A BlueBell Index, mais nova investida da Minerva Foods, espera fazer os US$ 2 milhões aportados pela gigante das proteínas aumentarem seus negócios em quase três vezes nos próximos anos.

A startup atua na conexão de produtores rurais ao mercado de ativos ambientais, através da tokenização desses ativos e sua posterior comercialização. Ou seja, transformam carbono sequestrado, florestas, água, solo e biodiversidade de uma propriedade em valores convertidos para uma moeda digital própria, a bluebell, e depois os comercializa para gerar renda para pecuaristas e agricultores.

Conforme o próprio CEO da startup, Phelipe Spielmann, explicou ao AgFeed, atualmente a empresa conta com 700 mil hectares sob gestão. Com o aporte da Minerva, a expectativa é bater os 3 milhões nos próximos anos.

Na opinião do executivo, a Minerva viu na startup uma possibilidade de gerar recursos aos produtores de sua cadeia de fornecimento e movimentar o mercado de créditos de carbono. O benefício adicional seria gerar compensações para se adequar a normas internacionais cada vez mais rígidas com o processo de originação de produtos agrícolas.

“Acredito que o setor de agricultura e pecuária no mundo está buscando rastreabilidade dos produtos, para evitar que a origem envolva áreas desmatadas e práticas ilegais”, afirma.

No dia 19 de abril passado, por exemplo, uma lei aprovada no Parlamento Europeu proibiu toda a importação, pelos países do bloco, de café, carne bovina, soja, óleo de palma, cacau, borracha, madeira, carvão e produtos derivados, incluindo couro, chocolate e móveis, se estiverem ligados, de alguma forma, a áreas de desmatamento.

“Os europeus só vão comprar produtos brasileiros se houver uma rastreabilidade que possa provar que isso não provocou desmatamento”, acrescenta.

Essa preocupação de quem compra lá fora está diretamente ligada ao modelo de negócio da Minerva, que é uma das maiores exportadoras de carne bovina do Brasil.

No primeiro trimestre deste ano, por exemplo, as exportações geraram uma receita bruta de R$ 4,3 bilhões, mais que o dobro da arrecadação interna. A União Europeia representou 8% das exportações feitas pela empresa.

No negócio da BlueBell Index, é feita uma ponte entre um produtor, que recebe uma quantia por uma área preservada dentro de sua propriedade, e uma empresa que deseja compensar suas emissões de carbono, que segundo o CEO, geralmente é uma empresa multinacional, como no caso da Minerva.

A BlueBell analisa a propriedade e gera uma quantidade de bluebells equivalente aos valores dos seus ativos ambientais. Cada token equivale a uma tonelada de CO2 e sua rastreabilidade é certificada por tecnologia blockchain. Assim, os compradores da moeda ambiental têm garantia da procedência dos ativos e dos produtos da propriedade que a emitiu..

“Fazemos uma análise completa da propriedade, desde o inventário florestal até a quantidade de carbono na área de matrícula do proprietário rural. Somos uma climatetech como razão final, mas, antes, somos uma environmental tech”, afirma Spielmann.

Do outro lado, segundo a própria Minerva Foods, em comunicado enviado à CVM na semana passada, o investimento na BlueBell Index tem como objetivo “complementar a estratégia da companhia por uma cadeia produtiva mais eficiente, sustentável e de baixa emissão de carbono”.

Esse tipo de investimento no mercado de carbono não é novidade para a Minerva. A companhia já possui a iniciativa do Programa Renove, em conjunto com sua subsidiária MyCarbon, adquirida em 2021.

O aporte na BlueBell foi feito pelo fundo de Corporate Venture Capital (CVC) da Minerva. Antes, esse mesmo fundo já havia feito aportes iniciais na Clara Foods, Shopper, Traive, Liv Up, além de uma joint venture com a Amyris.