A máxima, conhecida entre os agricultores, de “não se colocar todos os ovos na mesma cesta” é a marca do Grupo RAR, com sede em Vacaria, no Rio Grande do Sul. Legado alimentício do empresário Raul Randon, a empresa agora busca avançar também no varejo, enquanto prevê dobrar o faturamento do grupo nos próximos 10 anos.
Nos últimos 44 anos, A RAR se consolidou como produtora de maçãs, de queijo tipo grana, de vinhos e de azeite. O investimento mais recente é um canal de vendas próprio, com sistema de franquia. Após a morte de Randon em 2018, a segunda geração no comando da empresa manteve a estratégia do fundador, que ficou conhecido justamente pelo pioneirismo e empreendedorismo nos negócios.
O diretor superintendente da RAR, Sérgio Martins Barbosa, que é genro de Randon, conta que há dois anos surgiu a idéia de criar um canal de venda com todos os produtos da marca e também com os importados pela empresa, que somam um portfólio de mais de 450 itens, distribuídos em queijos e charcutaria, derivados de leite, massas, molhos, tempero, conservas e condimentos, azeites, doces, compotas e biscoitos, bebidas alcoólicas e não alcoólicas, frutas, pães e cafés.
Batizada de Spaccio RAR, a franquia de empório tem atualmente uma loja própria, em Vacaria, e cinco franqueadas – em Passo Fundo (RS), Porto Alegre (RS), Florianópolis (SC), Curitiba (PR) e São José dos Campos (SP).
“Resolvemos fazer isso para criar musculatura. Para não ficar dependendo só de uma coisa. Temos uma concorrência grande e precisávamos atender aos pequenos mercados, onde que a gente não conseguia chegar, por causa do custo logístico alto”, explica Barbosa.
“Nestes primeiros anos estamos aprendendo, corrigindo erros. Estamos num momento de aprendizado, de ajuste˜, destacou o empresário ao AgFeed.
Para chegar “mais longe”, os franqueados, além de terem o espaço para venda, degustação e bistrô, têm direito à distribuição dos produtos para pequenos mercados e restaurantes.
Os planos, afirma o diretor, é abrir mais 20 lojas nos próximos cinco anos, principalmente em grandes capitais, como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. A perspectiva da rede Sapaccio é ultrapassar R$ 15 milhões de faturamento até o final deste ano. “Nossa proposta de negócio aos empreendedores e investidores é de um empório gourmet de sucesso, com marca reconhecida, produtos diferenciados e sólida estrutura de suporte”, afirma Barbosa.
Hoje, a RAR fatura quase R$ 500 milhões por ano. “Queremos dobrar o faturamento nos próximos 10 anos”, prevê o diretor.
A marca RAR teve início com a produção de maçãs na região de Vacaria, na Serra Gaúcha, na década de 1970, época em que a fruta era predominantemente importada para o Brasil da Argentina. O negócio começou com o plantio de 50 hectares e a primeira colheita foi só depois de cinco anos.
“Antes desta colheita deu uma seca e uma chuva de granizo. Mesmo assim, com o que colheu seu Raul pagou os custos e ainda sobrou um pouco de dinheiro. Então ele disse: na pior da situação ganhei dinheiro. Então, daqui pra frente é céu de brigadeiro”, conta o genro.
E Randon estava certo. A empresa se consolidou como produtora de maçãs no país. Hoje, são 1.300 hectares plantados com pomares de maçãs – das variedades gala e Fuji.
A produção de 80 mil toneladas da fruta por ano é o carro-chefe da RAR, respondendo por mais de 55% do faturamento. Além de atender o mercado interno, a RAR exporta cerca de 20% da produção, para Índia, Singapura e Colômbia, e para alguns países da Europa. “Este ano, especialmente, a fruta está muito boa. O mercado está muito bom", avalia Barbosa.
Inquieto, paralelamente à produção de maçãs, o empresário decidiu investir em cavalos e comprou um haras em Vacaria. O negócio não rendeu como esperava, então desistiu três anos depois.
Mas a propriedade tinha um espaço com algumas vacas de leite. Daí surgiu um novo projeto: produção de queijo. Apesar da resistência inicial, já que Randon sabia a dificuldade deste mercado, um amigo italiano o convenceu a produzir um queijo diferente, tipo grana padano.
“Ele foi para a Itália, fechou negócio com Luigi Freschini, que até hoje nos presta assessoria, trouxe todo o know-how de produção”, conta Barbosa. Ele explica que para se produzir o queijo grana é preciso ter um leite de alta qualidade, que a empresa não tinha na época.
“Seu Raul foi para os Estados Unidos e comprou dois lotes de 70 novilhas, prenhas, e formou o plantel. Começamos a produzir em 1999 em torno de 4 a 5 formas de queijo por dia. Atualmente, produzimos 60 formas/dia, mas nossa capacidade é de até 100", informou o executivo.
A RAR produz o queijo tipo grana com o leite produzido em um plantel próprio. “Hoje somos o maior produtor individual de leite do Rio Grande do Sul. São 50 mil litros de leite/dia. Nos próximos dois anos vamos chegar a 70 mil litros/dia”, prevê o diretor.
Com esse leite, a empresa produz o queijo gran formaggio de 12 e de 18 meses de maturação e também o parmesão de seis meses. Assim como as maçãs, o queijo da marca também vai além das fronteiras brasileiras. “Exportamos para o Paraguai e, em breve, para o Chile. E estamos de olho na América Central”, afirma o diretor.
O queijo é o segundo maior faturamento da empresa. Segundo Barbosa, vem crescendo de 10% a 15% ao ano.
Depois das maçãs e dos queijos, em 2004 Raul Randon decidiu se arriscar no mercado de vinhos finos. Desta vez, o incentivo foi mais pessoal: queria uma bebida especial para comemorar suas bodas de ouro (50 anos de casamento) com dona Nilva.
Ele importou mudas de cabernet sauvignon e merlot. A princípio, a idéia era plantar em Caxias do Sul. “Só que o caseiro da propriedade resistiu à idéia justificando que não sabia lidar com uvas”, recorda Barbosa.
O empecilho não desanimou o empresário, que instalou os parreirais em Vacaria. Mal sabia ele que seria mais uma vez pioneiro do terroir Campos de Cima da Serra Gaúcha. Raul foi o primeiro produtor a plantar uva na região.
“Ele produziu o vinho cabernet sauvignon, que é o forte, tem 12 meses em barril de carvalho e 12% de teor alcoólico. Disso, começou a explorar outros vinhos. Hoje temos 31 variedades, 18 rótulos nossos e mais 13 de um espumante que a gente traz do Masi, uma vinícola italiana que tem sete gerações no vinho”, explica o diretor da RAR.
Mais recentemente, a empresa começou a produzir azeite de oliva, também com a produção própria da matéria-prima. “Começamos plantando meio hectare de oliveira, em Vacaria mesmo.
Depois de oito anos deu a primeira colheita de fato. Fizemos extração de extravirgem. Fomos para o Chile, fechamos parceria e aumentamos a área para 30 hectares. Hoje, estamos produzindo de 8 a 10 mil litros de azeite por ano”, calcula o diretor, completando: “Demos o nome ao azeite de Nossa Senhora das Oliveiras, que é a padroeira de Vacaria”.