O mês de maio de 2023 foi um daqueles onde a emoção e a frustação caminharam de mãos dadas. Após uma inexplicável desistência para sediar a COP-Conferência das Partes em 2019, celebramos a escolha do Brasil pela ONU para a COP 30, que será realizada na cidade de Belém (PA) em 2025.

Os olhos do mundo estarão sobre nós. Essa COP terá importância significativa, pois será o lançamento da agenda Amazonia/Brasil +10, substituindo Paris+10, que aqui se encerrará com as suas promessas não cumpridas, seus importantes aprendizados e com muita ciência desenvolvida.

Isso coloca ainda mais pressão na agenda seguinte, que começa a ser construída desde já. Seria a reinserção definitiva do Brasil na agenda climática e seus benefícios tão esperados? Com certeza é essa a intenção.

“De onde não se espera nada, é de lá que não vem nada mesmo”. Esse ditado popular explica na raiz o outro lado desse mês de maio.

Às aprovações feitas pelo Congresso Nacional, entre outras que estão na lista futura para aprovação com anuência do governo seja por ausência ou mesmo displicência, somam-se a ações tomadas pelo governo federal que escancaram a formação de união especial no Brasil de 2023: uma extrema direita retrógrada, um centrão fisiológico e parte de uma esquerda ultrapassada, que ainda está por entender a nova conformação da geopolítica mundial e suas interfaces sobre produção, consumo e investimentos a partir de uma nova mentalidade global.

Como o mundo não espera o Brasil resolver em que século no passado pretende ancorar seus desejos futuros, nossos concorrentes se movimentam.

Nos Estados Unidos, o IRA – Inflation Reduction Act, de 2022, aporta US$ 250 bilhões para novos investimentos e “retrofit” em negócios já em operação.

Um dos pontos que me chamou atenção é a linha de crédito específica a “investimento tribal em projetos relacionados à energia, fornecendo empréstimos diretos ou garantias parciais de empréstimos a tribos reconhecidas pelo governo federal” (tradução literal), que pode chegar a US$ 20 bi. Sim, investimento em populações tradicionais em áreas indígenas.

Do outro lado do oceano Atlântico, o BEI – Banco Europeu de Investimento, braço financeiro da União Europeia abriu linha de crédito para o período de 2021/2030 no impressionante valor de US$1 trilhão em empréstimos para tecnologias e investimentos em negócios que mitiguem os efeitos das mudanças climáticas.

Se a somatória de seus mais recentes programas conhecidos, como “Farm to Fork” e o “EU Green Deal”, no curto prazo podem a meu ver provocar uma queda de produção de alimentos no velho continente, no médio e longo prazos essa política de investimentos verdes será gerador de novos produtos, insumos, modelos e tecnologias de produção revolucionárias.

Essas políticas de investimento, que também estão ocorrendo na China, Índia e outros cantos do mundo, confirmam uma mudança de rumos com uma certa perda de atenção ao SBN (Soluções Baseadas na Natureza) e dão mais e mais importância ao SBC (Soluções Baseadas na Ciência).

Voltando a pindorama, não deixa de ser impressionante ver que alguns acham que as ações do mês de maio foram uma pedrada na ministra Marina Silva e no Ministério do Meio Ambiente (MMA), “para colocá-los em seu lugar”.

Na verdade, foram apenas os primeiros dos tiros de escopeta nos pés do setor produtivo nacional e em sua capacidade de se inserir e competir no bruto mercado internacional.

O Brasil vai jogando fora sua importância inquestionável no SBN e, ao mesmo tempo, ficando longe de exercer qualquer papel minimamente significativo no SBC, onde em desenvolvimento tecnológico, científico e digital ainda estamos no século passado.

Da agenda Paris+10, jogamos oito anos no lixo, então nos resta uma importante janela de oportunidades que se fecha na COP 2025 no Brasil. Não deveríamos estar 100% focados?

A conjunção produção de alimentos casada com preservação ambiental, bravata dita por 10 em cada 10 políticos, se esvai em cada nova lei que descortina o arcabouço ambiental climático do País.

Da agenda Paris+10, jogamos oito anos no lixo, então nos resta uma importante janela de oportunidades que se fecha na COP 2025 no Brasil. Não deveríamos estar 100% focados?

Não enxergar os danos no médio e longo prazo é comprovar o total desconhecimento com o que ora ocorre no mundo. Em cada lei aprovada deveriam antes propor uma avaliação de como ela afetará os negócios do País no exterior e seus impactos locais sobre empregos, geração de impostos e renda, as chamadas “consequências inesperadas”.

Se dentro da porteira, uma elite de pequenos, médios e grandes produtores aplicam o que há de mais moderno na agricultura mundial, nos colocando entre os três maiores do mundo em importância na produção de commodities, naquilo que chamamos de agroindústria, que é onde se agrega valor na produção, estamos 100 anos atrás de países desenvolvidos.

Nossa chance de acelerar e diminuir essa diferença está na construção solida de um arcabouço AgroAmbiental para furar os bloqueios comerciais, mas que também dependem das tão esperadas reformas tributárias, política, administrativa etc., para reforçar nossa competitividade.

A COP 30 em 2025 deveria trazer esse Brasil para o debate, de forma urgente. Naturalmente, para esse diálogo cívico e republicano, clamamos para que a sociedade civil organizada, o setor privado e o público exerçam a inteligência, pois há muito mais que nos une que os poucos e desinteligentes pontos que nos separam.

Que venha a COP 30, que venha a agenda Brasil +10!

Marcello Brito é coordenador técnico do Centro Global Agroambiental e da Academia Global do Agronegócio da FDC-Fundação Dom Cabral, conselheiro de empresas privadas e ONGs.