Se recentemente você praticamente não tem visto o rosto da imagem acima, é por opção do próprio personagem. José Carlos Grubisich tem preferido dar passos silenciosos, mas está longe de estar parado.

Um olhar mais atento aos seus movimentos nas redes sociais, por exemplo, mostrará que o executivo que já comandou gigantes como Rhodia, Braskem e Eldorado Celulose trocou, nos últimos tempos, os escritórios luxuosos por paisagens rurais.

“É um mundo muito estimulante”, afirma Grubisich, em conversa exclusiva com o AgFeed. Hoje em voo solo, ele busca no campo projetos para a Olimpia Investimentos e Participações, empresa que criou já há alguns anos para gerir os recursos que acumulou na carreira de executivo e, no futuro, também de terceiros.

“Tem gente que busca dinheiro antes de buscar projetos”, diz. “Eu prefiro primeiro encontrar bons projetos com meu próprio capital. A hora que identificar oportunidades e fizer sentido, abro a conversa para possíveis parceiros”.

Grubisich não é um novato no agro. Ainda nos tempos de vida corporativa ele adquiriu terras e aventurou-se pela produção rural. Atualmente, possui quatro propriedades rurais, duas na região de Itatinga, somando 600 hectares no interior de São Paulo, e duas no Mato Grosso do Sul, com mais 1,6 mil hectares.

É nelas que ele tem concentrado a maior parte de suas atenções atualmente, com foco em transformá-las em centro de excelência produtiva em diferentes atividades.

Nas fazendas paulistas, por exemplo, seu objetivo é produzir uma vitrine para a pecuária leiteira de alta produtividade. Já no MS, o projeto gira em torno da pecuária de corte intensificada, com genética selecionada.

“Quero fazer das minhas fazendas uma encruzilhada das melhores tecnologias”, afirma o produtor Grubisich.

Em Itatinga, onde já manteve uma produção de gado Nelore de elite, ele está investindo agora na adequação da infraestrutura para receber animais da raça Girolando, que combina a rusticidade zebuína com a capacidade de produção de leite das vacas holandesas.

O empresário tem visitado propriedades e centrais genéticas à procura de embriões selecionados para dar a partida na empreitada ainda este ano.

Na mesma região, ele mantém lavouras “altamente mecanizadas” de soja e sorgo para silagem. São cerca de 400 hectares cultivados.

A produção de grãos também ocupa a maior parte (1 mil hectares) das propriedades sulmatogrossenses. Segundo Grubisich, a expansão da atividade agrícola está em seus planos também.

Isso deve ser feito no sistema de integração com florestas e pecuária (ILPF), que é onde Grubisich deve concentrar a maior parte do investimento. Atualmente, ele mantém um rebanho de cerca de 3 mil cabeças nas propriedades, mas pretende intensificar o uso da terra para chegar a 7 mil.

“Vamos praticar ali um modelo de alta intensidade e alta produtividade”, afirma. “A ideia é combinar pastagens de alta qualidade com lavouras de excelência, levando a soja ao limite produtivo”.

O trabalho de melhoria genética do rebanho nelore já foi iniciado e conta com um aliado bem próximo: a Seleon Biotecnologia, empresa criada e comandada pelo filho, Bruno Grubisich, que se tornou uma referência do segmento no País.

O produtor pretende atuar nas etapas de cria e recria de animais e já tem cerca de 2 mil matrizes “hiper selecionadas” para dar arranque no projeto. A ideia é vender touros e matrizes “ceipados”, ou seja, certificados a partir de uma avaliação genética que leva em consideração características de precocidade na desmama e no ganho de peso.

A sigla CEIP significa Certificado Especial de Identificação e Produção, documento criado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária para garantir que os animais apresentam qualidade superior à média de sua geração.

O trabalho nas fazendas de Grubisich contam com parceria da Embrapa Geneplus, divisão da estatal de ciência agropecuária que atua com melhoramento genético.

“Temos competência instalada para acelarar o desenvolvimento genético”, afirma.
Grubisich pretende ampliar o projeto até 2,5 mil hectares, mantendo uma lotação de 4 a 5 cabeças por hectare. “Os primeiros animais entram agora em março”, diz.

Agtechs na mira

O produtor rural e o investidor convivem nessa nova fase de Grubisich. Na Olimpia, ele afirma avaliar startups para possíveis investimentos.

“Acredito que há muito a fazer e, com isso, espaço para novos negócios com agtechs, sobretudo em áreas como logística e armazenagem”, afirma.

Segundo Grubisich, sua empresa de participações já fez aportes em duas startups, uma de software e uma fintech, cujos nomes ele manteve em reserva, alegando razões contratuais.

Para ele, o momento é oportuno para investimentos no setor. “O agro passa por um ajuste muito forte e, como todo investidor sabe, entrar na baixa é mais interessante para ganhar quando o setor estiver na alta. E o agro é cíclico e resiliente. Em breve estará forte de novo”.