Em fevereiro passado, ao divulgar os resultados do ano passado, a fabricante de máquinas agrícolas e de construção CNH não dourou a pílula. Admitiu que teria tempos difíceis pela frente e previu uma queda de até 15% nas vendas neste ano.
Quase um semestre depois, a previsão negativa tem se mostrado até conservadora. Nesta quarta-feira, 31 de julho, novamente ao apresentar um relatório financeiro, a companhia atualizou as estimativas, ampliando o espaço para queda para até 20%.
Multinacional com presença global, a CNH sente impactos vindos de todas as regiões em que atua. Nos principais mercados, obviamente, os impactos acabam sendo maios sentidos.
No Brasil, por exemplo, a companhia confirmou, nesta mesma quarta, que, diante de vendas fracas, suspendeu a produção de colheitadeiras e plataformas em sua fábrica de Curitiba, no Paraná.
É mais uma entre uma série de medidas tomadas pela empresa ao longo dos últimos meses. Um plano de reestruturação anunciado no fim do ano passado resultou em seguidas rodadas de cortes de pessoal, inclusive com a redução de postos de comando.
Em junho passado, dois dos principais líderes do grupo, o então CEO Scott Wine, e o agora ex-presidente da divisão agrícola, Derek Nielson, anunciaram sua decisão de deixar a empresa.
Coube ao novo CEO, Gerrit Marx, revisar para baixo as expectativas de vendas e de lucro para este ano, influenciadas justamente pela divisão de agricultura.
Nesse segmento, no segundo trimestre, as receitas foram 20% menores, atingindo US$ 3,91 bilhões, com lucro ajustado de US$ 536 milhões, ante US$ 821 milhões um ano antes.
A receita consolidada, que considera a divisão de agricultura, construção e os serviços financeiros da CNH, foi 16% menor na base anual, alcançando US$ 5,48 bilhões de abril a junho.
“A CNH continua os seus esforços para melhorar as margens ao longo do ciclo com os programas de redução de custos anunciados anteriormente, centrados nos custos dos produtos e nas despesas SG&A (vendas, gerais e administrativas) para compensar parcialmente o impacto da menor demanda da indústria”, comentou a companhia em seu relatório financeiro.
Os efeitos das medidas, aparentemente, devem demorar a ser sentidos. Isso porque, além da queda de vendas, a CNH projeta redução nas expectativas quanto a sua margem operacionais ajustada. A nova estimativa é de que fique entre 13% e 14%, contra 13,5% a 14,5% na anterior.
Apesar de revisar números para baixo, as ações da empresa com sede no Reino Unido subiram, após o anúncio dos resultados, perto de 5% na Nasdaq, nos Estados Unidos, na maior cotação desde maio.
2º tri de quedas para CNH
Isso acontece porque, apesar de virem ruins, os números estavam dentro dos patamares esperados pelos analistas – o que não aconteceu com a AGCO, na véspera.
No segundo trimestre, encerrado em junho, a CNH Industrial reportou queda de 38% no lucro líquido consolidado, para US$ 438 milhões. Já o lucro ajustado somou US$ 485 milhões, abaixo dos US$ 711 milhões apurados no mesmo período de 2023.
Segundo a CNH, o desempenho do segmento foi resultado dos menores volumes de remessas em meio à redução da demanda da indústria e das necessidades de estoque dos revendedores em todas as regiões de atuação.
Na América do Norte, as vendas de tratores de até 140 HP caíram 11% no comparativo anual, enquanto a de veículos acima disso subiram 2%. A comercialização de colheitadeiras diminuiu 5% no mesmo período.
A tendência segue negativa na América do Sul, com recuos de 10% na demanda por tratores e de 26% para colheitadeiras – o que explica, de certa forma, a suspensão da produção em Curitiba.
Nessa unidade, a produção já havia caído 41% em relação ao ano passado e a de plataformas, 34%. A paralisação temporárias das duas linhas foi, segundo a empresa, negociada com os sindicatos e deve se estender por dois meses, começando no dia 2 de setembro.
Em nota enviada ao AgFeed, a empresa afirmou que “considerando o cenário atual e as tendências de mercado, a CNH mantém um diálogo transparente com os representantes dos trabalhadores em busca de soluções para superação dos desafios do setor de máquinas agrícolas”. As negociações, prossegue, “buscam equilibrar a necessidade de ajustar momentaneamente as expectativas conforme as novas projeções de mercado”.