Brasil, Holanda e agricultura regenerativa. A conexão é meio inusitada, mas foi o caminho escolhido pela Amaggi para lançar, nesta quinta-feira, 22 de junho, um projeto que reúne parte de suas iniciativas com vistas a chegar às emissões líquidas zero até 2050, com estratégias de descarbonização até 2035.

O cenário foi o Better Cotton Conference, evento que reúne os principais players globais da cadeia do algodão em Amsterdã. O grupo, que comercializa quase 19 milhões de toneladas de grãos e fibras globalmente, usou o palco para apresentar o Amaggi Regenera, programa de agricultura regenerativa.

Ao anunciar a novidade, Juliana Lopes, diretora de ESG da companhia, tinha ao seu lado um parceiro que estava em casa. Felipe Villela seguiu esse mesmo roteiro há alguns anos para fundar a reNature, organização com sede na capital dos Países Baixos, mas cada vez mais com os pés no Brasil.

Hoje, Villela é internacionalmente reconhecido como porta-voz do sistema que caiu nas graças de alguns dos principais grupos do agronegócio por combinar boas práticas agrícolas e tecnologia para produzir alimentos ao mesmo tempo em que também traz condições para a natureza do entorno de uma propriedade se recuperar.

O brasileiro fundou a reNature tendo como sócio o holandês Marco de Boer. A companhia atua tanto como uma fundação sem fins lucrativos quanto como uma empresa, mas sempre com foco em negócios em torno da agricultura regenerativa.

Atualmente, a empresa atua em países da África, no México, na Indonésia e América Latina. Já atuava em vários projetos no Brasil, mas com a Amaggi como cliente, o País ganha ainda mais relevância na sua estratégia

Segundo Juliana Lopes, a iniciativa de agricultura regenerativa e de baixo carbono é capaz de proteger a biodiversidade. “Daremos escala ao programa por meio da disseminação das melhores práticas junto a outros produtores rurais, inclusive os agricultores familiares”, afirmou no evento.

Nesse projeto, a Amaggi quer sistematizar suas práticas sustentáveis, com medições dos resultados dos manejos e colheitas de cada produtor. Para tal, a empresa contará também com parceiros como a Embrapa e o IPAM.

“Temos visto um interesse crescente de empresas no Brasil de apoiar a construção de seus programas regenerativos e no trabalho com os produtores para criar exemplos positivos”, afirmou, em uma conversa rápida com o AgFeed durante o evento World Agri-Tech South America Summit, realizado em São Paulo nesta semana, a gerente de projetos da reNature, Fabiana Munhoz.

Além do fato de um dos fundadores ser brasileiro, Fabiana afirma que a robustez agrícola brasileira e a necessidade cada vez maior das empresas se adequarem à agendas ESG virou os olhos da startup para cá.

Por aqui, a empresa já atua em diversas regiões e culturas, e atende, em sua maioria, grandes empresas. Dentro da atuação da startup, o serviço prestado é o de consultoria. Um exemplo de companhia cliente da reNature é a Nespresso, subsidiária da Nestlé com foco em cafés encapsulados.

“Trabalhamos com a Nespresso o Cerrado Mineiro. Com isso, acabamos atuando com um perfil diverso de produtores da companhia”, explicou a gerente de projetos.

Além disso, ela destacou que a reNature já atua com produtores de soja e tomates no Brasil. Nas operações do exterior, a gama é ainda maior, com produtores da cadeia da borracha e algodão.

Do lado filantrópico, entra em campo a fundação da reNature, que capta recursos para projetos como um piloto em curso em uma terra indígena em Rondônia. O projeto está em fase de estudos, a fim de entender melhor o contexto da comunidade local.

Esse foco no sul global ocorre, segundo Munhoz, pela crença da startup de que se tratam de regiões com importantes cadeias de fornecimento. O Brasil, em específico, tem uma cultura econômica já dedicada ao agro. “Com isso, podemos apoiar a mudança da mentalidade da agricultura ser regenerativa”, destaca.

O processo pode ser feito de forma gradual, segundo a gerente, tendo em vista que o momento é de adaptação do produtor.

“Somos procurados por empresas para apoiar no processos junto ao produtor. Além disso, recebemos demandas de produtores e ONGs para auxiliar esse processo e adequar as políticas ESG”, acrescenta.

Até 2030, a reNature pretende regenerar cerca de 1 milhão de hectares de floresta pelo mundo, bem como atingir 200 milhões de toneladas de carbono sequestradas até lá.

No financiamento, a empresa conta com alguns investidores, bem como a venda dos projetos para empresas e a captação de recursos filantrópicos por meio de uma fundação da startup.

Em 2021, a startup captou R$ 3,6 milhões em uma rodada com investidores privados e uma organização holandesa, a DOEN Foundation.