Lapa é uma das cidades mais antigas e históricas do Paraná. Localizada na Região Metropolitana de Curitiba, com menos de 50 mil habitantes, o município é conhecido também por ser sede e local de nascimento do Grupo Potencial, que produz e distribui combustíveis.

O histórico município testemunha agora uma bilionária ampliação dos negócios do grupo, com a construção de uma esmagadora de soja com a finalidade de produzir biodiesel. A obra deve ficar pronta em julho de 2026.

Em conversa com o AgFeed, o vice-presidente de Operações do Grupo Potencial, Carlos Eduardo Hammerschmidt, filho do empreendedor que fundou a companhia há 30 anos, detalhou os investimentos nessa nova unidade.

“Na primeira fase da obra, vamos investir R$ 1,7 bilhão para ter uma capacidade para esmagar até 3,5 mil toneladas de soja por dia. Está prevista uma segunda fase, que quando concluída, vai elevar essa capacidade para 7 mil toneladas por dia”, conta Hammerschmidt.

Com a segunda fase, a estimativa de investimento total é de R$ 2,5 bilhões. “O custo dessa outra etapa é menor, porque boa parte da estrutura já estará pronta”, explica.

O faturamento atual do Grupo Potencial gira em torno dos R$ 10 bilhões. Hammerschmidt afirma que com o início das operações na primeira fase da esmagadora, esse número vai chegar próximo de R$ 13 bilhões por ano. “Com a segunda fase, o faturamento pode chegar a R$ 15 bilhões”.

A execução do plano desta esmagadora, que ficará dentro do complexo onde se localiza o grupo, foi adiada em quatro anos, segundo o executivo.

“Nós sentíamos a necessidade de ter uma maior segurança jurídica para tornar o investimento em biodiesel viável no Brasil. A partir da aprovação do Projeto de Lei dos Combustíveis do Futuro (na Câmara dos Deputados em março), tivemos essa segurança para iniciar o projeto”.

A divisão do projeto em duas fases serve para que o grupo possa sentir a temperatura do mercado nos próximos anos. “O aumento da mistura de biodiesel no diesel vai trazer uma demanda maior. Queremos ver a evolução após essa primeira fase para executar a segunda parte”, afirma Hammerschmidt.

A projeção do mercado é de crescimento de dois dígitos na produção de biodiesel em 2024. No ano passado, foram 7,5 bilhões de litros. As projeções para este ano são de 8,5 bilhões de litros, o que representa um crescimento potencial de 13%.

O Grupo Potencial projeta crescer a um ritmo quase 3 vezes superior ao do mercado. No ano passado, foram quase 600 milhões de litros de biodiesel produzidos. Para este ano, Hammerschmidt projeta até 800 milhões de litros, o que representaria aumento de 35%.

Com a construção da esmagadora, o Grupo Potencial vai ocupar uma área de 1,2 milhão de metros quadrados. “A nossa atividade é um exemplo da importância de ter uma indústria mais forte no Brasil, principalmente em uma cidade como a nossa. Hoje, exportamos 70% da soja. Tendo uma esmagadora, eu gero empregos e arrecadação de impostos aqui”.

Ele ressalta que hoje, o Potencial gera cerca de 300 empregos. Com a esmagadora de soja, o número de vagas vai chegar a 600.

O VP do Grupo Potencial afirma inclusive que o Brasil deveria fundar o equivalente à Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) dos combustíveis verdes.

“Nós somos grandes produtores de todas as matérias-primas para o biodiesel. Temos que liderar as discussões e iniciativas, e não seguir o que determinam outros países”.

Carlos Eduardo Hammerschmidt, vice-presidente do Grupo Potencial

Motor a óleo de cozinha

O Grupo Potencial tem um programa para aproveitar óleo de cozinha já utilizado para a produção de biodiesel.

“Temos coletado até 700 mil litros de óleo por mês, em média. Temos parcerias com restaurantes, inclusive com a rede Madero”, diz Hammerschmidt.

Ele afirma que a iniciativa serve inclusive para diminuir a dispersão de óleo de cozinha usado na rede pública de esgoto. “Cada litro de óleo despejado na rede pública afeta 25 mil litros de água”.

Hammerschmidt explica que o aproveitamento do óleo de cozinha na fabricação de biodiesel é quase total. “Tem uma pequena perda no processo de neutralização desse óleo. Mas os coletores nos entregam ele já peneirado, então o aproveitamento do que chega é bem grande”.

Outra iniciativa do Grupo Potencial, em parceria com a Scania, foi converter um caminhão a diesel para um motor 100% a biodiesel. “O caminhão já rodou mais de 50 mil quilômetros, e o desempenho melhorou em relação ao motor a diesel, inclusive no consumo”.

O Grupo Potencial também é o maior produtor de glicerina refinada do Brasil, responsável por cerca de 40% da produção nacional. São cerca de 50 milhões de litros por ano.

A China é o maior comprador desse tipo de produto, com 2 bilhões de litros a cada ano. Cerca de 97% da produção brasileira é exportada. O produto é usado pelas indústrias têxteis, farmacêuticas, alimentícias e de cosméticos.