Com 86 anos de história, a cooperativa de laticínios SanCor, uma das mais tradicionais da Argentina, apelou a um processo de recuperação judicial na última tentativa de evitar o fechamento e a falência.

Foi essa jogada jurídica que evitou, nesta sexta-feira, 28 de fevereiro, um leilão de quase meia tonelada de queijo por parte do IIG Structured Trade Finance Fund Ltd.

O fundo de investimento tinha o produto como garantia real da cooperativa e anunciou o leilão de 436.922 quilos em um valor estimado de US$ 1 milhão para retomar parte da dívida.

No entanto, o juiz Guillermo Adrián Vales, da Vara Cível e Comercial do município de Rafaela, na província de Santa Fé, ordenou o cancelamento do leilão.

Vales é o responsável pelo processo de RJ da SanCor, iniciado há duas semanas para tentar renegociar uma dívida estimada em US$ 400 milhões. Ele informou que entre as medidas anunciadas à época estava o veto a qualquer ação judicial após 3 de fevereiro contra a empresa que beneficiasse algum credor.

Entre outras medidas anunciadas pelo magistrado estão a constituição de um gabinete para acompanhar o processo e prazos até 29 de maio para apresentação de pedidos de verificação de crédito e de 1º de julho para eventuais impugnações. Além disso, um comitê de credores foi criado.

Segundo a decisão do juiz para acatar a recuperação judicial, “foi objetivamente comprovado que a cooperativa não tem condições de cumprir com as obrigações que lhe foram exigidas pelos seus credores” e que uma solução em conjunto com os credores seria buscada para evitar a falência da SanCor.

“O objetivo principal do julgamento é proteger os interesses dos credores e manter a operação da empresa, o que ajudará a preservar as fontes de trabalho”, relatou.

Não foi a primeira vez que o IIG Structured Trade Finance Fund Ltd. tentou leiloar produtos da SanCor para reaver seus créditos. Em julho de 2024, o fundo tentou vender 700 mil quilos de queijo avaliados em US$ 5 milhões, mas recuou após um acordo com a cooperativa.

História e drama

Enquanto isso, a crise na SanCor parece não ter fim. Nascida em 1938 a partir da união de 16 cooperativas das províncias de Santa Fé e Córdoba, de onde surgiu o nome, a companhia já teve 14 unidades industriais e um processamento de 3 milhões de litros de leite por dia.

Hoje são seis unidades e apenas 200 mil litros de leite processados diariamente. Segundo a informações da companhia, a Sancor tem 50 cooperativas e 294 produtores associados.

Além de queijos e da bebida longa vida, em pó e saborizada, a linha de produtos é completada por creme de leite, doce de leite e manteiga.

Em janeiro deste ano, a SanCor demitiu 500 dos 1,3 mil funcionários. Em comunicado reproduzido pelo jornal Clarín, a SanCor informou atravessar uma profunda crise desde 2017 e que iniciou o processo de reestruturação em etapas distintas

O plano incluiu o fechamento e a venda de unidades produtivas, comerciais e administrativas. Essas medidas permitiram uma “paulatina estabilização” da situação enfrentada pela companhia.

Posteriormente, informou a SanCor, negociações com um grupo empresarial para uma parceria, mas as iniciativa não prosperou, ponto crítico que culminou na recuperação judicial.