Alberto Griselli, CEO da TIM, se orgulha e faz questão de ressaltar dois números da companhia de telecom. O primeiro é o número de clientes que a empresa tem, hoje na casa dos 62 milhões. O outro é a quantidade de cidades que a cobertura da TIM alcança, um total de 5.570. Ou seja, todos os municípios brasileiros. Mas isso não basta para o executivo. Ultimamente, ele tem ficado obcecado por outra unidade de medida: os milhões de hectares.
Na verdade, Griselli tem um número mágico na cabeça: 80 milhões de hectares para serem cobertos por redes da TIM. E, aos poucos, tem cumprido a sua missão. A meta é fazer as fazendas brasileiras se conectarem no trilho tecnológico da TIM. “Hoje, uma fazenda que não está conectada está fora do ar”, diz Griselli ao AgFeed. “Atualmente cobrimos 14,4 milhões de hectares e temos muito espaço para crescer.”
Até o fim deste ano, a companhia pretende fechar com uma área de 16 milhões de hectares cobertos. Trata-se de um número superlativo quando se analisa o início do foco da companhia no agro. A empresa passou a olhar o setor da economia que mais cresce com mais atenção em 2018. “Temos a frente do mundo corporativo na qual trabalhamos nas verticais de saúde e logística, mas o agro entra como o carro chefe”, afirma Griselli.
Se há cinco anos o segmento corporativo tinha pouca representatividade no faturamento da TIM, hoje ele responde por 15% das receitas. Dos R$ 21,5 bilhões faturados no ano passado, R$ 3,2 bilhões vieram do nicho voltado ao universo empresarial. “Temos crescido a uma média de 12% a 15% ao ano”, diz Griselli. Isso acontece muito por conta da evolução da chamada Internet das Coisas ou simplesmente IoT.
Colheitadeiras conectadas, por exemplo, conseguem trabalhar com muito mais precisão. Alexandre Dal Forno, diretor de desenvolvimento de mercado IoT & 5G da TIM, cita o caso da cultura da cana de açúcar, em que os produtores conseguem ter uma economia de 10% a 15% no consumo de diesel só pela máquina operar na velocidade controlada. “Abrir o WhatsApp e falar da máquina que quebrou, fazendo videoconferência com o mecânico, reduz o tempo de conserto em 12 horas”, diz ele.
Além disso, a operação de drones ou o carregamento de dados e análises precisas das lavouras necessitam de conectividade. Não à toa, gigantes do agro têm fechado esse tipo de parceria com a empresa de telecom. Companhias como Citrosuco, SLC Agrícola, Agropalma, São Martinho, Jalles Machado, entre outras, estão entre elas. “Levamos conectividade para as fazendas e isso permite a digitalização de seus negócios”, afirma Griselli.
O mais recente grupo que entrará nesse rol é o Stracci, baseado em São Desidério, na Bahia. Uma das principais dores da fazenda de 3,7 mil hectares onde cultiva soja, milho e também trabalha com agropecuária, é a falta de conexão fora do escritório. Na área de cultivo, só o rádio funciona. “Trabalhamos com agricultura de precisão, mas não a digital”, diz Lucas Stracci, agrônomo, diretor técnico do grupo e membro da terceira geração da família fundadora.
Na mais recente Agrishow, o grupo assinou uma parceria com a TIM para a companhia instalar uma antena de rede pública 4G dentro de sua propriedade. “Vai cobrir 100% da nossa fazenda”, diz Stracci, que vem estudando os benefícios da agricultura digital. Nesse caso específico, a TIM fará o investimento na antena e o grupo contratará todos os serviços de telecom da empresa e fornecerá eletricidade para a antena.
Stracci diz que a empresa de telecom deu um prazo de 180 dias para a instalação. E, ao ser implementada, a fazenda deverá passar por uma revolução. “Em tempo real, poderei monitorar as máquinas, a velocidade delas, o consumo de combustível, o nível da colheita”, afirma. Além disso, ele pretende instalar sensores nas cercas elétricas para saber a quantidade de tentativas do gado de sair da propriedade e também sensores nos bebedouros usados pelos animais para que não correr o risco de faltar água para eles.
“Os clientes, em geral, são bem sensíveis aos projetos de digitalização. Demora de seis a 12 meses para fechar esses projetos e o processo de convencimento é longo”, diz Dal Forno. A cobertura é montada de acordo com a demanda do cliente. Pode-se construir redes pública e privada. A rede pública, construída em paralelo a privada, atende também ao entorno da fazenda.
“Nesses 14,4 milhões de hectares que cobrimos, mais de um milhão de pessoas e 60 mil pequenos e médios produtores são beneficiados”, diz Dal Forno. “Temos muito chão para correr ainda na conectividade.” E, ao contrário do que se imagina, o 5G ainda está longe de ser a principal rede. “O 4G atende o agro de uma forma plena”, diz Griselli.
Trata-se de uma questão técnica. O 4G tem um alcance maior do que o 5G. Isso porque a frequência utilizada é de 700MHz e, quanto menor é frequência, maior o tamanho da área coberta. Como o 5G usa uma frequência de 3.5 GHz, seria necessário um investimento muito maior em mais antenas.
A primeira fazenda a ter uma rede 5G foi uma propriedade o grupo Insolo, no Piauí. Agora, em caráter experimental, a TIM pretende lançar na São Martinho. “Estamos trabalhando com a São Martinho para entender como o 5G vai impactar. A questão da baixa latência, alta velocidade, drones conectados em tempo real, realidade virtual... Várias coisas que virão pela frente com o 5G”, diz Dal Forno.
A evolução do 5G vai demorar mais no campo também por outros fatores. A máquinas e os softwares saem de fábrica conectados no 4G. Para resolver essa questão, é necessário o envolvimento de todo o ecossistema. Por isso, a TIM faz parte do projeto ConectarAgro.
São 35 participantes como desenvolvedores de softwares, fabricantes de máquinas agrícolas, empresas de drones, entre outros, discutindo e desenvolvendo tecnologias para o aumento de eficiência e produtividade do agro por meio da digitalização. Afinal, mais de 70% das propriedades rurais do Brasil não têm acesso à internet. Há, definitivamente, muitos milhões de hectares para Griselli percorrer.