É comum dizer que o ano no Brasil começa de verdade após o Carnaval. Ao menos no que diz respeito à divulgação de balanços corporativos do quarto trimestre e do ano anterior, a máxima se aproxima da realidade. No agronegócio, mais ainda.
A 3tentos, empresa gaúcha que comercializa insumos, grãos e produtos como farelo de soja e biodiesel, anunciou seus números do quarto trimestre e do ano de 2023 nesta terça-feira, que devem servir de parâmetro sobre como será o desempenho de outras grandes companhias do setor.
Houve aumento significativo no volume de vendas, e consequentemente nas receitas. Mas a queda nos preços dos produtos vendidos teve impacto nas margens, e na lucratividade.
A receita líquida da 3tentos superou os R$ 3 bilhões nos últimos três meses do ano passado, com crescimento de 40,5% em relação ao mesmo período de 2022. Destaque para o segmento de indústria, que dobrou o faturamento, e se tornou o segmento mais relevante da companhia.
Em todo o ano passado, o avanço de receitas foi de 30,7%. Novamente, o segmento indústria teve melhor desempenho, crescendo 56%, contra 31% na área de grãos. No caso de insumos, o faturamento anual foi praticamente estável.
O problema aparece nas linhas seguintes do balanço. A margem bruta ajustada caiu de 20,2% para 16,4% quando se compara o quarto trimestre de cada ano. No caso da margem Ebitda ajustada, o final de 2023 apresentou 7,1%, quase a metade dos 13,7% registrados no último trimestre de 2022.
Quando se analisa o detalhamento por segmento, fica claro que não há problemas nas vendas, mas sim nos preços. No caso dos insumos, o menor crescimento em volume foi de sementes, com 11% no quarto trimestre. Fertilizantes e defensivos cresceram 22% e 40%, respectivamente.
Segundo a 3tentos, o desempenho está ligado à abertura de novas lojas e também à maturação de algumas unidades que já estavam em funcionamento. Foram seis novas lojas em 2023, chegando a 63 no total.
Em janeiro, a companhia anunciou um plano de crescimento que tem como meta chegar a 100 lojas até o final de 2030, além de quatro indústrias.
Mas quando se olha o lucro bruto e as margens de insumos, houve quedas importantes. O lucro recuou quase 34% no quarto trimestre, na comparação anual. Consequência da margem, que recuou de 27,7% para 18,5%.
A companhia chama atenção para o aumento da participação do Mato Grosso no resultado do segmento, com o impulsionamento da revenda de sementes no estado. Além disso, houve um deslocamento da receita com defensivos de maior valor agregado, como fungicidas, para o primeiro trimestre de 2024, por conta do atraso do plantio no Rio Grande do Sul.
A 3tentos continuou a tendência de redução dos estoques de insumos, visto desde o segundo trimestre de 2023. Em três meses, o número de dias atendidos pelo estoque caiu de 161 para 143.
O segmento industrial foi o único em que o aumento de faturamento resultou também em um avanço da lucratividade. O lucro bruto cresceu 187% no quarto trimestre, para R$ 277 milhões.
O volume de biodiesel vendido pela companhia no final do ano passado cresceu quase 2,5 vezes em relação a 2022, e no caso do farelo de soja e outros produtos, o avanço foi de 123%.
Segundo a companhia, o Mato Grosso já respondeu por um terço do volume do quarto trimestre. No caso do farelo, o principal destino tem sido a exportação, e o biodiesel atende às distribuidoras na região da rodovia BR-163.
A margem do segmento Indústria subiu de 11,6% para 16,7% em um ano. Esse é o outro lado da queda do preço da soja, que no caso, beneficiou o desempenho na venda de farelo.
Exatamente em grãos veio a maior queda de margem para a 3tentos. No quarto trimestre, a safra no Rio Grande do Sul ajudou a elevar o volume de soja em 3,5 vezes. No milho, o crescimento foi de 170%. Houve queda somente na linha Trigo e Outros, de 30%.
No entanto, as margens do segmento grãos caíram quase 10 pontos percentuais em um ano, saindo de 18,1% no quarto trimestre de 2022 para 8,7% no final de 2023. O lucro bruto recuou 44%.
Entre os fatores listados pela 3tentos, estão a piora na qualidade do trigo colhido, mesmo em panificação, o que forçou um direcionamento para ração no mercado internacional, a queda nos preços das commodities e o maior volume de soja, que apresentou as menores margens entre grãos vendidos pela empresa.