Os mais pessimistas afirmam que se algo está ruim, ainda pode piorar. Apesar de não se aplicar a todas as situações, uma das maiores montadoras de máquinas e equipamentos agrícolas do mundo projeta exatamente esse cenário para 2024.

A norte-americana John Deere divulgou nesta quinta-feira, 16 de maio, seus números globais para o segundo trimestre fiscal de 2024, entre fevereiro e abril, com queda nas vendas e nos lucros. A perspectiva é de que os resultados piorem ainda mais na segunda metade do ano fiscal, que vai até outubro.

As projeções refletem no comportamento dos investidores nesta quinta. A ação da companhia, negociada em Nova York, registra queda de quase 4%, mesmo com um lucro por ação acima do esperado por analistas.

No segundo trimestre, a John Deere contabilizou uma redução de 12% na receita líquida, para US$ 15,2 bilhões. No primeiro semestre fiscal, o recuo foi de 9% em relação ao mesmo período de 2023, para US$ 27,4 bilhões.

A lucratividade caiu ainda mais, já que os ganhos líquidos somaram US$ 2,4 bilhões no trimestre, recuo de 17% em relação ao mesmo período de 2023. Em seis meses, a John Deere lucrou US$ 4,1 bilhões, queda de 14%.

O lucro por ação foi de US$ 8,53 no segundo trimestre fiscal, ante US$ 9,65 no ano anterior. Na média, os analistas de Wall Street esperavam um lucro por ação de US$ 7,86, e receitas de US$ 13,3 bilhões, segundo informações da casa de investimentos The Motley Fool.

Nos segmentos agrícolas, que representam quase 65% das vendas globais da John Deere, as quedas foram ainda maiores que a média, que foi ajudada pelo segmento de construção civil e florestas.

Na área chamada de “Production & Precision Agriculture”, composto por máquinas maiores e mais caras, as receitas caíram 16% em um ano, para US$ 6,6 bilhões no segundo trimestre.

O lucro operacional recuou 24% na mesma comparação, para US$ 1,6 bilhão. A margem caiu de 27,7% para 25,1%.

No segmento “Small Agriculture & Turf”, que atende mais produtores de menor porte, a situação foi ainda mais desafiadora. As vendas recuaram 23%, a US$ 3,2 bilhões, e o lucro operacional caiu 33%, para US$ 571 milhões, com a margem saindo de 20,5% para 17,9%.

Surpresa no guidance

Mesmo com a piora nos números no segundo trimestre, o que pegou o mercado de surpresa, segundo analistas, foi a atualização do guidance da John Deere para vendas e lucro ao final do ano fiscal de 2024.

A companhia espera inclusive ter desempenho pior que a média de mercado em vendas no agronegócio.

A John Deere projeta redução entre 20% e 25% nas vendas para as duas áreas voltadas para a agricultura ao final do ano fiscal de 2024.

Enquanto isso, a própria empresa prevê, para toda a indústria, quedas que variam entre 10% e 20%, a depender da região. Neste caso, o recuo de até 20% está previsto para a América do Sul. Somente na Ásia a montadora projeta “queda moderada”.

O lucro líquido projetado pela John Deere para todo o ano de 2024 é de US$ 7 bilhões. A projeção anterior para o indicador estava em um intervalo entre US$ 7,5 bilhões e US$ 7,75 bilhões. Se confirmado, o lucro será mais de 30% menor que em 2023, quando ficou acima de US$ 10 bilhões.

O CEO da John Deere, John May, atribuiu os resultados do segundo trimestre às “mudanças contínuas” no agronegócio em todo o mundo.

“Estamos proativos em manejar nossa produção e nosso estoque para patamares mais adequados para as mudanças na demanda e posicionando as operações para o futuro”, afirmou May, em comentário que acompanha o balanço.

Em teleconferência com analistas, Josh Jepsen, CFO da John Deere, afirmou que a companhia está mais cautelosa em estoques, segundo informações do The Wall Street Journal.

“Estamos nos assegurando que os estoques estão nos patamares certos, não apostando tanto no potencial de retomada da demanda. Foi uma lição que claramente aprendemos do passado”, disse Jepsen.