Um levantamento recente do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Esalq-USP (CEPEA), em parceria com a Confederação Nacional da Agropecuária (CNA) aponta que o agronegócio brasileiro foi responsável por 24,8% do PIB do País, com superávit da balança comercial de U$ 142 bilhões (fonte: Secex/MDIC).
Hoje nós temos por volta de 90 a 100 milhões de hectares que podem ser melhor aproveitados, segundo o MapBiomas e a Fundação Getúlio Vargas (FGV). Isso sem derrubar nenhuma árvore, diga-se de passagem, em um clima tropical que favorece de duas até três safras por ano e com tecnologia de ponta em nível mundial.
Que o setor é pujante, um dos mais sustentáveis do planeta e com grande potencial de crescimento, não é – ou pelo menos não deveria ser – novidade para a maioria.
Saímos de uma produtividade média de 20 sacas/hectare de soja na década de 1970 para 60 sacas/hectare atualmente, um ganho de 200%
Então o que nos falta para crescermos de maneira mais rápida e aproveitar melhor todas as oportunidades? Na minha percepção, entre outros fatores, educação aplicada e continuada ao mercado. Nas próximas linhas, explico melhor o por quê.
Quando olhamos o avanço do agronegócio ao longo das últimas décadas, temos muito a nos orgulhar. Saímos por exemplo de uma produtividade média de 20 sacas/hectare de soja na década de 1970 para 60 sacas/hectare atualmente, um ganho de 200%.
A realidade do produtor e a tecnologia empregada no campo evoluíram na mesma medida, trazendo uma demanda por competências e habilidades que, na década de 1970, não eram requisitos quando olhamos para a formação do profissional agro.
Há 50 anos a informação era restrita a poucos. O foco limitado em conhecimento técnico era visto como diferencial competitivo aos que o tinham.
No mundo atual, globalizado e conectado, as informações chegam a todos de maneira mais uniforme e a base técnica continua sendo imprescindível.
Porém, não é o suficiente na nova realidade. O cenário atual demanda novas dinâmicas de formação, habilidades e competências a este profissional para que se diferencie e colabore para produzirmos mais no campo.
Quantidade não é Qualidade
Quando olhamos para a quantidade de instituições de ensino que formam engenheiros agrônomos por exemplo, temos mais de 300, ofertando impressionantes 93.000 vagas/ano, segundo o Relatório de Consulta Avançada do Ministério da Educação.
Porém, como quantidade não se reflete em qualidade, o que se vê em nível de mercado são poucos profissionais realmente preparados e capacitados para essa nova dinâmica e uma disputa grande entre empresas por esses profissionais escassos.
E o que exatamente as corporações e o mercado agro estão buscando?
Invariavelmente em menor ou maior grau - dependendo do tamanho, subsegmento, estrutura da corporação no agronegócio – as demandas são:
• Competências de negócios
Aqui englobamos negociação, capacidade analítica, senso crítico, olhar digital, capacidade de lidar com ambiguidades, com novas tecnologias, e de usar dados para gerar informações e insights valiosos ao negócio.
• Habilidades sociocomportamentais (Soft skills)
Em geral são amplamente comentadas como exemplos: empatia, escuta ativa, trabalho em grupo, liderança, oratória, persuasão e comunicação.
Claro, não se espera que o profissional saia completo do sistema de ensino tradicional. Mas a falta de contato com o mínimo destes pontos – e outros não citados – tem se mostrado um problema latente, que reduz a curva de crescimento do agronegócio direta e indiretamente, pois profissionais sem essas aptidões não conseguem tomar as melhores decisões para seus clientes e negócios.
Outra questão que tangencia esta é a mentalidade de muitos profissionais já atuantes no mercado (de todos os níveis e cargos).
Como as informações têm ficado obsoletas em prazos cada vez mais curtos – mundo globalizado, conectado -, a necessidade de atualização e estudo continuado se torna obrigatória para se manter relevante, algo que é infelizmente pouco buscado.
Como solução, algumas notícias me animam, além da Cumbre – empresa que fundei e que tem o objetivo de trazer competências de mercado e negócios a profissionais do setor.
Recentemente li uma notícia do lançamento da Harven Business School, uma universidade, hub e escola de negócios que será 100% dedicada a formar profissionais preparados para o agronegócio, conectando agentes do agro e estudantes. Os fundadores vão investir mais de R$100 milhões nesta proposta ao longo dos próximos anos.
Não preciso dizer o quanto isto valida o problema que mencionei e a proposta da Cumbre.
Acredito que educação é uma das ferramentas mais poderosas de transformação de ambientes, pessoas e países.
No Brasil que é agro, é tech, para ser tudo que realmente pode e merece ser, é preciso investir mais em educação aplicada e continuada ao mercado.
Felipe Treitinger é engenheiro agrônomo , CEO e Fundador da Cumbre, empresa de treinamentos e capacitações para profissionais do agronegócio.