Nas próximas semanas, uma nova temporada de balanços trimestrais deve trazer um retrato numérico de um dos períodos mais conturbados do agronegócio nesta década. Exceto por alguma surpresa, a imagem deve ser pintada em tons de vermelho, com impactos especialmente duros no setor de distribuição de insumos.
Ruy Cunha, CEO da Lavoro Agro, não se assusta com o quadro. Para ele, a previsível temporada de retração nos resultados deve coincidir com uma retomada de fôlego provocada pela volta dos produtores às compras. E aí, ao invés de lamentar o perdido, será hora de correr atrás do azul no próximo balanço.
“O sentimento geral era de ressaca”, resume Cunha. “O movimento de redução nos preços de commodities e de insumos é cíclico e até veio em um nível razoável, mas os anos anteriores foram tão bons que muita gente perdeu um pouco da noção disso”.
O clima de ressaca foi sentido em cadeia. Com a queda dos preços, o produtor segurou suas vendas à espera de cotações melhores para seus grãos. E atrasou as encomendas dos insumos para a próxima safra, impactando nas distribuidoras.
“Teve muita gente esperando demais e, assim, muita oportunidade perdida”, afirma Cunha. Para ele, os efeitos no setor de distribuição ainda serão bastante evidentes na nova leva de balanços, que só devem começar a se normalizar no terceiro trimestre.
“Ainda há muitas revendas com excesso de estoques, gente carregando até 30% de inventário para o ano seguinte, quando o normal seria 15%”, diz o executivo.
A Lavoro, diz, identificou essa situação logo no começo do ciclo de baixa e já no ano passado iniciou rodadas de negociação com fornecedores para reduzir sua exposição ao excesso de estoques. Segundo Cunha, houve acordos para devolução de produtos ou recomposição de margens, que ajudaram a deixar a empresa em condição de sentir menos o baque da retração de mercado.
Agora, o efeito psicológico da ressaca pode estar passando, segundo Cunha. O mês de julho, afirma, marcou uma reaceleração nas carteiras de pedidos, “ainda atrasadas”.
“Já podemos prever até mesmo um ligeiro crescimento no volume de insumos comercializados nessa safra”, diz. Em receita, com os preços de fertilizantes e defensivos bem mais baixos que no ano passado, a previsão é de recuo.
Assim, o novo momento das revendas é de correria para fazer chegar aos produtores os produtos comprados. O desafio logístico de percorrer distâncias entre as fábricas e as propriedades rurais é sempre complexo e este ano deve ser ainda mais.
“Será muito produto para uma janela muito apertada”, afirma Cunha.
Compras mantidas
O CEO da Lavoro garante que a ressaca do setor não afetou a sede da empresa por aquisições. Nesse período, a companhia manteve conversas que já tinha iniciado e avança em processos já iniciados.
“Temos um pipeline grande em análise na área de M&A [sigla para mergers and aquisitions, fusões e aquisições em inglês], com dezenas de empresas sendo observadas”, diz.
O momento difícil do setor não representa, em termos financeiros, que haja ativos depreciados na praça. “Não houve mudança em termos de múltiplos para avaliação”, garante Cunha.
Mas há, segundo diz, mais revendas abertas a negócios e mais gente interessada em conversar. E capital reservado. “Temos recursos das capitalizações que fizemos”, afirma, sem demonstrar efeitos da ressaca do agro.