O momento difícil para o crédito, causado por juros e inadimplência elevados, não impediu o Bradesco de bater seu recorde no volume de negócios na última edição da Agrishow, realizada em Ribeirão Preto na semana passada.

O banco privado atingiu R$ 3 bilhões em negócios para aquisição de máquinas e equipamentos agrícolas ao longo do evento. Só para se ter uma ideia, em 2022 a instituição havia movimentado R$ 1,5 bilhão.

Em entrevista ao AgFeed, o vice-presidente do Bradesco, José Ramos Rocha Neto, contou que o cenário do chamado agronegócio 4.0, que engloba a utilização de novas tecnologias no campo, foi um dos fatores a impulsionar o resultado no evento.

“Quando você possui máquinas que mensuram cada centímetro da terra e conseguem de forma automatizada antecipar reajustes na mesma, conseguimos acelerar os negócios”, diz.

Somado a isso, Rocha cita que a existência de novos tipos de financiamento para o setor também é um ingrediente importante na receita.

Além dos tradicionais CPRs e LCAs, uma modalidade que tem feito sucesso no Bradesco é o consórcio.

Na visão do vice-presidente, esse tipo de financiamento “protege” o cliente, que nesse caso é o produtor rural, do momento de alta de juros no país, já que a modalidade não possui taxa de juros, e sim uma taxa de administração fixa.

"Mesmo com juros elevados, temos tido criatividade na indústria”, afirma Rocha.

Dentre os grandes bancos privados brasileiros, o Bradesco é o que possui maior volume de crédito para o setor do agronegócio.

O executivo afirmou que a instituição já passou dos R$ 90 bilhões aplicados no segmento e espera encerrar o primeiro semestre de 2023 com mais de R$ 100 bilhões.

Segundo informações do balanço financeiro da instituição do primeiro trimestre deste ano, a carteira de crédito total expandida possui R$ 879,3 bilhões, volume 5,4% maior que no mesmo período em 2022.

A carteira focada no agro, inclusive, consegue passar longe de um grande problema que os bancos têm enfrentado: o crescimento da inadimplência.

No balanço, os valores reservados ao PDD (Provisão para Devedores Duvidosos), reserva de capital da instituição para casos de calote, ficaram em R$ 9,5 bilhões, valor quase duas vezes maior que o visto no primeiro trimestre de 2022, mas já apontando uma queda de 36% na comparação com o quarto trimestre do ano passado.

Rocham Neto, vice-presidente do Brdesco

Sem entrar em números, o vice-presidente do Bradesco informou que a taxa de inadimplência da carteira de agronegócio é a menor da instituição. Segundo Rocha, isso se deve por uma “boa relação entre o banco e seus parceiros do segmento”.

Essa boa relação deve continuar em um projeto piloto de um marketplace, que será lançado pelo banco, o E-Agro. O executivo revelou que o projeto, ainda em momento de teste mas já apresentado na Agrishow, irá juntar todas as partes da cadeia produtiva e somar os principais parceiros do Bradesco dos segmentos de insumos e de máquinas para junto do produtor.

“Teremos pela primeira vez no mercado um marketplace onde o produtor entra, escolhe o produto que deseja comprar e, na hora de selecionar o pagamento, tem a opção de buscar uma linha de financiamento do próprio Bradesco. Tudo é aprovado lá, de forma digital, sem que o produtor precise pisar numa agência física”.