O mercado financeiro tem se aperfeiçoado nos últimos anos, especialmente quando se trata de alternativas de investimento. LCA, CRA e Fiagro são alguns exemplos de instrumentos ligados ao agronegócio que surgiram recentemente.

Também é recente a opção de se investir em uma floresta. Levar árvores ao mercado foi o caminho escolhido, por exemplo, pela Radix Investimentos, que se especializou na gestão de florestas plantadas com os recursos captados.

A startup está com uma rodada de oferta pública via crowdfunding para arrecadar até R$ 1,08 milhão. A rodada foi aberta no dia 8 de julho na plataforma Arborus e está prevista para terminar no dia 6 de setembro. Até agora, a Radix conseguiu R$ 285 mil.

Para ter sucesso na operação, a Radix precisa captar ao menos R$ 720 mil. Os recursos serão utilizados na plantação de uma área de 40 hectares, que abrigará 15 espécies de árvores, segundo explica o CEO Gilberto Derze, que fundou a empresa juntamente com o sócio Thiago Campos.

“Nós já vamos para 200 hectares plantados com esse novo módulo e até agora cultivamos só o mogno africano. Nesta área que será aberta, teremos mais espécies, como ipê, maçaranduba e castanha do brasil”, conta Derze.

A empresa começou com uma área de 10 hectares em Unaí, Minas Gerais, cidade que fica a 130 quilômetros de Brasília. As outras áreas já plantadas e a nova que será aberta ficam na Amazônia, em Roraima. Uma das áreas plantadas fica em uma fazenda pertencente a uma instituição sem fins lucrativos, de recuperação de dependentes químicos.

Ao oferecer a área aos investidores, a Radix dividiu cada hectare em 200 lotes, precificado a R$ 450 cada um. “A única exigência para entrar é comprar um mínimo de três lotes. Ou seja, com R$ 1.350, um investidor já consegue entrar”, explica Derze.

A Radix já levantou R$ 5 milhões via ofertas públicas em crowdfunding. E para esta nova área, conseguiu mais R$ 1,3 milhão do Fundo Vale.

“Esse aporte é filantrópico, não envolve participação na empresa nem exige retorno. É um recurso que cobre as despesas para o plantio das árvores. Isso garante maior retorno aos investidores, já que o valor das cotas não inclui as despesas. Antes, a cota era vendida a R$ 650, R$ 700”, diz o CEO da Radix.

O aporte segue o modelo de prova de conceito (POC), pelo qual o Fundo Vale escolhe algumas iniciativas para ajudar a mineradora a cumprir a Meta Florestal 2030, de conservar e recuperar 500 mil hectares de florestas.

O Fundo assumiu a responsabilidade pela recuperação de 100 mil hectares. “A Radix foi selecionada pela capacidade operacional de recuperar áreas e, sobretudo, pela solução inovadora para destravar o acesso a investimentos florestais, para que consiga atingir mais pessoas nesse movimento e ampliar o impacto de nossas ações”, diz Gustavo Luz, diretor do Fundo Vale.

Retorno antes do corte

Uma dúvida muito comum de quem se interessa por qualquer tipo de investimento é sobre o retorno. Quando se trata de uma floresta, com utilização comercial da madeira, a questão surge com mais força na cabeça do investidor.

O CEO da Radix compara o título florestal com uma ação. “Ao comprar um lote, o investidor está apostando em um retorno de longo prazo, em princípio. Porque as receitas começam a entrar a partir da venda da madeira”, explica.

O mogno africano tem um ciclo de até 20 anos até ficar “pronto” para corte e vale entre R$ 3 mil e R$ 4 mil o metro cúbico. “No caso do ipê, por exemplo, o ciclo é de 40 anos, mas o metro cúbico vale R$ 13 mil”, diz Derze.

No entanto, por se tratar de um ativo financeiro, é possível negociá-lo com outros investidores antes do fim do ciclo. E de forma lucrativa.

Na primeira captação feita pela Radix, em 2018, o valor unitário dos lotes era de R$ 400. Com a regulamentação do mercado secundário deste tipo de título pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a empresa dividiu cada lote em 100 tokens, com valor unitário de R$ 4.

“Hoje, estes tokens podem ser negociados em valores entre R$ 10 e R$ 11. Eu mesmo vendi alguns recentemente por R$ 11,20. É um mercado livre. Tem a oferta de venda numa ponta, a de compra na outra, e assim se chega ao preço”, conta Derze.

Ele conta que a valorização tem duas variáveis principais. A primeira é o tempo. “Quanto mais perto do ponto de corte das árvores, mais o título vale”. O mogno africando pode gerar madeira jovem após 10 anos de plantio, diz o executivo.

Outra variável é a valorização da própria madeira. A Radix divulga um boletim quinzenal aos seus investidores, que estão perto de atingir a marca de mil, atualizando os preços da madeira.

Neste novo lote que está aberto, a Radix coloca uma estimativa de retorno entre 14% e 16% ao ano, com pagamentos recorrentes a partir de 2033. Mas os investidores podem negociar os títulos no mercado secundário no ano que vem.

No total, a nova área terá R$ 3,6 milhões em aportes. A empresa fará uma segunda rodada de investimentos, que deve acontecer no início de 2024, já que a CVM exige um intervalo mínimo de 120 dias entre uma operação e outra.

A Radix tem como prática ficar com 30% de todas as áreas. “A segunda rodada será maior que essa”, diz Dezer. Ao retirar os lotes que ficarão com a empresa, a nova rodada deve ser próxima de R$ 1,5 milhão.

Sobre o processo de plantio e retorno da nova área, Derze explica que será diferente, pois algumas espécies precisam de condições mais específicas.

“O mogno africano, por exemplo, se dá muito bem no clima da Amazônia, com o sol. Outras precisam de mais sombra”.

Outro ponto que o CEO da Radix classifica como importante para o investidor é a natureza da relação com os ativos.

“O investidor é o dono daquele lote, não a Radix. Nós administramos, e também somos investidores. Caso a Radix quebre, eles podem contratar outra empresa para administrar, ou simplesmente vender a área”, conta.