Os números do Censo do IBGE, divulgados nesta semana, mostram que o desenvolvimento e as oportunidades nas chamadas “agrocapitais” atraíram um intenso fluxo migratório na última década.

Os primeiros dados levantados em 2022 e divulgados pelo instituto apontam que o crescimento da população nas cidades que registram os maiores volumes de produção agrícola ficou bem acima do índice registrado no país como um todo, que, na média, ficou em 6,5%, elevando o número de brasileiros a 203 milhões.

Sorriso, em Mato Grosso, é um exemplo claro dessa tendência. Já apontada em análise do Ministério da Agricultura como a cidade mais rica do agronegócio brasileiro, teve um acréscimo populacional de 66,73% de 2010 para 2022. Atualmente, o município possui pouco mais de 110 mil habitantes.

Também no Mato Grosso, o município de Querência está entre os 10 campeões em crescimento em todo o país no período. O aumento chegou a 105%, passando de 13 mil moradores, conforme o Censo de 2010, para 26 mil.

Os dados econômicos demonstram que muitos desses novos moradores chegaram por conta do desenvolvimento proporcionado pelo agro. Querência é o oitavo maior produtor de soja do país e viu cerca de 3,4 mil novos empreendimentos se instalarem no local ao longo desse intervalo entre as pesquisas.

Já Sinop, também em Mato Grosso, viu sua população crescer 73% no mesmo período, enquanto Lucas do Rio Verde avançou ainda mais, 83%. As duas cidades também estão entre as 10 maiores produtoras de grãos do País.

O estado do Mato Grosso, inclusive, passou da 19ª para a 16ª posição no ranking dos estados mais populosos, com um crescimento três vezes maior que a média nacional. Atualmente, cerca de 3,6 milhões de pessoas vivem lá.

Na avaliação da superintendente do IBGE em Mato Grosso, Millane da Silva, isso demonstra o dinamismo econômico do estado. “Nesses 10 anos muita coisa se modificou, com a agricultura tecnificada se especializando cada vez mais”, comentou.

Ela explicou que junto com a agricultura, que gera empregos por si só, as cidades geram uma demanda por outras áreas como o setor de serviços, manutenção de máquinas e comércio, por exemplo.

“A população da região cresceu 20,5% enquanto o número de domicílios subiu quase 50%. Houve construção civil, atividade imobiliária, e tudo isso atrai a população”, acrescentou.

Na região de fronteira agrícola conhecida como Matopiba (que engloba áreas de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) não foi diferente. O destaque ficou com Luís Eduardo Magalhães, no oeste da Bahia, onde houve crescimento populacional de 79%.

Esse aumento populacional é acompanhado também por um crescimento na produção do agronegócio brasileiro.

Segundo dados da Conab, a produção total de grãos no Brasil na safra 2009/2010 foi de 162 milhões de toneladas, enquanto que o estimado para a safra 2022/2023 é de 312 milhões, um número 92,5% maior. Só a produção de soja saltou 129% nesse intervalo.

Outra pesquisa do IBGE divulgada nesta semana, a Pesquisa Anual da Indústria, corrobora essa tendência. O estudo mostrou que, no Brasil, os maiores índices de crescimento do segmento foram vistos nas regiões Centro-Oeste e Norte.

No Centro-Oeste, isso se deve sobretudo à contribuição de Mato Grosso do Sul e de Mato Grosso na avaliação da superintendente Milane da Silva.

“As atividades agrícolas vão se verticalizando, e trazem a agroindústria para a região, principalmente no eixo da BR-163, onde vemos usinas de etanol, por exemplo”, explicou.

Ainda no top 10 das cidades brasileiras que mais viram a população crescer, existem duas cidades do estado de Goiás - Abadia de Goiás e Goianira. A primeira teve um crescimento de 177% na população, o que trouxe o segundo maior crescimento do Brasil nesse censo.

Além disso, a cidade teve um aumento de quase 200% nos domicílios, sendo a primeira do Brasil que mais ganhou casas. A região é conhecida pelo cultivo de milho e de soja.