Combustível feito de óleo de cozinha reciclado e sebo de bovinos? Para quem nasceu antes da década de 1990, isso só seria possível em filmes de ficção científica. É só lembrar dos filmes da franquia “De Volta para o Futuro”.
No filme, o Dr. Brown, personagem interpretado por Christopher Lloyd, abastecia sua máquina do tempo em forma de automóvel com cascas de banana e outros itens presentes em latas de lixo.
Pois a Binatural, empresa que tem capacidade para produzir 600 milhões de litros de biodiesel por ano, chega perto de replicar a ideia dos roteiristas Robert Zemeckis e Bob Gale para o filme de 1985.
“Geralmente, a matéria-prima na produção de biodiesel é composta de 70% de óleo de soja. Nós fazemos o oposto. Temos 30% de soja, e o restante de várias outras fontes, como gordura animal e óleo de cozinha reciclado, por exemplo”, contou ao AgFeed André Lavor, fundador e CEO da Binatural.
Esta diversidade tem fundamentos econômicos. Lavor conta que a maior parte destes materiais é barata e que ainda é possível ampliar a utilização de muitos deles.
“No caso do óleo de cozinha usado, por exemplo, o índice de coleta ainda é muito baixo no Brasil. Queremos fazer um trabalho para elevar essa reutilização, porque hoje, a quase totalidade vai parar no lixo”, diz o executivo.
Claro que quando fala de sua empresa, Lavor ressalta bastante a questão ambiental. A Binatural fez um levantamento sobre o impacto da sua atividade na emissão de gás carbônico na atmosfera.
Segundo a companhia, em 15 anos de atividade, as duas plantas industriais da Binatural, em Goiás e na Bahia, produziram cerca de 1,6 bilhão de litros de biodiesel. Isso evitou a emissão de mais de 3 milhões de toneladas de gases do efeito estufa.
“É como se tivéssemos plantado 22,5 milhões de árvores. Como gosto de futebol, fizemos a medida, e isso equivale a quase 140 mil campos”, diz Lavor.
Mas é claro que uma empresa não vive só da responsabilidade ambiental. Então, a Binatural tem conseguido um crescimento consistente nos últimos anos. “Crescemos 175% nos últimos cinco anos”, afirma o CEO.
Esse avanço tem uma contribuição da unidade em Simões Filho, município próximo de Salvador, na Bahia, que iniciou sua operação em 2021.
A empresa começou em 2006, com sua fábrica em Formosa, em Goiás, com capacidade de produção de 30 mil litros por dia. Em 2019, a empresa fechou com mais de 150 milhões de litros vendidos. Em 2023, esse volume vai atingir 450 milhões de litros.
“Ainda temos uma boa capacidade ociosa, e nos próximos três anos, o plano é ampliar essa capacidade para 650 milhões de litros por ano”, revela Lavor.
Em 2023, a companhia deve fechar com faturamento de R$ 2,3 bilhões. Em 2024, a projeção é de crescimento de 30%, chegando aos R$ 3 bilhões em receitas. “Nosso plano é ter um crescimento médio de 20% nos próximos anos”.
Para o executivo, um fator que começa a impulsionar o setor é o aumento da mistura do biodiesel no diesel. Desde abril deste ano, a obrigatoriedade foi ampliada de 10% para 12%. E até 2026, essa mistura chegará a 15%.
“Mas além disso, contamos com a demanda voluntária. Muitas grandes empresas estão colocando metas de 100% de suas frotas movidas a biodiesel, por exemplo”, afirma Lavor.
Ele conta que o Brasil ainda pode avançar mais na mistura obrigatória no diesel. “Na Indonésia, essa proporção já está em 35%. Nos Estados Unidos, a depender do estado, chega a 20%”.
Lavor acredita inclusive que a tendência é que o usuário final tenha acesso a escolha nos postos de combustível. “Inclusive, acho que a ampliação da mistura deveria começar nas grandes metrópoles, pensando no impacto da poluição na saúde das pessoas”.
De modo geral, o Brasil não teria problema de oferta de biodiesel para atender essas mudanças na composição dos combustíveis. “Na média, a ociosidade da indústria de biodiesel hoje é de 50%. Já temos uma capacidade instalada importante”, afirma Lavor.
Na parte social, a Binatural participa do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB), que além de estimular a produção, apoia a agricultura familiar.
“Nós ajudamos mais de 7 mil famílias, principalmente nas regiões Norte e Nordeste, e no semi-árido, que são regiões mais carentes. E temos produtores das culturas mais diversas, inclusive de plantas nativas, como açaí, coco, castanha”, conta Lavor.
O Selo Biocombustível Social, fornecido pelo PNPB, tem exigências como a compra de matérias-primas de agricultores familiares e cooperativas do Norte e do Nordeste.
“Nós começamos a adotar essa prática antes mesmo do início do programa. Nós também oferecemos assistência técnica para melhorar o manejo das culturas. Acho importante contribuir para o desenvolvimento econômico do interior do Brasil. Até para que as pessoas continuem atuando ali, sem ter que procurar as grandes cidades para melhorar de vida”, afirma o CEO da Binatural.