Depois da tempestade vem a calmaria? Pelo menos para o mercado de Fiagros parece que sim. Depois de um primeiro semestre mais complexo, os fundos do tipo negociados na B3 viram suas cotas subirem nas últimas semanas.

Além disso, o mercado dá sinais de ter voltado a ter apetite para novas emissões. Segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) divulgados na quarta-feira, 14 de agosto, o apetite dos investidores levou ao melhor resultado mensal desde 2012 em emissões de todos os títulos (debêntures, CRAs, CRIs, Fiagros, FIIs, FIDCs e etc.).

Nos Fiagros, foram R$ 465 milhões emitidos durante o mês, segundo melhor período do ano, só ficando atrás de abril, quando foram emitidos R$ 498 milhões. Entre maio e junho deste ano somados, foram R$ 437 milhões em emissões.

A oferta de CRAs também avançou e somou R$ 5,3 bilhões no mês de julho, impulsionada principalmente por uma emissão de R$ 2 bilhões da BRF.

Há outros sinais positivos que podem indicar uma reversão de humor no mercado de fundos e títulos voltados para o agronegócio. O Índice de Fundos de Investimentos do Agronegócio (IFIA), criado pela Genial Investimentos para avaliar o desempenho dos Fiagros, mostra um avanço de 4% do início de julho até a metade de agosto, passando de 107 para 111 pontos. Durante o primeiro semestre, o IFIA retraiu 3,5%.

Esse indicador possui 16 fundos do agro listados na B3 e serve para medir o rendimento das cotas de cada um.

Na avaliação de Fernando Siqueira, head de research na Guide Investimentos, essa recuperação recente reflete uma mudança de perspectiva dos investidores em relação à evolução da taxa Selic e também da depreciação do real frente ao dólar nesse período.

“O real em queda implica em preços melhores para os produtores rurais (e, indiretamente, menor risco de inadimplência). Além disso, os Fiagros passaram a subir em junho, justamente quando o Copom confirmou que tinha finalizado o ciclo de corte de juros”, comentou.

Ele explica que como os Fiagros possuem remunerações indexadas ao CDI, que é relacionado à Selic, uma interrupção nos cortes da taxa básica de juros faz com que o retorno aos investidores se estabilize.

A tempestade

No início do ano, pipocavam os registros de aumento de pedidos de recuperações judiciais e quebras de safra de alguns produtores por conta de problemas climáticos. O cenário pesou não só nas contas e no bolso dos próprios produtores, mas também nos milhares de investidores do agro.

Um estudo da Bloxs Capital Partners publicado em junho mostrou que quase 90% Fiagros (Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais) listados tiveram queda no valor de mercado no acumulado do ano até então. Na média, a retração, por fundo, foi de 8,4%.

Siqueira, da Guide, acredita que além da queda da Selic durante o primeiro semestre, a baixa do preço dos grãos, que aumentou a perspectiva de inadimplência nas operações de crédito, assustou o mercado.

“Dado que os preços já começaram a se recuperar (pelo menos em reais), este risco está diminuindo em nossa visão”, afirmou. No último dia de 2023, o dólar estava cotado a R$ 4,85. Na quinta-feira, 15 de agosto, a cotação chegou a R$ 5,49, alta de 13%. Esse movimento fez com que alguns produtores acelerassem também as vendas de grãos que estavam guardados.

Outro estudo mais recente da Bloxs, ao qual o AgFeed teve acesso, mostrou que o volume financeiro de emissões do agro foi de R$ 19,3 bilhões no primeiro semestre deste ano, em 76 lançamentos.

No mesmo período em 2023, foram R$ 19,3 bilhões em volume financeiro e 96 emissões. Ambos os montantes são impulsionados principalmente por CRAs.

O volume médio das operações subiu, e passou de R$ 168 milhões no ano passado para R$ 254 milhões de janeiro a junho deste ano.

Guilherme Sharovsky, Líder de Crédito Corporativo da Bloxs Capital Partners e responsável pelo estudo, avalia que as emissões estão mais concentradas, principalmente de CRAs em grandes empresas como a SLC, que emitiu R$ 1 bi no mês passado.

“Muitas empresas listadas emitiram CRA, o que explica essa concentração. Além disso, o prazo das emissões subiu de um ano para cá, indo de 5,1 anos para 6,3”, conta.

Os Fiagros mais rentáveis

Mesmo diante das turbulências de um primeiro semestre mais cauteloso, alguns fundos passaram ilesos pelo movimento.
Um levantamento da Grana Capital, obtido em primeira mão pelo AgFeed, mapeou, dentre os 21 Fiagros mais negociados na Bolsa, quais foram os mais rentáveis no período de doze meses até julho deste ano.

O levantamento considerou a rentabilidade a partir dos pagamentos de dividendos e da valorização da cota no período. Na soma dos dois indicadores, treze dos fundos analisaram tiveram rendimentos positivos no período, mas as dificuldades do período ficaram expressas no desempenho negativo de oito dos veículos analisados.

O primeiro da lista entre os mais rentáveis é o Inter Amerra Fiagro (IAAG11), oriundo de uma parceria entre o banco brasileiro e a gestora americana. No levantamento da Grana, o fundo trouxe uma rentabilidade de 28,46%.

Em uma entrevista recente ao AgFeed, a gestora de crédito privado da Inter Asset, Marianne Moraes, afirmou que a Amerra entra como uma consultora na análise de crédito e na relação com os produtores.

A gestora dos EUA possui cerca de US$ 2 bilhões em ativos do agro brasileiro. No fundo, são cerca de 14 operações divididas entre produtores, comercializadores e usinas. “Nós analisamos cerca de 60 emissores para montar o fundo, e ficamos apenas com 14. o processo de escolha é bem criterioso", disse.

O segundo melhor rendimento foi do Fiagro da gestora Sparta (CRAA11), com 17,97%. O outro fundo a oferecer retorno de dois dígitos foi o SNAG11, da Suno, com retorno de 13,29% no intervalo.

Recentemente, o SNAG11 iniciou um follow-on para captar até R$ 351 milhões, mostrando que está com apetite no mercado.
O SNAG11 combina ativos de diversas regiões e culturas agrícolas. Entre eles, há uma presença razoável em grãos, já que o fundo inclui um CRA da Boa Safra Sementes, mas também duas operações de café (um produtor do Sul de Minas Gerais e um FDIC com a fintech BigTrade) e até de leite (da Leitíssimo).

O critério mais rígido nessa seleção, segundo afirmou em entrevista recente ao AgFeed, Octaciano Neto, diretor de Agronegócios da Suno, é a capacidade de pagamento, trazer clientes que tenham capacidade de geração de caixa "acima da média".

"Somos um fundo high grade, que foca em operações mais seguras, mas pode ser de qualquer setor, qualquer região do Brasil", explicou.

Completam o top five dos maiores retornos no estudo da Grana Capital os Fiagros da Kinea (KNCA11) e da Riza (RZAG11), com rendimentos de 9,42% e 7,31%, respectivamente.