O Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio cresceu 4,48% no quarto trimestre de 2024 e salvou o desempenho anual do setor, que fechou em alta de 1,81%.

Os dados são da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP) e foram divulgados nesta quarta-feira, 9 de abril.

A soma de todas as riquezas dentro e fora de porteira encerrou o ano passado em R$ 2,72 trilhões em 2024, com R$ 1,9 trilhão no ramo agrícola e R$ 819,26 bilhões no ramo pecuário.

Com isso, a participação do agronegócio na economia brasileira no período foi de 23,2%.

A alta de 1,8% no PIB do agronegócio em 2024 está próxima à previsão de dezembro da CNA, que sinalizava crescimento de 2% e apontava a recuperação da agricultura no último trimestre como o principal fator.

Nos segmentos analisados, o de insumos avançou 3,17%, o primário saltou 4,33%, o das agroindústrias, 3,72%, e dos agrosserviços 5,16% no último trimestre de 2024 sobre o trimestre anterior.

“Esse desempenho positivo ao longo do trimestre foi impulsionado pela elevação do valor bruto da produção, fator que esteve relacionado ao aumento dos preços reais no período”, informou o Cepea/Esalq/USP em relatório.

No ano, a agroindústria e os agrosserviços se salvaram, com altas de 2,94% e 3,25%, respectivamente.

Segundo o relatório da CNA e do Cepea/Esalq/USP, o avanço no PIB tanto na agroindústria, para R$ 651,79 bilhões, como em agrosserviços, para R$ 1,2 trilhão, foi, principalmente, puxado pelo expressivo avanço da pecuária.

“O aumento do PIB da indústria e dos serviços para pecuária foi resultado da combinação entre a expansão da produção e a elevação dos preços reais ao longo do ano”, aponta o estudo.

“O recuo (agrícola) foi especialmente impactado pela queda nos preços reais, afetando especialmente as indústrias de biocombustíveis, óleos vegetais e têxteis de base natural”.

Já o segmento de insumos recuou 4,65% e o PIB do setor primário caiu 0,16%. No caso dos insumos agrícolas, a queda ocorreu pelo desempenho das indústrias de fertilizantes, defensivos e máquinas agrícolas, que enfrentaram pressões de preços e redução na produção.

“Em contrapartida, o crescimento dos insumos pecuários foi impulsionado pelo avanço da indústria de medicamentos veterinários, refletindo a maior produção ao longo do ano”, destacou o Cepea/Esalq/USP.

Ano de ouro

A pecuária teve um ano de ouro, seguiu aquecida no último trimestre de 2024 e praticamente segurou sozinha o desempenho positivo do agronegócio brasileiro.

O segmento de insumos avançou menos, apenas 1,23%, mas o crescimento foi expressivo no primário, de 6,55%, e chegou a 16,78% na indústria e 16,79% nos serviços da cadeia.

No segmento primário da pecuária, considerando a média das atividades acompanhadas, o valor bruto da produção anual cresceu 6,17% em 2024.

Os preços médios foram 2,24% inferiores aos de 2023, pressionados sobretudo pela bovinocultura de corte e pelos ovos, mas a produção pecuária e de ovos avançou 8,61%.

Na indústria de abate e preparação de carnes e pescados, o valor bruto da produção cresceu 11,14% em 2024, impulsionado pelo aumento de 10,33% na produção anual e pela alta real de 0,92% nos preços em relação à média de 2023.

Agrícola

Como esperado, o ramo agrícola registrou crescimento de 2,02% no último trimestre de 2024, com altas generalizadas também nas cadeias que o compõem: o segmento de insumos cresceu 4,73% entre outubro e dezembro, a agricultura primária avançou 0,93% enquanto agroindústria e agrosserviços tiveram altas de 2,03% e 2,33%, respectivamente.

No entanto, o PIB anual do ramo agrícola do agronegócio fechou em queda de 2,19%, principalmente pelas baixas de 6,97% em insumos, puxado pelos preços mais baixos, e de 3,54% no setor primário.

No setor primário agrícola, o destaque positivo foi para cacau, café e laranja, com a disparada nos valores brutos de produção, impulsionados pelas altas dessas commodities nos mercados internacionais. No cacau, a alta foi de 171,55% em 2024, no café foi de 37,36% e na laranja de 36,14%.

No entanto, as principais culturas do país - soja, milho e cana-de-açúcar - tiveram resultados negativos com quedas de, respectivamente, 16,78%, 16,75% e 9,93% no valor bruto de produção, o pressionou o resultado do setor primário e, consequentemente, do PIB agrícola no ano passado.

Nicole Rennó, pesquisadora do Cepea/Esalq/USP e uma das responsáveis pelo levantamento, ratificou que os resultados de 2024 foram puxados pelo excelente desempenho da pecuária, principalmente de volume por parte dos pecuaristas e pela indústria de abate.

“Na agricultura, o principal efeito negativo foi a quebra de safra, aliado à desvalorização de preços para os dois grandes direcionadores, que são milho e soja. No último trimestre, a recuperação já vinha sendo esperada no movimento de preços tanto dentro da porteira, como dentro da indústria”, disse.

Nicole considera muito difícil fazer estimativa para 2025 e lembra que a perspectiva inicial era que o PIB deveria crescer 5% este ano, puxado pela maior produção e os reflexos na agroindústria nos agrosserviços.

“É certo que o PIB vai crescer, possivelmente maior que em 2024, mas vários efeitos podem influenciar e análise atual ainda é muito superficial”, concluiu.