Mês a mês, o número de investidores que apostam nos Fiagros, os Fundos de Investimento das Cadeias Produtivas Agroindustriais, sobe. Em maio deste ano, por exemplo, a B3 tinha 280 mil investidores pessoa física com algum tipo de alocação nessa modalidade, um aumento de 8,3% em relação ao mês de abril.

No mesmo mês do ano passado, esse número era de pouco mais de 58 mil investidores, um montante cinco vezes menor que o atual. Em termos financeiros, foram R$ 8,3 bilhões em estoque no mês passado.

O investimento vive em alta desde que foi lançado lá em 2021. Porém, como acontece em grande parte dos setores, depois de uma alta vem uma estabilização.

Dentro desse universo já mais estável, a tendência é de consolidação desse mercado. Gestores que atuam no segmento apostam que uma gestão do fundo que se aproxima mais do produtor que está na ponta financiada e uma expertise da gestora no universo agro podem fazer a diferença nesse mar de possibilidades.

Existem três tipos de Fiagros no mercado: O Fiagro-FII, que aloca em imóveis rurais, CRAs, LCAs ou CRIs focados no agro, o Fiagro FIDC, que investe em ativos financeiros e títulos de créditos que apliquem na cadeia, e o Fiagro-FIP, que adquire empresas do segmento.

O primeiro é o mais difundido no mercado, como explica o sócio da gestora Fator ORE, Álvaro Rezende. Esses fundos, que em sua maioria aplicam em CRAs, procuram oferecer uma distribuição mensal de dividendos aos cotistas, devem continuar a ser, segundo Rezende, os mais relevantes no mercado.

Isso, segundo ele, tende a trazer a chamada “gestão ativa” junto ao produtor, para trabalhar a liquidez dos ativos. “Esse modelo [dos Fiagros-FIIs] apresenta uma tese de arrendamento, onde o fundo busca uma renda e posteriormente uma venda. É uma tese relativamente nova, mas já consolidada no mercado”, explica o sócio.

Na Fator ORE, o fundo do segmento mais popular é o OIAG11, que conta com quase 7 mil cotistas e R$ 87 milhões sob gestão. O fundo é justamente do modelo imobiliário, e aloca principalmente em CRAs de coperativas, empresas do setor sucroenergético e de insumos.

Na opinião de Carolina Castilho, head de novos negócios imobiliário e agro da gestora Empírica, essa proximidade ao produtor pode se dar principalmente pelas tecnologias de monitoramento à distância e pela figura do chamado “assessor agro”.

Esse profissional é um “cara do campo” e que conhece o produtor, e ajuda o cliente a se organizar para acessar bancos e outros tipos de financiamento. “

Enquanto o assessor está no campo, à distância é possível realizar monitoramento de safras e colheitas por imagens de satélite. “A partir do momento em que a tecnologia permite monitoramento e uma visão do campo sem estar no campo de fato, você pode disseminar mais esse tipo de produto”, comenta.

A Empírica começou a se aventurar nesse mundo do agro em 2023, e prepara um Fiagro do tipo FIDC para ser lançado ao mercado nos próximos meses. A gestora, com 13 anos de mercado, é especializada em ativos imobiliários, e possui cerca de R$ 9 bilhões sob gestão espalhados em mais de 60 fundos até agora.

Na tese desse novo produto, Castilho explicou que a experiência da gestora em pulverização de ativos pode ser a tona do fundo, que irá ter na ponta dos tomadores, pequenos e médios produtores.

“Estamos falando de um produtor que gera cerca de R$ 10 milhões ao ano. É um produtor que já é bancarizado, mas precisa de mais recursos”, explica.

O Fiagro do tipo FIDC, por sua vez, possui menos liquidez, o que exige mais ainda esse monitoramento próximo do gestor no papel, na visão de Rezende, da Fator ORE.

“O agro está muito na moda. Vemos players, que não são historicamente do agro e não possuem uma equipe voltada para esse produto, criando fundos. É um mercado delicado e muito diferente do real estate. Acredito que o mercado vai consolidar participantes tradicionais do segmento”, finaliza Álvaro Rezende.