Não é fácil reunir em uma mesma sala executivos de empresas como Amazon, Bayer, AGCO, CNH, Nokia, TIM, Vivo e Yara. Mas quando o tema é conectividade nas propriedades rurais, essa reunião tem acontecido com muita frequência.
As companhias fazem parte da ConectarAgro, associação que há três anos atua para promover a conectividade de internet em áreas desatendidas do meio rural.
Segundo Ana Andrade, presidente da associação, a entidade tem envolvimento direto na conexão de 14,4 milhões de hectares. Agora, o grande objetivo é levantar dados que comprovam a relação entre conectividade e melhora nos processos produtivos – e com eles, buscar incentivos que ajudem a ampliar a área conectada.
Nesse sentido, a ConectarAgro acaba de concluir a primeira fase de um projeto em parceria com a Universidade Federal de Viçosa (UFV), em Minas Gerais.
“Foram selecionadas 100 pequenas propriedades rurais da região para fazer um estudo da produção sem conectividade”, conta Ana. “Agora, as empresas associadas levarão toda a estrutura e a tecnologia para conectar duas delas, já para esta safra 2023/24”, conta.
O objetivo é comparar produtividade e economia de insumos nos dois cenários. “Escolhemos Viçosa porque é um local de topografia não muito amigável, para testar as tecnologias e os efeitos”, explica a executiva. Além disso, o município possui um dos principais centros de estudos de ciências agrárias do País.
Outro projeto classificado pela presidente da ConectarAgro como prioridade é o início da divulgação de levantamentos estatísticos sobre a conectividade no campo.
“Hoje, os estudos tratam de número de celulares ou de internet instalada nas sedes. Os nossos números vão tratar da conexão voltada para a produção agrícola”.
Este projeto tem previsão de lançamento para o início de 2024. “Nosso trabalho é todo baseado em dados, porque é assim que vamos conseguir ter políticas públicas mais voltadas para este fim”.
Além das companhias já citadas, fazem parte da associação a agtech paulista Solinftec, que cobre mais de 12 milhões de hectares no Brasil e em outros países da América Latina, além de Estados Unidos e Canadá, e a Trimble, multinacional americana de soluções tecnológicas que atua em mais de 150 países.
Vivo e Amazon, através de sua empresa de serviços de computação em nuvem AWS, são as duas “caçulas” na ConectarAgro. Elas aderiram à associação em abril e maio deste ano, respectivamente.
Fust e o agronegócio
Os dados são fundamentais para fundamentar o discurso levado a potenciais clientes das empresas, mas também a instâncias públicas cujos recursos podem contribuir para ampliar as áreas cobertas.
Uma das conquistas recentes mencionadas pela presidente da ConectarAgro é a presença de dois representantes do agronegócio no comitê gestor do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust).
A participação já apresentou resultados práticos. O BNDES anunciou em agosto um programa de financiamento utilizando os recursos do Fust, que conta com cerca de R$ 1 bilhão por ano, com o objetivo de melhorar a conectividade inclusive em áreas rurais.
Uma das linhas é o Finame Fust, que vai financiar a compra de equipamentos de telecomunicações. A empresa poderá financiar até 100% da aquisição, limitada ao valor de R$ 10 milhões a cada 12 meses.
O prazo de pagamento pode ser de até 10 anos, com carência de dois anos. Os juros são compostos pela Taxa Fixa baseada em TR, que está em 1,8% ao ano para prazos acima de cinco anos, mais 1,45% ao ano da taxa do BNDES e 7% ao ano do banco que fizer a contratação.
Ainda nas relações com o poder público, Ana Andrade conta que a ConectarAgro está desenvolvendo o projeto Mato Grosso Conectado, juntamente com o governo do Estado.
Segundo a apresentação do projeto, o Mato Grosso tem 263 grandes produtores mapeados, com 8,1 milhões de hectares. Deste total, pouco mais de 8% são conectados, dos quais quase 20% são ligados à associação.
O objetivo do projeto é que 86% dos grandes produtores sejam atendidos, com 633 novas torres e 11,6 milhões de hectares de novas áreas conectadas.
Segundo a presidente, a ConectarAgro participa também das conversas para melhorar a conectividade rural no Paraná. O tema foi discutido em audiência pública na Assembleia Legislativa no último dia 28 de agosto.
Sobre as tecnologias disponíveis, Andrade afirma que o leilão do 5G trouxe uma grande conquista: a obrigatoriedade da cobertura 4G para áreas remotas.
“Essa é a tecnologia que atende muito bem o agronegócio. Mas sabemos que não há uma única solução para 100% dos problemas. O 4G se complementa muito bem com satélites e rádio, por exemplo”.
Sobre o tamanho da associação, a presidente afirma que, apesar do porte das empresas participantes, a ConectarAgro é pequena, mas que não existe uma meta para torná-la maior.
“Quem quiser entrar, será muito bem vindo. Mas é preciso saber do propósito da ConectarAgro. Nós não discutimos outro tema que não seja conectividade no campo. E tem que estar disposto a trabalhar muito por isso”, completa.