Sorocaba (SP) - Em agosto do ano passado, Christian Gonzalez, vice-presidente da Case IH para a América Latina, antecipou ao AgFeed o que foi oficializado nesta terça-feira, 16 de abril: com um investimento de R$ 100 milhões, a fábrica da montadora de máquinas agrícolas em Sorocaba, no interior de São Paulo, é agora um polo global de produção colheitadeiras da marca, pertencente ao grupo CNH.
“Somos agora a maior planta de colheitadeiras da CNH no mundo”, festejou Eduardo Domingues, vice-presidente de manufatura da Case, em entrevista concedida a um grupo de jornalistas em plena fábrica que recebeu os aportes.
Com 600 mil metros quadrados e capacidade de produzir 3,6 mil máquinas por ano, a unidade passou por uma ampla modernização, que dobrou uma das linhas de produção de colheitadeiras e a preparou para a ser responsável pela montagem do novo modelo Axial-Flow Série 160 Automation, que substituirá, no mercado global, a Série 150, que era produzida aqui e nos Estados Unidos.
“A nova colheitadeira será produzida apenas aqui”, informou Christian Gonzalez durante o encontro. Metade das unidades da 160 será destinada ao mercado externo. O novo modelo é voltado para as lavouras de grãos. Na fábrica de Piracicaba, a Case também produz colhedoras de cana.
O envolvimento das equipes brasileiras da Case IH não se dá apenas na produção. Equipes de engenheiros locais participaram ativamente de todo o desenvolvimento do novo modelo, que, segundo Gonzales, passou por uma renovação de cerca de 60% em relação ao anterior.
“Foram 2700 horas de testes e 1300 pessoas envolvidas, lideradas pelo Brasil. O projeto é global, com protagonismo nacional”, afirmou.
Um dos destaques do modelo, que será vendido com preços que vão de R$ 1,7 milhão a R$ 2,8 milhões, é, segundo a empresa, a tecnologia embarcada. Com novos sistemas, dotados de machine learning e inteligência artificial, ela permite que 90% das operações sejam feitas sem intervenção do operador.
Com alto desempenho e potência, tem como mercado alvo produtores com pelo menos 800 hectares cultivados. Além do Brasil, o principal mercado será o dos Estados Unidos, seguido de Europa e África.
O investimento na fábrica foi mantido a despeito das perspectivas de recuo de cerca de 10% nas vendas em 2024, segundo a expectativa de Gonzalez.
Segundo ele, embora o mercado canavieiro esteja indo muito bem e as vendas de tratores menores tenham se mantido, a empresa sofrerá alguns ajustes por conta de a marca Case ter uma forte presença em grãos e no Mato Grosso, onde os produtores registram perdas de produtividade e de receita na atual safra.
Gonzalez acredita, entretanto, que o cenário negativo é passageiro e, com vendas mais baixas, a empresa focou nos ajustes de produção e inventário, com algumas paradas nas unidades desde o ano passado.
Pronto para a Agrishow
Pouco mais de uma semana antes da Agrishow, maior vitrine para a indústria de máquinas agrícolas na América Latina, Gonzales também apresentou as novidades que a empresa pretende levar para Ribeirão Preto.
Uma das principais tendências, já exploradas em edições anteriores da feira, será exibição de modelos com opções de motores movidos com opções alternativas ao diesel.
Pela primeira vez no mundo, por exemplo, a montadora mostrará um motor agrícola a etanol. Segundo Gonzalez, esses motores serão testados na primeira safra deste ano, inicialmente em colhedoras de cana, nas usinas, e depois em tratores.
“Para o Brasil, o maior potencial está no etanol” disse. “Antigamente usava-se motores diesel adaptados para o etanol, mas estes de agora são muito mais eficientes”. Segundo ele, o objetivo é chegar a potências próximas de 420 cavalos.
Segundo o executivo, futuramente a Case pode utilizar também motores movidos a biometano, mas em produtos maiores. Por enquanto, esse combustível está dentro do foco da New Holland, outra das marcas do grupo CNH, que comercializou no ano passado as primeiras unidades de tratores movidas por esse biocombustível.
Outra frente a que a Case tem se dedicado é a morotização elétrica. Na Agrishow, a empresa mostrará o trator Farmall 75C, conectado, autônomo e 100% elétrico.
O modelo, que foi apresentado recentemente na Agritecnica, na Alemanha, uma das majores feiras de tecnologia agrícola do mundo, ainda não estará sendo vendido, mas os executivos acreditam que isso pode acontecer em breve em outros países.
Para o Brasil, entretanto, não há previsão, já que não surgiu demanda por esse tipo de veículo. Segundo Gonzalez, o motor elético é mais adequado a tratores menores, em fazendas que produzem a própria energia, por exemplo.
“Haverá também o híbrido, cujo conceito será mostrado na Agrishow” disse. Quando passar a ser efetivamente produzido, será fábrica da empresa na Califórnia (EUA).
“O modal elétrico é um investimento muito forte que estamos fazendo”, afirmou. “Veremos cada vez mais implementos eletrificados. A parte de colheita também terá mais partes elétricas, para buscar mais eficiência e produtos que acabem consumindo menos combustível”, explicou.
Outro destaque do estande da marca na Agrishow deve ser o Quadtrac 715, trator de alta potência fabricado nos Estados Unidos e ainda não comercializado no Brasil.
A máquina possui seis diferentes versões e a Case apresentará aqui uma com tração de esteira. A empresa acredita que o interesse por esse tipo de trator deve crescer por aqui – nos EUA, eles respondem por 70% das vendas, mas por terem custo menos acessível têm mercado limitado no Brasil. O modelo, segundo a Case, está em fase de tropicalização e o objetivo é começar a vendê-lo no País a partir de 2025.