça Nelore em SP

O Instituto de Zootecnia de Sertãozinho, referência no melhoramento genético da raça Nelore, também enfrenta desafios significativos devido às queimadas.

Em comunicado, a Diretoria do Centro AP&D Bovinos de Corte do IZ informou que todas as áreas da unidade foram atingidas por um incêndio devastador desde 22 de agosto de 2024. “Todos os animais de terceiros que estão aqui, em prova de ganho de peso, testes de eficiência alimentar e outros contratos estão bem, em segurança”, afirma a nota.

Os prejuízos financeiros dessas áreas experimentais ainda estão sendo calculados, disse o Instituto.

Em diversas propriedades rurais do interior paulista há relatos da chegada do fogo próxima aos rebanhos. Em uma fazenda em Itipira, 70 cabeças de gado romperam a cerca para fugir das chamas e apenas uma parte foi recuperada.

Um dos mais tecnificados pecuaristas do País, Victor Campanelli, também teve uma área de sua fazenda atingida pelo fogo. Segundo relatos, as chamas atingiram 3 mil hectares da fazenda. Procurado pelo AgFeed, o empresário não quis comentar.